31 março, 2017

PALESTRA NA CÂMARA MUNICIPAL DE SÃO LUIS

Agradeço o convite do vereador Dr. Gutemberg Araujo, meu estimado professor, para proferir a palestra "Saúde da Mulher Contemporânea " na Câmara Municipal de São Luís, como parte do projeto de sua autoria "Cuidando de Você", cujo público inicial são os (as) servidores(as) da casa e que inevitavelmente ganhará as ruas da nossa cidade. Parabéns professor pela iniciativa! Leve nosso agradecimento aos seus pares pela calorosa acolhida! 
Marcia Silva Sousa -Presidente Sobrames-MA, (com as flores e certificado)



30 março, 2017

MULHERES DE MARÇO

Por:
Francisco José Soares Torres
Regional CEARÁ
Email: centromedicodecrateus@gmail.com











Às Mulheres de Aço
O nosso abraço
Internacional

Às Mulheres de Atenas
E outras Helenas
Mulheres de Sal

Às Mulheres de Areia
Da Santa Ceia
Do Santo Graal

Às nascidas na Terra
Na Via Láctea
No Universo

Na Nebulosa de Andrômeda
Nas Nuvens de Magalhães
No Multiverso

Às filhas de Deus
Amantes de Zeus
Ninfas do Olimpo

Nós os prisioneiros

Da gruta de Calipso
Dos feitiços de Circe
Dos braços de Caribdes

Rendemos saudações
A todas as mulheres
De oito de março!




29 março, 2017

AO PONTO QUE NÃO MORRA

AO PONTO QUE NÃO MORRA
Autor: Renato Passos (Regional Minas Gerais)
Editora: Usina do Livro - MG - 2016
ISNB - 978-85-67408-26-2
1168 páginas (17,0 x 25,0)

SinopseNuma época em que o poder estava nas mãos da igreja e dos coronéis, os menos afortunados viviam sob a tirania do medo, restando-lhes apenas a subserviência. a resignação... O verdugo invariavelmente suplicava. Ao (des)merecido sentenciado, o melhor, a morte rápida. Seria pensável uma tenuidade entre o maltratar e o cuidar? Não, direis..., não. Então te instigamos: AO PONTO QUE NÃO MORRA!

Aquisições e informações com o autor:

E-mail:  passosrenato1@hotmail.com

28 março, 2017

AS ESCOLHAS

Por:
Kátia Marabuco
Regional PIAUÍ






Tenho um verdadeiro fascínio pela saga da evolução humana na terra. Revistas, livros , novidades científicas do tema, descobertas arqueológicas do elo perdido me atraem e aguçam meus sentidos investigatórios .
Fico imaginando nossos antepassados nos primórdios da genealogia humana, nas savanas africanas, nas terras hostis e áridas, nas cavernas e atravessando o mar de gelo nas eras glaciais; são situações diversas, desafios e armadilhas que fortaleceram os nossos coletores- caçadores  na elaboração de rotas neurais cada vez mais complexas. Nosso  cérebro, esse extraordinário comandante, onde bilhões de coligações se expressam nos diversos setores da economia orgânica é o resultado de  experiências  dramáticas, mudanças drásticas, tentativas e erros, busca do bom, belo , salutar e harmonioso. uma interação sinérgica entre as forças intrínsecas e extrínsecas que nos impulsionam no progredir sempre.
Progredir sim, creio, pois se olharmos para trás para essa saga maravilhosa da raça humana, nos quedamos deslumbrados de como saímos das cavernas,  desde os hominídeos, o primeiro encontrado Sahelantropus tchadensis, até os dias atuais, tecnológicos e cosmopolitas.
Esse aprendizado lento ao longo das eras, nos possibilitou guardamos nos intrincados arquivos do inconsciente as rotas seguras, as de aventuras, as desafiadoras e de risco, as enganosas , as  cautelosas, os caminhos plácidos e serenos. São escolhas e escolhas. Escolhas baseadas nas experiências acumuladas. A grande maioria das nossas escolhas e decisões são baseadas em comandos inconscientes que nos governam. São impulsos e desejos inconscientes que impelem e influenciam fortemente o que pensamos e o que fazemos.(1)
É reconfortante pensar na liberdade, neste poder extraordinário que só um Pai amoroso e compassivo teria nos outorgado, o livre pensar.
O homem ainda corruptível e mau ao se apossar do poder sobre seus semelhantes é capaz de coagir, cercear, aprisionar, possuir e tiranizar,  pela ignorância e pelo pequeno e  infantil sentimento de posse.
Somente o Criador em Seu Pleno Amor às suas criaturas dar livremente essas asas, do livre pensar e da possibilidades de escolhas. A medida que o ser cresce em experiência  e sabedoria se conscientiza que a semeadura é livre mas a colheita é obrigatória (2). Esse é o sentimento de madureza espiritual, a consciência da lei  do livre arbítrio.
1) Sciam  ano 12 n 141, pag. 26 a 33.

