Entre e fique à vontade! Este é o cantinho da casa onde esperamos receber com muita alegria alguns novos valores que, como todos os nossos confrades, dedicam-se ao ameno deleite de escrever literatura não-científica em prosa e verso. Convide e indique seus amigos médicos e escritores para juntar-se a nós.
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Rostos vazios
“De sua formosura deixai-me que diga: é uma
criança pálida, é uma criança franzina mas tem a marca de homem, marca de humana oficina.”
João
Cabral de Melo Neto
O Boeing da Emirates Airlines
taxia na pista do Aeroporto Charles de Gaulle, nesta manhã de abril de 2017.
Francesco desaperta o cinto, apanha a mochila sob o banco e se prepara para o
desembarque. Paris é a conexão para o Iêmen.
Passadas três horas, vamos encontrá-lo dentro
de igual aeronave, indo para Saana. Enquanto reclina a cabeça na poltrona, relê
a carta do Coordenador Geral da Organização Médicos Sem Fronteiras no Brasil,
na qual ressalta que Medicina Interna foi a primeira especialidade de Firenze,
antes de fazer o curso de Médico- Legista e o apresenta para o trabalho médico
no devastado país. Como a experiência no Quênia foi de aprendizado ele, de
novo, nos MSF, vai estender as mãos a
quem delas necessita. Da capital até a cidade onde atuará, Ibb, são duzentos e
quarenta e oito quilômetros, ou seja, cinco horas por estradas poeirentas, sinuosas e cheias de perigos.
O jipe, com o logotipo do homem de braços
abertos dos MSF, o espera à frente do aeroporto e logo parte para o sudoeste do
Iêmen, levando um médico cheio de ideais.
Longe dali, Fatima, numa aldeia distante do
Centro de Tratamento de Cólera, mantido pelos Médicos Sem Fronteiras em Ibb,
atinge o máximo de dias de espera a que se impôs para ver se o filho, o pequeno
Ishaq, de dezoito meses de vida, melhore. Ele está passando mal e, por não ter
dinheiro para a viagem e sem que nenhum vizinho o tenha também, consegue afinal
com um parente a quantia para se deslocar. Vai caminhando até o ponto de onde
sai um precário ônibus. Passa por escombros, lixo amontoado e calçadas sujas
até que toma lugar no coletivo. Os olhos fundos de Ishaq, sem brilho, fitam o
nada.
Francesco,
no jipe que vai engolindo a rodovia sob as rodas, abre o manual da Organização
Mundial da Saúde e se atualiza sobre cólera, a epidemia da doença que este mês
se alastrou por todo Iêmen. Recorda o professor da cadeira de Doenças
Infecciosas e Parasitárias citando, de passagem, que a bactéria responsável por
diarréia, vômitos, desidratação e morte tem o nome de Vibrio cholerae e se transmite por água
contaminada. O outro manual que tem em mãos é dos MSF, e fica sabendo, ao
abrir-lhe as páginas, que no país em ruínas, quinze milhões de pessoas sem
acesso à água potável e saneamento. Fica compadecido ao ler que os médicos dos
MSF se referem aos pacientes, principalmente às crianças, serem portadores da
doença dos rostos vazios, pois os olhos, profundos, perdem o viço.
Depois de vencer quilômetros em sobressaltos
de estrada esburacada, por fim, Fatima e o menino chegam ao Centro. No pátio,
que fica atrás do posto de saúde, adultos recebem soro dentro de automóveis.
Ela passa por eles, com o pequeno Ishaq nos braços e percorre corredores onde
crianças dividem os espaços de macas que se espalham. Ishaq é avaliado e logo
fica, com os soros fisiológico e
glicosado caindo em gotas pela veia do pescoço,
em um leito improvisado, pois está em desnutrição aguda. Fatima senta-se
ao lado, a orar.
O motor da
viatura dos MSF é desligado diante do alojamento, não muito longe do
local onde Francesco passará, nos próximos três meses, a maior parte do tempo.
