Josyanne Rita de Arruda Franco
Regional SÃO PAULO
Presidente Nacional 2017/2018
E-mail: josyannerita@gmail.com
Uma
das lembranças mais marcantes que guardo de minha avó materna é do cuidado que
ela tinha com as palavras. Quando se expressava, fazia-o de maneira comedida e
pontual, sem delongas e usando palavras breves e pertinentes, algumas que eu
desconhecia e passavam a fazer sentido imediato no contexto da conversa.
Foi
assim que passei a apreciar o verbo “pelejar”, que sempre me provocou
indescritível alegria antes que eu conhecesse seu significado. A peleja é parte
indissociável da trajetória que escolhi seguir, e a insistência para concluir as
coisas fez com que eu percebesse só tardiamente as mudanças imperceptíveis
ocorridas durante o percurso, oferendas silenciosas e determinantes para o
futuro.
Pelejando
fui buscar meu destino. Pelejando, abri portas não imaginadas e descobri que é
possível realizar sonhos. Aprendi, ensinei, acertei e cometi equívocos, cresci
em muitos aspectos de mim mesma e fui apoio (e suporte) para o crescimento de
outras pessoas. Fui pessoa comum de atitudes comuns, acostumada a pelejar.
No
entanto, chega o momento em que alguns questionamentos nos inquirem sobre a
peleja, essa evidência de luta e perseverança que nos arregimenta para a vida.
A manifesta
interiorização das pessoas em uma sociedade exibicionista então demanda o
questionamento: ainda vale o esforço de insistir em alguma coisa? Será que o
desafio que nos sonda vale a luta? Lutamos por uma causa ou por uma coisa?
O
impulso que nos indica horizontes parece naufragado na maré mansa da acomodação.
Por todo o lado é possível ouvir que não tem jeito, que a vida é assim mesmo e
que nada vai mudar. Pode ser que seja verdade e que o esmagamento da
civilização seja inevitável, nada restando de ética nem senso comum nessa cultura
de conflitos tão perturbada pela realidade crua do individualismo e da vaidade.
A
existência da SOBRAMES está alicerçada no amor pela vida e por tudo o que com a
vida se relaciona: tragédias e comédias da história privada estendida ao tecido
social. Se na medicina podemos alcançar conhecimento e força para o trabalho
árduo em prol da vida que está sob nossa responsabilidade, é na literatura que podemos
abandonar nossas defesas, descansar das armas e oferecer trégua à labuta insana
que nos consome tempo e vitalidade.
Cada
regional da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores é um espaço de
construção de linguagem, um núcleo organizado que existe em função da cultura literária
e tem, por isso, um papel de alcance ampliado. Cada membro associado qualifica e
legitima a SOBRAMES, o que o responsabiliza diretamente pelo compartilhamento
de sua arte com os pares e com a sociedade, criando condições para que a confraria
seja divulgada e conhecida, difundindo cultura.
Não
é uma tarefa fácil, é uma peleja onde cabe a reflexão: insistir para quê?
O
esforço conjunto e necessário à sobrevivência da Sociedade Brasileira de
Médicos Escritores – SOBRAMES passa pela busca ativa de novos associados, o que
só é possível se a inscrevermos em nosso cotidiano de atividades.
É
valioso o nosso tesouro, mas ele precisa ser cuidado e multiplicado. Na busca
de alcançar novos membros, precisamos divulgar a SOBRAMES nas escolas médicas, dentro
de ambulatórios e hospitais, em consultórios e para outras entidades
literárias. Muitos de nossos sobramistas assim o fazem, empenhados e ousando
conquistas que desbravam fronteiras, merecendo nosso reconhecimento e aplausos.
Contamos
com regionais grandes, bem constituídas, seguindo o estatuto e promovendo
reuniões mensais para manter o ânimo e fortalecer vínculos. Outras são menores
e perseverantes, lutando para não esmorecer. Temos ainda as regionais que se
encontram esvaziadas, com presidentes solitários e desesperançados, solicitando
o tão necessário apoio que muitas vezes não acontece de maneira ideal, mas
sempre existe.
Uma
reunião já é possível com duas pessoas; se é agradável, logo caberão três ou
quatro. Um dia por mês ou a cada dois meses, um encontro para um café da tarde
ou uma pizza à noite... Até em uma conversa entre amigos. Onde houver um médico
escritor disposto a restaurar a beleza do cotidiano com um pouco de literatura,
fará a SOBRAMES presente.
Evidentemente,
estatutos são importantes fontes normativas e de diretrizes, mas de nada
valerão se estiverem esquecidos sobre a mesa ou no interior de uma gaveta. São
os encontros literários as principais e fundamentais atividades das regionais,
mantendo acesa a luz da poesia e nutrindo a prosa que rege a vida. É isso que
nos faz vibrar enquanto o tempo nos esquece.
Trocar
experiências, estender a mão aos amigos, apoiar iniciativas, orientar caminhos,
permitir o intercâmbio de informações são ações oportunas para todos os
sobramistas, não apenas para o membro da Sociedade que está como presidente.
Agora
é hora do trabalho! Os frutos poderão ser colhidos à frente por aqueles que nos
sucederem, mas terá valido a caminhada que oferece futuro à SOBRAMES.
A
atual presidente da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores – SOBRAMES está
acostumada à peleja, mas não trabalha sozinha. Então, sem lamento nem sombra de
desalento, vamos ao trabalho, tornando nossa Sociedade cada vez mais forte e
renovada.
Sigamos!
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