2) Mateus. XIII, 1-43


26 março, 2017

MADEIRA, O RIO NOSSO DE CADA DIA

Por:
Viriato Moura
Regional RONDÔNIA













Nascido na Cordilheira dos Andes, com o nome de Beni, lá vem ele alegre e cheio de vida, ao sabor da gravidade, acompanhado por uma banda encantada que toca charango, flauta de pã, quena, violão, bandola e tambor fazendo festa para povos castelhanos. Aos poucos, despe-se de seus agasalhos tecidos com lã de lhamas enquanto avança pela floresta da Amazônia Ocidental.

24 março, 2017

MEDICINA E LITERATURA

Por:
Manoel Odir Rocha
Regional TOCANTINS









A literatura e a medicina, por incrível que pareça, estão umbilicalmente ligadas, desde os primórdios do homem e, estão entre as maiores produções do engenho humano. No início, a preocupação do homem primitivo com a manutenção da vida, com a doença, com a dor e a própria morte; paralela à transmissão oral do conhecimento que, perpetuou e desenvolveu, posteriormente, com a invenção da escrita. Ambas, sempre juntas, são interessadas na vida e na inquietação do ser humano. A literatura, sendo universal, pode ser científica e artística. 

Hipócrates, o pai da medicina, dedicou-se à literatura científica e, afirmava ser a medicina, assim como a literatura, uma arte, por envolver sempre três atores: o médico, o paciente e a doença. Moacyr Scliar, nosso médico escritor maior, afirma que a medicina é um terreno fértil para a inspiração literária, pois sua prática humanista mergulha na natureza humana. 

A familiaridade com a profissão, se somada à convivência com a literatura, permite ao médico conhecer melhor o seu paciente. Hábitos de ler e escrever ajuda a organizar as ideias e, propicia ao profissional da medicina uma melhor comunicação com o seu doente, com a família do mesmo, com os colegas e demais profissionais da saúde, já que, comunicar-se bem é requisito fundamental para o médico. Essa relação ajuda o profissional a reconhecer a dimensão humana, tornando-o mais eficiente e qualificado para lidar com as condições humanas e, podendo finalmente, exercer a medicina de forma plena. 
Além da leitura obrigatória e frequente da literatura médico-científica, alguns livros de autores não médicos demonstram excelentes descrições de situações que são de grande utilidade para os colegas médicos, como O Alienista, de Machado de Assis; A Tenda dos Milagres, de Jorge Amado; A Montanha Mágica de Thomas Mann e, A Morte de Ivan Llicht, de Leon Tolstoi. A leitura é, pois, um exercício formidável e, a argúcia que certos escritores descrevem a realidade, que vai muito além do que se possa imaginar. A literatura, através da leitura, mexe com os sentimentos, exacerba e treina a mente, posto que, diferentemente de outras artes, dá asas à imaginação do leitor, desenvolvendo-a e apurando-a. 

No mundo inteiro, desde a mais remota época, pelo seu contato íntimo com o drama da vida humana, fez do médico um observador privilegiado desses sentimentos, gravando e criando histórias; desenvolvendo assim o interesse pela arte de escrever, por prazer, ou quem sabe, como um refúgio anti-stress. 