Ele entra, coloca sobre a cama escolhida
a mochila e sai em direção ao Centro de
Tratamento de Cólera. Não sabe o que lhe espera. Com firmeza nos passos
ultrapassa a porta principal. Um quadro dantesco vem de encontro à visão:
crianças, na maioria, com aquele olhar que lembra a morte a se mirar no
espelho, ficam só à espera do vazio, como seus rostos. Num relance, observa
que, à medida que um morre, são trocados os lençóis e um ser pequenino está de
novo, após uns minutos , no lugar do recém desocupado.
Cabe a Francesco cuidar de Ishac, que chegou,
como ele, há pouco. Um ser tão frágil,
com bracinhos que parecem que vão se quebrar ao exame e um olhar sem ver, a
pedir ajuda. Francesco toca na pele seca e enrugada do garoto que esboça um
quase sorriso, um leve movimento de lábios. Pressiona de leve o ombro de
Fatima, como a encorajá-la, e vai ver a pasta de Ishaq. Senta-se ao arremedo de
mesa e prescreve sulfa e um suplemento de zinco, bem como reitera a administração dos soros
endovenosos, para reidratação e equilíbrio dos elementos perdidos.
Mal raia o sol, Francesco corre para o Centro
para ver Ishaq. O menino parece outro: a pele começa a se distender, os olhos
menos encovados a fitá-lo e o sorriso, antes apenas ensaiado, agora é como a
Estrela D´alva, a iluminar a manhã de um
novo dia...
Livros de Roberto Lúcio
contato: lucio.feliciate@gmail.com
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Décimo dia do segundo mês do quinto ano
Do alto, pela janela, os rios
serpenteiam minguantes. Entre as serras, repletas de cobertura verde-escura –
ainda restante. Entremeada por descampados de verde-limão. Com alguns pontinhos
marrons, de etiologias antrópicas.
Altura que embeleza, outrossim
também me assusta. Não relaxo e nem aquieto enquanto não estiver com os pés no
chão.
É de se imaginar, por curiosidade
– apesar de tanta distância –, o que fazem lá embaixo. Em suas casinhas e
ruazinhas diminutas. Enquanto aqui de cima bocejo, leio e escrevo.
Paro de reparar a superfície
terrena por obstrução dos imensos aglomerados branco-algodonosos. Não em minha
retina, mas sim os dispersos na imensidão do céu. Fico atônito admirando como essas
cumulonimbus se transformam em
extensas coberturas cinzentas produtoras de trovões.
Meus olhos doem e cerram diante
da luminosidade do céu brasileiro. Azul-anil gostoso de enxergar, cheio de
belas nuvens que mais parecem um parque de diversões à mente pueril e
sonhadora, bastante imaginativa.
Ah, Santos Dumont, que vontade de
saber voar!
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A linha cruzada
Após um cansativo dia de trabalho
na loja de tecidos e um metrô superlotado a caminho do bairro de Vila Madalena
tudo que Jandira desejava era uma boa ducha, comer alguma coisa e cair na cama.
Hoje fora
um daqueles dias de muita exposição e pouca venda e talvez por isso o abatimento
manifesto na face adornada por cabelos tingidos de loiro.
Chegando
em casa notou que a lâmpada fluorescente do corredor do seu andar piscava
incessantemente, sem conserto desde a semana anterior. Pensando alto disse que
era um absurdo pagar tão caro por uma taxa de condomínio e nem a lâmpada era
trocada.
Após um
banho, decidiu comer alguma coisa antes de dormir e que uma pizza cairia bem.
Apanhou o telefone e discou para um restaurante.
- Alô!
Vocês fazem entrega de pizza?
- Eu
posso lhe entregar coisas mais interessantes que uma pizza, respondeu a
voz do outro lado. Alguém decidiu passar-lhe um trote imaginou.