Só para citar alguns: na Antiguidade vamos buscar os nomes do grego Ctesias de Cnido e do próprio apóstolo e médico São Lucas. Passando, pela Idade Média, com Avicena, Maimônides, Nicolau Copérnico, Girolano Fracastoro e Francisco Rabelais; pela Idade Moderna, com Thomas Campion, Luis Baharona de Soto, Jaques Grévin, Jan Brozek e Angelus Silesius; na Idade Contemporânea, Oliver Goldsmit, Arthur Conan Doyle, Alexandre Dumas, A. J. Cronin, Somerset Mougan e Fernando Namora. 

No Brasil: Gonçalves Magalhães, Joaquim Manoel de Macedo, Josué de Castro, Guimarães Rosa, Pedro Nava, Pedro Saraiva, Ezequiel Dias, Otávio Magalhães, Juscelino Kubitschek, Americano do Brasil, Eurico Branco, Waldemir Miranda, José Octávio Cavalcante, Ciro Marins, Carlos Chagas Filho, Júlio Afrânio Peixoto, Francisco Ayres da Silva, Zé Dantas, Júlio Paternostro, Moisés Paciornick e Pedro Ludovico. Em atividade: Hélio Begliomini, Flerts Nebó, Thereza Freire, William Harris, Moacyr Scliar(ABL), Ivo Pitanguy(ABL), João Peregrino Júnior(ABL), Drauzio Varela, Içami Tiba, Fausto Valle, Hélio Moreira e Daniel Emídio. 

Mesmo no Tocantins, apesar de ser um Estado muito novo e com baixa densidade populacional, já há um expressivo número de médicos em franca produção literária: Célio Pedreira, Pedro Cuelar, Múcio Brekenfeld, Jales Paniago, Murilo Vilela, Fernando Lira, Mário Moisés, Eduardo Bezerra, Mardonio, Joanito Cavalcante, Luiz Teixeira, Eduardo Manzano, Heloisa Manzano e Odir Rocha. 

Vale salientar a presença e atuação da Sociedade Brasileira de Escritores Médicos (SOBRAMES), regional Tocantins, incentivando e apoiando as iniciativas literárias dos esculápios tocantinenses. 

Para encerrar, citaremos Moacyr Scliar, o médico-escritor de maior sucesso, tanto no Brasil como no exterior, com mais de 60 obras publicadas em oito idiomas: “Literatura e medicina, lidam com a palavra; no caso da medicina, a palavra é um instrumento terapêutico, no caso da literatura um instrumento de criação estética. Mas interessantes paralelos podem ser estabelecidos entre diferentes usos da palavra. A inter-relação entre a medicina e a literatura é um dos aspectos principais das chamadas Humanidades Médicas, que vêm sendo introduzidas nos currículos de várias escolas médicas”. 






22 março, 2017

BORBOLETAS

Por:
Aline de Mello Brandão
Regional PARÁ
E-mail: alinefmb@yahoo.com.br









O choro de Deus
bubuiou 
no quente empoeirado da terra

o peito alto dos morros
desmoronou
nas cachoeiras e cacimbas 
nascendo os rios de muitas voltas

Ouviu-se o tempo umedecido
na caáuna 
e no escuro das folhagens.

A mãe do dia, que via,
e que a tudo assistia
rasgou nas mãos bem fininho
o tecido colorido 
do véu da saia e fez asas
a revoar
muito leves
no quase dia tão claro

Canto de araras saudaram
todos os seres alados
e a floresta sussurrou
novo som amanhecido
resguardando o delicado
no aceso olho de Deus.




20 março, 2017

HOMENDIGO

Por:
Dagoberto Sant'Anna e Souza
Regional BAHIA
















O mendigo foi um homem de bem, digo,
é um homem de bem
e bendigo o homem que foi.

0 mendigo é hoje
um homem de bem consigo
e
não consigo estar de bem
comigo
vendo no homem de hoje,
o mendigo,
o homem que ontem, nem digo
foi meu amigo.