A voz
rouca e grave fez Jandira tremer de susto. Achou que era a janela ainda
aberta e ela de roupão a causa do arrepio que lhe tomou todo o corpo.
Pensou em retrucar, mas a voz sussurrava ao seu ouvido e Jandira teve tão
somente a reação de dizer que queria uma pizza de sabor calabresa.
- Oferto-lhe todos os sabores que quiser.
Chocolate, morango, chantilly. Faço-lhe todas as vontades e fantasias.
Jandira
tentava desvencilhar-se daquela curiosa conversa, mas as coisas ditas pela voz
do outro lado do telefone começaram a apimentar a sua imaginação. Suas pernas
aos poucos ficaram meio bambas até fazê-la cair no sofá da sala e o mundo
foi rodando, rodando e a voz foi sumindo, sumindo.
O som da
televisão despertou-a daquele transe em que se encontrara. Tinha se passado
mais de uma hora desde que ela se percebeu descendo o corpo, caindo no sofá. Os
cabelos já estavam secos, um tanto revoltos e o roupão de banho amarrotado ao
lado denunciava um tempo que a consciência não tinha retratado desde aquele
telefonema.
Exausta,
recostou a cabeça no braço do sofá, estilo retrô, e foi adormecendo
suavemente. Tinha na boca um gosto de pizza cujo sabor era, para ela naquela
hora, indescritível.
Acordou
com o despertador do telefone celular e meia hora depois já estava dentro do
ônibus para o trabalho. A mente vagava lentamente com o que ela atribuiu ser um
sonho que não conseguia entender.
Os dias
se passaram iguais a tantos outros a que Jandira estava acostumada, com a
rotina do casa para o trabalho e dai para casa. No fim de semana porém uma
amiga do trabalho a convidou para comer um pastel numa dada pizzaria no bairro
do Brás. Lá chegando sentaram-se à mesa e logo um rapaz veio atendê-las. Na
face ostentava um sorriso afável e propôs servir-lhes uma pizza que estava
no forno à lenha naquele instante o que foi aceita sem reservas.
Mais
tarde, porém Jandira queixou-se a amiga de um leve mal-estar tipo enjoo e
sensação de tontura passageira e foi aconselhada a cuidar da saúde.
Inexplicavelmente
Jandira não voltou ao trabalho nos dias seguintes. Uma semana depois a amiga
recebe um telefonema;
- Amiga, estou lhe convidando para meu chá de bebê!
- Chá de bebê? Como assim Jandira? Como assim
grávida?
- Estou grávida de um mês amiga.
- Mas, e o pai? Quem é o pai?
- Humm! Não sei. Serve um pizzaiolo do Brás?
A amiga
sentou-se na cadeira próxima. O telefone aos poucos lhe caiu das mãos. Do outro
lado da linha não se ouvia mais a voz de Jandira. Ouvia-se a voz de alguém que
lhe oferecia algo mais que uma pizza de sabor calabresa.
Quando dormes
Grande
amor, não murmures
Tenho
dado aos meus pés
Certos
solos que não sabes
Quando
dormes, grande amor,
É que
corro descalço
Sobre
pedras pequenas
Velhos
galhos quebrados
Um
asfalto que me queima
Não te turbes!
Há
virtudes que meus olhos
Ainda
não desvendaram
Enquanto
faço vigílias intermináveis
Nos teus
intermináveis sonos,
Não
reclames, amor grande
Por
andar distante e preocupado
Tenho
andado distante e ocupado
Com uma
palavra que nos salve
__________________________________________A impermanência de tudo
Não pensamos muito
nisso. Na impermanência de tudo. Em como tudo muda o tempo todo. Em como as
mudanças acontecem às vezes de forma inesperada
e nos atropela como se fosse um trem, passando por cima sem dó nem piedade. Mas
às vezes nos levando rumo a felicidade, mudando nossa vida de maneira
maravilhosa. Fato é que as mudanças às vezes são precedidas de uma
insatisfação. Às vezes nossa existência parece perfeita, tudo como tem que ser,
e chega a morte e nos leva alguém querido, que amamos, e não conseguimos
imaginar nossa existência sem aquela pessoa.
Quanto
à morte nada pode ser feito, ou então nos apaixonamos perdidamente por alguém
que vai transformar nossa vida completamente, ou mudamos de cidade, de país. A
chegada de um filho, o fim de um relacionamento, um novo emprego... A vida é
feita de mudanças, e aquele que não entende isso sofre mais do que aquele que
entende que tudo é impermanente. A felicidade e a infelicidade também. Nada
dura para sempre da mesma maneira. Só assim para haver evolução. O crescimento
interno acontece na medida em que aproveitamos nossas experiências. Temos que
ser meio camaleônicos e nos adaptar, ou então, mudar tudo de novo e nos
rebelar. Ninguém consegue ficar parado. Mesmo quando fingimos não ver as
mudanças chegando ou pedindo passagem, o universo se encarrega de nos fazer
enxergar, e de nos fazer agir. Não conseguimos deter a nossa evolução, apenas
retardá-la. Quando não deixamos fluir, levamos um susto do universo, que nos
faz tomar uma posição e nos faz sair da estagnação.
Estamos sempre nos reinventando. Encerrando ciclos,
começando novos ciclos. É importante compreendermos que as mudanças são
necessárias, que a impermanência faz parte da nossa existência. Situações
desagradáveis não irão durar para sempre e vice versa. Temos o momento
presente. Cultivar o desapego faz parte
desse crescimento. Situações e pessoas
são importantes, mas tudo vem e vai. Quando aceitamos o desapego e a
impermanência, nos encaminhamos para conseguir a paz tão almejada segundo os
budistas. Desenvolvemos-nos através da impermanência. Passamos pela infância,
adolescência fase adulta e nos tornamos velhos. As estações mudam. Não temos
verão para sempre, nem inverno para sempre, não somos os mesmos sempre, nos
recriamos e nos adaptamos, nos renovamos, e isso faz parte do ciclo da vida. Etapas se findam para que novas comecem.
Ciclos, a vida é feita disso. Encontros, pessoas que
fazem parte da nossa história em algum momento, situações que vivenciamos e
experimentamos, boas ou más, para o bem
ou para o mal, em algum momento irão fazer parte da nossa existência, nos
ajudaram a evoluir, nos transformarão, outras vão nos completar e preencher a
nossa existência e não iremos querer que aquilo passe. Mas passa. Superamos e
nos transformamos, porque somos assim, impermanentes. Nossas crenças que
pareciam ser para sempre, mudam. Estamos sempre nos adaptando, mudando a
direção. Devemos encarar essas mudanças como novas oportunidades, como algo
natural que faz parte da nossa existência. Virar a página para algumas
circunstâncias , situações e pessoas não significa que fomos derrotados, isso é
o que parece num primeiro momento, e existe uma inutilidade nesse sentimento
que não nos leva a lugar nenhum. Perceber o quanto somos capazes de nos
reerguer, de aprender, e de nos reconstruirmos e recriar nossa existência,
nossa vida. Basta ter um novo olhar, sermos menos críticos e mais amorosos com
a gente. Para alguns é mais difícil que
para outros. Tem pessoas que se comprazem na dor, acostumados que estão a ela.
Tem gente que não aceita que nada dura para sempre, e que encara as mudanças
como castigo. Nossa vida é passageira, nós também somos, e, fazendo um
trocadilho com a palavra passageiros...somos passageiros porque nossa existência
é breve, somos passageiros como viajantes dessa nave que se chama planeta
terra, então vamos tirar o máximo proveito dessa aventura humana. Nossa alma
está aqui ocupando um corpo justamente para progredir e aprender. É na
impermanência das coisas que eu tenho oportunidade de crescer. Não há nada que não mude o tempo todo. Hoje
podemos estar apaixonados por alguém e não imaginarmos nossa vida sem essa
pessoa, amanhã podemos nem querer ver mais...