19 março, 2017

LANÇAMENTO EM ARACAJÚ




HOMENAGEM E COMENDA À DRA.CELINA TURCHI


A Sobrames-GO conferiu no último dia 17.03.2017 a comenda "Ordem do Mérito" à Dra. Celina Turchi, durante a cerimônia de homenagem pelo fato de ter sido incluída entre as 10 mais importantes cientistas do mundo em 2016.
Celina Maria Turchi Martelli é uma médica e cientista brasileira especialista em epidemiologia das doenças infecciosas. É atualmente pesquisadora no Centro de Pesquisa Aggeu Magalhães da Fundação Osvaldo Cruz em Pernambuco. A revista Nature a colocou na lista dos dez cientistas mais importantes de 2016.  Celina Turchi foi uma das pesquisadoras que contribuiu para provar a relação entre zika e microcefalia.


Da esq. pra dir. :  Prof Helio Moreira, Prof Celmo Celeno Porto,  Prof  Celina Thurchi, Prof Maurício Barcelos e Prof.Waldemar Naves do Amaral. 

SOBRAMES ALAGOAS - 40 ANOS

Hoje a SOBRAMES ALAGOAS completa 40 anos de fundação. Aos nossos confrades e confreiras de Alagoas nossos parabéns, desejando um caminhar profícuo e perseverante sob a presidência do Dr. José Geraldo Vergetti Siqueira, atual presidente da regional alagoana.                       
Não podemos deixar de aludir ao ilustre Dr. José Medeiros, na ocasião de fundação no cargo de primeiro secretário, que viria a ser uma das mais importantes expressões da SOBRAMES. Nossa gratidão e  reconhecimento aos membros fundadores e aos atuais gestores.

Josyanne Rita de Arruda Franco
Presidente - Gestão 2017/2018

18 março, 2017

DR. CRUZ


Por:
Flerts Nebó
Regional SÃO PAULO
(in memoriam)












Ela não acordou bem disposta. Dormira mal acordando várias vezes durante a noite. Ora sentia calor e transpirava, para logo a seguir ter sensação de frio e uns tremores vagos pelo corpo.

Olhou para o relógio que estava perto de sua cabeça e ele marcava três horas da madrugada... Era muito cedo.Mil pensamentos passaram por sua cabeça. Será que teria comido alguma coisa e não conseguira “fazer a digestão?” Será que estaria tendo um enfarte?

Ou seria algum ataque como os tinha uma sua colega de escritório e que num repente gritava caindo ao solo e tremendo braços, pernas e todo o corpo.
Os companheiros de serviço corriam e colocavam um lenço dobrado em sua boca para que não mordesse a língua.

– Ela é epilética. Ouvira alguém comentando.

– Não tomou o remédio Gardenal, dissera uma outra.

Deitada em seu leito sentia os braços e as pernas como que tomados por tremores. Será que também sou epilética? Nunca senti isto antes. Em minha família que eu saiba nunca ninguém sofreu de ataques...

Outros pensamentos passaram por sua cabeça então sentiu uma “pontada” nas costas... Assustou-se ainda mais... olhou para o relógio marcava três e quinze, sua “agonia” aumentou, tinha vontade de levantar e ir para um hospital... mas não tinha coragem de acordar o marido que placidamente roncava ao seu lado. Também sair de casa àquela hora seria uma temeridade.

Vou esperar mais um pouco, vamos ver se essa sensação de mal estar passa... amanhã cedo vou ao ambulatório de um hospital ou num pronto socorro para fazer uma consulta... Virou para o outro lado na cama e sentiu que o pijama que vestia estava úmido pelo suor.

Acho que é melhor tirar senão posso até apanhar um resfriado. Sem fazer barulho levantou-se do leito e pé ante pé foi até a cômoda onde pegou outro pijama e trocou o que estava úmido por aquele seco.Sentiu que estava se apavorando por não saber definir o que estava sentindo.