Nossos pensamentos mudam a todo instante, nosso humor,
nossas emoções, momentos felizes, momentos de dor. Como lidar com essa
impermanência toda? Entendendo que não temos controle sobre nada. Não queremos
morrer, mas vai acontecer um dia. Não temos controle, apenas a falsa sensação
de que estamos no controle de tudo. O quanto antes aceitarmos que tudo pode
mudar em questão de segundos, mais felizes seremos, sofreremos menos.
Evitaremos conflitos desnecessários, podemos não estar vivos amanhã. A
impermanência está, simplesmente assim. Se resistimos a ela, interrompemos o
fluxo natural das coisas. É preciso deixar um ciclo acabar para que outro possa
começar. Não é fácil passarmos de uma situação que nos agrada para outra
totalmente contrária, aquilo que um dia foi bom, passa de uma hora pra outra a
não ser mais, como disse antes, tudo é impermanente. E como diz Eckhart
Tolle, em “Praticando o Poder do Agora”
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La palabras
Tienen puntas filosas
como ruedas.
Rodamos su música
en la quietud salvaje de la noche.
Las unimos en la cruz que nos escribe.
Sangramos su cadencia
en las estacas.
Tormento de las manos
que no sueñan
Cada palabra
es el bastón de un ciego
tocando los sentidos
con urgencia.
Buscando la luz
bajo los párpados.
Hurgamos
en la aridez más vasta
una nueva presencia
diferente a su significado.
Las señales gotean
fosforescencias vivas
sobre el papel frío.
Una marimba loca
despierta un frenesí de huesos.
Como una brevedad de luna
que evapora su musa en el estanque
la luz de la palabra estuvo.
El hombre se pobló de estrellas.
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Nedy Cristina Varela Cetani - Doutora em Medicina. Docente. Escritora e coordenadora de oficinas literárias desde 2009. Membro Honorário e correspondente da ASOLAPO-ESPANHA (Associação Latinoamericana de Poetas, Escritores e Artistas) e Embaixadora Cultural da ASOLAPO-ARGENTINA. Integrante da Sociedade Argentina de Escritores. Recebeu o título de “Visitante Ilustre” na Argentina e em Porto Rico. Foi nomeada Presidente Honorária do Encontro Internacional do Mercosul, realizado em Gualeguaychú. Tem publicações nos gêneros de poesía e prosa. Participante de diversas coletâneas no Uruguay, Argentina, Chile, Brasil, Colombia, Guatemala, Perú, Porto Rico e Espanha. Recebeu prêmios nacionais e internacionais. Presidente da recém-criada SUMES – Sociedad Uruguaya de Medicos Escritores.
Email: nedy51@hotmail.com
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Uma tarde em Ribeirão Preto
Eram 14.00 horas, sexta-feira, quando o
avião pousou. Quando desci, um imenso calor. A palestra, o único compromisso na
cidade de Ribeirão Preto, estava marcada para 20.00 horas. Pensei: tenho pelo
menos 6 horas até lá. O hotel, simples, mas confortável, tinha um bom ar condicionado.
Resolvi ficar no quarto, para recuperar energias de uma semana muito cansativa.
Trinta minutos, o celular chamou. Era Ana Paula, estava na praia de Tambaú em
férias e resolveu ligar “pra conversar”. “Afinal, somos amigos”, foi logo
explicando. Vinte minutos depois, uma reflexão sobre os dias de ontem.
Lembrar o tempo vivido não é saudosismo
ou nostalgia. Resgatar a memória é conhecer a vida. Essa questão, embora sempre
atual, antecede minha geração. Toda a humanidade convive com a tarefa de pensar
a vida. Kierkegaard ensinou
que para “viver a vida é preciso olhar para frente, mas para compreender a vida
é preciso olhar o passado”. Procuramos explicações para a vida.
Pensamos a vida como um objeto, algo possível de explicar, mas ela é uma
experiência instantânea. As circunstâncias da
vida de cada pessoa incluem, ao lado de tempos ricos, tempos pobres. É preciso encontrar
o sentido de unidade, para nos dedicarmos a pensar o tempo em que vivemos.
A consciência crítica da realidade é uma
tradição na cultura ocidental. Entretanto, a visão da vida de cada de um de nós
revela facetas diferentes de uma mesma realidade. Quando tudo está bem,
qualquer coisa que possa nos atingir é uma simples ilusão passageira. Quando
nos tornamos vulneráveis tudo é muito agressivo. A primeira
vez que vi a Ana Paula ela estava sorrindo. Anos depois, no dia da nossa
separação, havia uma lágrima escorrendo em sua face. Aquela lágrima é mais
doída hoje do que foi naquele dia. Carrego a memória de uma despedida que nunca
houve? Ou que nunca deveria ter havido? Receio que nos consumimos de paixão
juvenil.
Existe algo infinitamente triste quando
os enamorados se separam. Na separação o eterno problema é claramente o equilíbrio humano. Não
é possível fugir da dor, risco inerente ao amor, mas deve-se arcar com a
verdade. Não se navega o mar da vida a bordo de um amor passado. Não existe
alternativa, cada um terá que construir sua própria canoa. Olho o relógio, 19.00 horas, visto o paletó e saio
para a palestra, com a compreensão que cada tempo tem sua própria história.
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Para tornar-se um associado, o Dr. José Hugo poderá manter contato com
Dra. Márcia Etelli Coelho, presidente da regional SP: marciaetelli21@gmail.com
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Sinais
marco o teu número, mãe
e respondem-me três distantes sinais
sonoros,
depois o silêncio.
se insisto, oiço uma voz grave que me diz: - ligação
indisponível!
já pensei apagar o número, mas não
consigo,
não consigo apagar a ilusão de
estares comigo,
e, então... marco... marco...
marco...
dois, quatro, três...cinco, nove,
três ...quatro, nove, cinco,
escolho/escrevo a palavra mãe e lá
vem:
- dois, quatro, três... cinco,
nove, três...quatro, nove, cinco,
oiço os sinais sonoros e depois cai
o silêncio.
Tu bem tentaste que eu aceitasse
melhor esse céu
onde os telefones não funcionam,
e talvez te tenha desgostado
porque troquei a tua fé no paraíso
celeste
por terrestes ideais, prosaicos e
simples
da luta diária dos homens por um
mundo mais justo
como o ato de nascer com direitos
iguais.
Se te desgostei, perdoa´!...
Se desagrado houve, deves tê-lo
embrulhado
em roupagens tão delicadas, com
tanto amor
que não recordo um único momento de
ter sido menos amado.
Dizias-me que a vida é uma ponte,
uma passagem,
mas discordava e descria de ti
sobre o que existiria na outra margem
(como eu descria da existência
dessa outra margem...)
Nunca me convenceste, nunca te
convenci...
Mas nada disso importava, bastava o
teu sorriso luminoso,
a luz dos teus espantosos olhos
azuis,
a fala das tuas mãos, prodigiosas,
de onde nasciam bonecas, bordados e as lindas colchas de lã
e a tua tristeza de não saberes ler
nem escrever
e a doença e a pobreza e o trabalho no campo e a
exploração
para estar sempre, sempre ao teu lado.
Confesso que, por vezes, me dariam
jeito as tuas certezas,
a tua simplicidade.
Sabes mãe, começo a sentir o peso
da idade
e algumas perdas cansaram-me tanto!...
Mas quando penso na tua vida, no
atual mundo tão desigual,
com a riqueza produzida tão
injustamente distribuída,
ah!... então continuo firme nas
minhas convicções e revoltado.
Escuta mãe!