Tornou a entrar na cama, passou o lenço pela testa enxugando o suor. A pouca luz das lâmpadas da rua que entravam pela veneziana iluminavam o dormitório.


17 março, 2017

CONCURSO LITERÁRIO, JORNADA E PIZZA EM SAMPA


A todo vapor, a nova gestão da Sobrames-SP anunciou ontem, durante a 320ª Pizza Literária realizada na pizzaria Bonde Paulista, da qual participaram 28 confrades e amigos, mais algumas atividades para 2017:

CONVERSANDO SOBRE POESIA 
Dia 23 de março, quinta feira, das 19 as 21h30 na APM 
Av. Brigadeiro Luis Antonio 278 - 3º andar, Sala 1

I INTERMED PAULISTA
Concurso de prosa e verso destinado a médicos inscritos no CREMESP e estudantes de medicina. Inscriçôes até 30.06.2017. Cerimônica de premiação no dia 26.08.2017, 
na AMB - Associação Médica Brasileira.
Regulamento e informações:  CLIQUE AQUI

XIV JORNADA MÉDICO-LITERÁRIA PAULISTA
Será realizada nas dependências da AMB - Associação Médica Brasileira, na Rua São Carlos do Pinhal, 324 - São Paulo - SP, de 24 a 26 de agosto de 2017.
Informações e inscrições pelo email: sobramessp21@gmail.com


16 março, 2017

A VIDRAÇA E A ANDORINHA

Por:
Paulo Expedito Rodarte de Abreu
Regional MINAS GERAIS
E-mail: peralavras@gmail.com








Quando entro em um carro, seja num dia frio, ou de intenso calor, faço questão de abrir a janela, do meu lado, já que do outro, o banco do passageiro, a ocupante não aprecia saborear o vento assoprando-lhe uma brisa fresca na face, e adora ficar de vidro cerrado, com o ar condicionado ao máximo, talvez receando que algum malfeitor lhe passe a mão no pescoço, e lhe afane a correntinha de ouro maciço, presente de alguém, quem sabe fui eu?

Da mesma maneira deixo as janelas de folhas duplas, do meu quarto de dormir, com as duas bandeiras desfraldadas, quando por elas entra, pela vidraça, o sol e a tepidez da mornice da manhã de primavera mostrem a que vieram; permita que a vetusta seringueira, árvore errática, que não deveria ter sido inserida àquela exígua faixa de gramado, uma reles pracinha onde se vê um banquinho tosco, onde namorados são pilhados aos beijos e abraços.

Bem sei que as produtoras de borracha são oriundas do norte do país. Talvez a seringueira se sinta infeliz ali.

Como disse, tantas vezes, sou contra as superfícies espelhadas. Não apenas os espelhos, verdadeiros dedos duros que não apenas comprovam que a velhice, em verdade, é uma fábrica de monstros, assim como ensejam em nós, os passageiros daquela linda e graciosa idade, pela qual olhamos para trás, e percebemos, nostálgicos, o quanto foi boa a nossa mocidade. Mas nada contra estar velho, para mais uma vez sermos sabedores de que a mocidade se foi, o presente está aí, de olho na gente, o futuro é uma incógnita, tomara a morte não nos faça uma visita antes da hora.

Hoje, depois de acordar neste domingo, vinte e dois de janeiro, fiz questão de abrir a janela, aquela mesma que permite ver a seringueira, verdinha, enfiada no tal gramado onde fincaram um banquinho tosco.

Não fui logo ao desjejum. Tomei um cafezinho expresso. Lavei o rosto, para ver melhor a partida de tênis onde meu ídolo brandia magistralmente sua raquete, vindo a vencer seu oponente, o grande Federer, depois de uma inatividade de seis meses sem torneios, como deve ter sentido a longa ausência!, desci a rua do condomínio uns exíguos vinte metros, onde ainda moro, e fui correr uns minutos na esteira do clube, um simpático local de exercícios, ainda pouco frequentado.

Corri por pouco mais de uma hora.

Neste ínterim observei uma andorinha filhote, ainda aprendendo que uma só não faz verão, voando baixo.