Continuo preso ao teu telefone
desligado
como a abelha ao pólen das flores na busca do mel
das recordações,
sem fé para acreditar,
mas na busca da tua força e alegria
de viver,
levado pela conforto de continuares
a meu lado
e me ajudes a caminhar.
O teu corpo
O teu corpo
clareira que se abre em meio à selva
simétrico, linear
ácido às vezes,
de curvas mirabolantes
júbilo ventre onde vejo
/ constelações
incandescentes
o teu corpo
no limite dos sentidos
tenso e sussurrante
abalo líquido de efervescências
escarpa impossível de se vencer
o teu corpo que adoça e amarga
/ com as mesmas
propriedades
quero ficar nele
deitado ao sol
aderente, fluido
suplicar por encantamento
suplicar por eternidade
neste momento em que me encontro
/ submerso no teu lindo
corpo.
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Para tornar-se um associado, o Dr. Paulo poderá manter contato com
Dra. Márcia Etelli Coelho, presidente da regional SP: marciaetelli21@gmail.com________________________________________________
Reflexão
Era meu aniversário
de 39 anos e eu estava no trabalho. Pensei que tinha já 17 anos de formada e
era tempo de avaliar a vida... Como era ser médico afinal?
Como era minha
existência? Qual minha real função?
Quais as dores de um médico?
Nunca fui alguém a falar de ser médico, como se isso não se discute.
Quais as dores de um médico?
Nunca fui alguém a falar de ser médico, como se isso não se discute.
Mas hoje
preciso fazê-lo.
Preciso dizer que tenho metas e desejos imensos;
Preciso confessar que cada um diante de mim
É um recomeçar sem solução.
Preciso dizer que não faço tudo o que deveria,
mas também preciso confessar que, no fundo, nada depende de mim.
Preciso dizer que tenho fortes amarras em minha função;
E que os resultados humanos do que faço são imprevisíveis.
Preciso dizer que na hora do cafezinho, cansada,
penso nos que foram e nos que virão ainda e,
olho a sala de espera com muitas almas descontentes e sofridas;
Muitas vezes tenho pouco a fazer por elas.
Preciso dizer ainda que a solução dos problemas destas pessoas não está em minhas mãos.
Consigo rir, consigo conversar;
Consigo aconselhar, consigo consolar.
Consigo ver as dores do corpo e da alma e,
consigo até medicar.
Mas a cura nunca é minha…
Ouvindo muito e observando sei que as dores de cada ser humano vão muito além do que posso alcançar com muita humildade e desprendimento.
Trabalho com o homem e para o homem e,
doendo ou não doendo,
é o que existe de mais duro e lindo no mundo.
Um médico deixa sua casa, abandona sua vida, seu lazer, seu descanso, sua paz,
para muitas vezes se frustrar e dizer um “fiz o que pude”…
Nunca me arrependerei de nenhum “fiz o que pude” pois esta frase significa, na verdade, “já fiz tudo o que é possível e o além do possível”...
Doendo ou não doendo,
transitando entre o sofrimento, o alívio e, em alguns casos, até alegria,
isto é ser médico e esta foi minha maior escolha,
e minha maior conquista.
Preciso dizer que tenho metas e desejos imensos;
Preciso confessar que cada um diante de mim
É um recomeçar sem solução.
Preciso dizer que não faço tudo o que deveria,
mas também preciso confessar que, no fundo, nada depende de mim.
Preciso dizer que tenho fortes amarras em minha função;
E que os resultados humanos do que faço são imprevisíveis.
Preciso dizer que na hora do cafezinho, cansada,
penso nos que foram e nos que virão ainda e,
olho a sala de espera com muitas almas descontentes e sofridas;
Muitas vezes tenho pouco a fazer por elas.
Preciso dizer ainda que a solução dos problemas destas pessoas não está em minhas mãos.
Consigo rir, consigo conversar;
Consigo aconselhar, consigo consolar.
Consigo ver as dores do corpo e da alma e,
consigo até medicar.
Mas a cura nunca é minha…
Ouvindo muito e observando sei que as dores de cada ser humano vão muito além do que posso alcançar com muita humildade e desprendimento.
Trabalho com o homem e para o homem e,
doendo ou não doendo,
é o que existe de mais duro e lindo no mundo.
Um médico deixa sua casa, abandona sua vida, seu lazer, seu descanso, sua paz,
para muitas vezes se frustrar e dizer um “fiz o que pude”…
Nunca me arrependerei de nenhum “fiz o que pude” pois esta frase significa, na verdade, “já fiz tudo o que é possível e o além do possível”...
Doendo ou não doendo,
transitando entre o sofrimento, o alívio e, em alguns casos, até alegria,
isto é ser médico e esta foi minha maior escolha,
e minha maior conquista.
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Para tornar-se uma associada, Marina Kaizer Baitello poderá manter contato com
Dra. Márcia Etelli Coelho - presidente da regional SP- E-mail: marciaetelli21@gmail.com
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Ramalhete
Me fiz jardim para receber
flores
Sim, as quero em vida.
Crave um girassol no meu peito
E saberei amar com clareza e
luminosidade
Quero rosas, tulipas,
margaridas e orquídeas
Antúrios, papoulas, camélias e
violetas...
Uma delas me trará teu cheiro
Que procuro em cada beco do meu
ser.
Quero arejar a vida,
Oxigenar a alma
E esperar o tempo da panapaná*.
Em meio a tantas cores, aromas
e beleza
Saberei florir.
* termo de origem indígena que designa uma grande quantidade de borboletas
- um bando - que aparece em determinadas épocas do ano.
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Para tornar-se uma associada, Ana Anspach poderá manter contato com
Dra.Ana Higina Pereira Agra - Preidente da Regional AP - E-mail: clinica-agra@bol.com
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Lua
Bem
cedo ela, pura luz prateada refletida, se põe no oeste.
Descanso
da guerreira, guerreira que iluminou pensamentos, sonhos, desalentos, amores
com gemidos e sussurros, beijos delicados e paixões, dúvidas, sofrimentos,
alegrias e tristezas.
No
seu refugio, amedrontado na escuridão, o homem se esconde.
Silente,
doma seus monstros criados durante o dia luminoso de energia pura. Quentes,
por vezes tão muito quentes que obrigam o refúgio na sombra da Árvore Mãe.
Muita Luz, muito calor, muita informação, Miragem. A
Luz é tanta que as informações se transformam em ilusões mal decifradas. À
noite repousa, pensa, dorme e sonha. Descanso
acalentado pelo silêncio do ar prateado, então ele pensa. Organiza as
informações como se arrumasse a despensa. Descansando se prepara para novo Sol.
Lua,
mulher, companheira das horas santas e das insanas.
Luz
de pura prata filtrada, energia totalmente traduzida e elaborada absorvida e
decifrada, agora sim refletida e entregue. Pronta para ser apreendida.
Árvore
mãe, protege o bosque de novas árvores que venceram e fortes se desenvolvem.
Assim
se mantém os bosques, árvores agrupadas em família em buscam a Luz.
Busca
intensa e alucinante, tão energética que pode cegar.
Lua,
mulher, traduz todo o conhecimento. Alimenta assim seu útero, casa de Deus.
Alimentado
vai gerar a Vida.
Lua,
mulher se alimenta da tradução da energia em amor.
Amor,
reflexo do Sol, reflexo traduzido, explosivo e prateado, limpo, claro,
silencioso, calmo. No ar flutua etéreo, Luz divina elaborada, seiva que
alimente as almas. Puro amor.
Lua,
mulher, útero, mãe, traz dentro de si a centelha de Deus, a vida nova.
_________________________________________________
Para tornar-se um associado, o Dr. Gilberto poderá manter contato com
Dra. Márcia Etelli Coelho, presidente da regional SP: marciaetelli21@gmail.com
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