Naquele seu voozinho frenético, inexperiente, a pobre avezinha acabava batendo cabeça numa vidraça feita de vidro Blindex, bem transparente, ao contrário da alma de certas pessoas. Que na frente dos outros mostram uma face, por detrás, exatamente outra. A de maior e cruel realidade pura.

Uma hora depois percebi a pobre andorinha, depois de sucessivas idas e vindas, cair atordoada pertinho da minha esteira corredora.

Fiquei alguns segundos observando se a andorinha iria se levantar, de novo voar, e sair pela fresta livre do vidro Blindex limpinho.

Foi penoso para mim, cheio de saúde, de energia, de vontade de viver, comprovar que a pobre ave jazia imóvel no chão de pedra ardósia, escura, fria.

Terminei a corrida antecipadamente. Ainda desejava ficar mais ali, exercitando-me, para depois nadar.

Mas, vendo a pobre andorinha com o bico ainda aberto, sem farfalhar as asinhas, estática, parecia morta, apanhei-a de dedos leves, pelos apêndices voadores, e depositei-a cautelosamente na grama do lado de fora da academia.

Não fui logo embora. Estava suado, sem estar cansado. O clube do condomínio estava às moscas, não fora pela presença do cuidador, o amável senhor Daniel. Pena aquele lindo logradouro ser tão pouco frequentado...

Meia hora depois fui ver o estado de saúde da andorinha.

Ela ainda estava no mesmo lugar de antes. De barriguinha para baixo, na mesma relva onde a depositei, sem sinal de vida flutuando-lhe dentro do peitinho magro.

Não tive coragem de ouvir-lhe os batimentos cardíacos. Dentro de mim morava uma quase certeza. Ela estava morta. Não havia chance de ela sair voando de novo, se juntar a outras companheiras, virar pássaro adulto, envelhecer ao lado de um macho, para nova família ver crescer.

Agora, longe do sepulcro verde onde, por certo, a andorinha morreu, escrevendo esta crônica, mais uma vez me veio à lembrança os vidros e vidraças, em suas janelas fechadas, dos quais desdenho tanto.

Tenho verdadeira ojeriza por vidros e janelas fechadas. Quando as percebo logo cuido de abri-las, desfraldá-las todinhas, permitindo assim que entre o ar, o sopro ameno do vento, os ruídos da manhã.

Uma das razões da minha aversão, janelas e vidros fechados, trata-se, e se corrobora na morte da pobre andorinha, depois de aprender que uma só delas não faz verão...




14 março, 2017

ILUSÃO

Por:
Alitta Guimarães Costa Reis
Regional SÃO PAULO
E-mail: chai.alitta@hotmail.com













Anoitecia, e a rua,
de mais pessoas carente,
acolhia a luz da lua
num silêncio ainda quente.

Então eu vi a coelha.
Branquinha, longas orelhas,
grande ventre, saliente,
e, talvez, quase parindo.
De onde teria vindo?
Estranho, nem se mexia...

Mas, de repente, o que eu via?
Não era bicho nenhum!
Era só lixo, arrumado
num saco branco, comum,
desses de supermercado,
as pontas dadas em nó!

Como se diz, “Freud explique”
as ilusões da psique...
Resolvi ser realista,
Marquei exame de vista! 


12 março, 2017

O HERÓI DO AMAPÁ




Por:
Alfredo Pereira da Costa
Regional PARÁ
E-mail: alfredo38.pereira@hotmail.com
















Francisco Xavier da Veiga Cabral – o Cabralzinho – foi o defensor da nossa fronteira no extremo norte do Amapá, onde ocorreu o episódio da invasão francesa ao comando do capitão-tenente Lunier e repelida pelos liderados de Francisco Xavier da Veiga Cabral.

O município de Amapá está profundamente ligado à formação histórica do Estado do Amapá. Foi na pequena Vila do Espírito Santo do Amapá que no dia 15 de maio de 1895 as tropas francesas, vindas de Caiena, sob o comando do capitão Lunier, desembarcaram da Fragata Bengali para assumir a posse da área compreendida entre os rios Araguari e Oiapoque, chamada de “Território Contestado”. E foi aqui que os brasileiros resistiram vitoriosamente, sob o comando de Francisco Xavier da Veiga Cabral - o Cabralzinho – como era conhecido. Este foi chamado à presença do capitão Lunier e, ao invés de se render à voz de prisão, desarmou o oficial francês, abatendo-o com a própria arma que portava.

Os franceses tentaram vingar a morte de seu comandante, mas encontraram reação por parte de Desidério Antonio Coelho e Epifânio Pedro da Luz e outros bravos patriotas, que embora em número de quatorze (14) travaram a luta. Como a munição era pouca e os invasores numerosos, nossos patriotas se refugiaram na mata, onde já se encontrava Cabralzinho.

Os franceses aproveitaram a ocasião para fazer um massacre dos brasileiros. Trinta e oito (38) brasileiros foram mortos, entre homens, mulheres e crianças. Os franceses incendiaram e saquearam as casas. Os invasores perderam seis (6) soldados e tiveram outros vinte e dois (22) feridos.

Temendo a baixa da maré, os invasores abandonaram a vila, levando seus feridos e dois (2) prisioneiros: João Lopes e Manoel Gomes Branco.

Tal acontecimento, ocorrido em 15 de maio de 1895, trouxe como consequência para o Brasil e França a vontade de conseguirem uma solução definitiva para o problema de suas fronteiras. Os dois países resolveram, de comum acordo, submeter o caso à imparcialidade de um árbitro neutro, sendo escolhido o presidente da Suíça.

Para defender a causa brasileira foi escolhido o diplomata José Maria da Silva Paranhos, também conhecido como Barão do Rio Branco. Este, baseado nos documentos contidos no livro “Do Oiapoque ao Amazonas”, de Joaquim Caetano da Silva, escrito e publicado em Paris, conseguiu brilhante vitória para o Brasil, com a assinatura do “Laudo de Berna” (ou Laudo Suíço), no dia 1º de dezembro de 1900, o qual dava ao Brasil o direito definitivo de posse da área contestada. Assim, com a vitória do laudo suíço a extrema área fronteiriça foi anexada ao Brasil (Estado do Pará, àquela época).

Afinal, quem era Francisco Xavier da Veiga Cabral? Onde nascera? Francisco Xavier da Veiga Cabral – o Cabralzinho – nasceu em 5 de maio de 1861, em Belém,  capital da então Província do Grão Pará. Era filho de Rodrigo da Veiga Cabral e de D. Maria Cândida da Costa Cabral. Casou-se com D. Altamira Valdomira Vinagre da Veiga Cabral. Desse matrimônio nasceram as filhas Valdomira e Altamira. Valdomira casou-se com Oscar Franco. Altamira casou-se com Alcindo Cacela (nome de uma avenida em Belém).

Seus pais não eram pessoas de posses e pode-se presumir uma infância e juventude de algo dificultoso, para o futuro herói do Amapá. Seu pai fora Senador da Câmara de Belém.

Veiga Cabral, ainda na juventude, tornou-se comerciante, sendo que o seu estabelecimento comercial era chamado de “Pacão”, por sinal seu primeiro epíteto. Exerceu, também, as funções de escrivão da Contadoria de Rendas do Estado do Pará e despachante da Alfândega, no governo republicano.

Tornou-se conhecido do povo paraense em 1891, quando tomou parte, em posição destacada, da Revolta de 11 de junho, que tinha por finalidade depor o governador do Pará, que era o então Capitão-tenente Duarte Huet Bacelar Pinto Guedes. Apesar de contar com o corpo de polícia, o movimento foi sufocado em poucas horas, pois não seria de toda estranha a idéia de uma restauração da monarquia no Pará.

Mais tarde, Veiga Cabral demonstrou ser amigo dedicado de Lauro Sodré, governador do Pará, ao fundar o jornal denominado “O Patriota”. Entretanto, Cabralzinho passou por muitas vicissitudes, que no final o levariam à morte, pois foi vítima de arma branca de seu assassino, conhecido como “mão-de-seda”. Em consequência desse ferimento veio a falecer em 18 de maio de 1905, com 44 anos de idade.

Com o fracasso da Revolução de 1891, Cabralzinho foi obrigado a deixar a capital paraense, a fim de não ser preso. Nessa sua fuga pelo litoral norte, foi costeando o Oceano Atlântico até chegar aos Estados Unidos da América do Norte. Retornando dessa viagem voluntariamente, se “asila” na antiga Vila do Espírito Santo de Amapá, onde mais tarde torna-se personagem central de um episódio decisivo à final incorporação das terras do “Território Contestado” ao território brasileiro.

Nessa região foram descobertas ricas minas de ouro. A área foi invadida por aventureiros, depois de 1893, entre eles os franceses, que há muito tempo pretendiam a posse dessas terras situadas entre os rios Araguari e Oiapoque.

Em 26 de dezembro de 1894, a população da Vila do Espírito Santo de Amapá resolve proclamar um governo próprio, com a finalidade de coibir a invasão constante do chamado “Território Contestado” pelos governos do Brasil e da França. Foi criado, então, um Triunvirato formado por Desidério Antonio Coelho, Francisco Xavier da Veiga Cabral e o cônego Domingos Naltez.

Cabralzinho, já como presidente desse governo autônomo, mandou prender algumas pessoas que na região das minas estavam perseguindo e maltratando os brasileiros. Entre elas estava o negro Trajano, que embora sendo brasileiro, era o líder dos franceses invasores. O governador de Caiena, sabendo da ação de Cabralzinho, na data de 15 de maio de 1895, manda uma expedição militar se apossar da Vila do Espírito Santo de Amapá e levar preso o presidente do Triunvirato. O valente brasileiro, pequenino no tamanho, mas grande nos seus ideais patrióticos, não permite que o estrangeiro se aposse de seu solo; e, com a rapidez de decisão igual às suas faculdades de execução, Cabralzinho resolveu resistir e, conhecendo a luta de capoeira, abateu o comandante francês Luinier, com uma cabeçada no peito. Ao mesmo tempo, apoderou-se de seu revólver e o descarregou à queima-roupa, com um tiro mortal no oficial francês. Subtraindo-se, num salto para trás, à pressão pela escolta, que estava atônita diante da rapidez dos acontecimentos, Cabralzinho correu para a vila chamando às armas a milícia. Respondeu esta, composta de quatorze (14) homens, dos quais treze brasileiros e um norte-americano.

À vista da superioridade numérica da companhia invasora (120 soldados), armada de fuzil Lebel, e com o fim de evitar que fossem cercados, retirou-se Cabralzinho com sua gente até à orla da floresta, onde se distribuíram todos em atiradores dispersos. A companhia teve que recuar diante dessa guerrilha; e, não sabendo quantos homens se escondiam na floresta, embarcou apressadamente no navio “Bengali”, que a trouxe, e desceu o rio com seus feridos e mortos.

Este acontecimento serviu, mais tarde, para que as autoridades brasileiras e francesas resolvessem, de uma vez por todas, a questão de suas fronteiras, que já vinha perdurando duzentos anos, cuja vitória foi alcançada pelo Brasil em 1º de dezembro de 1900, pela brilhante atuação do diplomata Barão do Rio Branco, integrando definitivamente ao patrimônio do território brasileiro a região situada entre os rios Araguari e Oiapoque.

Em justa homenagem ao seu feito heróico, foi erguida uma estátua de Francisco Xavier da Veiga Cabral – o Cabralzinho – no atual município de Amapá, na praça que também tem o seu nome: “Praça Veiga Cabral”. Em Belém, existe um busto de Francisco Xavier da Veiga Cabral na Praça da Trindade, além da Travessa Veiga Cabral no bairro da Cidade Velha.

Dessa forma, por merecimento, foi resgatada a memória do herói do Amapá.


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