Por:
Guaracy Lourenço da Costa
Regional SÃO PAULO
(In memoriam)
Nestes
dias, como tem acontecido todos os anos, estou sendo convidado para ser
Orientador de Monografias de meus alunos da Faculdade de Direito lá na UNIARA.
Todos os alunos, no último ano de seus cursos, precisam agora apresentar um
trabalho no segundo semestre para poderem ter direito à formatura. Nessas Monografias, eles escolhem um tema,
pesquisam sobre ele e escrevem um trabalho de pelo menos 35 folhas, tendo que
pedir a algum dos professores para lhes dar o nome como ORIENTADOR. A função do
Orientador é dar as principais dicas do assunto escolhido ao aluno para que ele
possa escrever bem, fazer uma boa abordagem do tema e, no mês de outubro a
dezembro, fazer uma apresentação verbal diante de uma banca de mestres do Direito
cujas notas, para ele se formar, precisam atingir no mínimo a média 5,0.
Neste ano de 2006, eu já fui
convidado por 6 alunos do 5º Ano de Direito para ser Orientador das Monografias deles, justamente
porque os assuntos por eles escolhidos estão relacionados com temas médicos,
planos de saúde, incidentes nos tratamentos, células-tronco, doenças
transmissíveis, prontuários hospitalares, etc.
Estou
lembrando que, em 1988, recebi um telefonema de um jovem universitário chamado
Messias, residente em Três de Maio, que é uma cidade Gaúcha. Ele foi operado
por mim quando era menininho em virtude de um defeito de nascença no pipi. Ao
telefonar-me, ele pediu que lhe desse algumas dicas sobre seu defeito e a
cirurgia porque ele queria fazer sua
monografia justamente sobre defeitos de nascença em geral. Localizei a ficha médica
dele em meu consultório e verifiquei uma anotação que fiz sobre o desmaio do
pai dele ao presenciar o primeiro curativo que lhe fiz no pipi todo inchado. No
ato, sugeri a ele que colocasse, em sua monografia, esse lance de desmaio dos
pais, evidentemente sem mencionar que a coisa foi com ele e o pai dele.
Depois
de pronta a monografia, ele a leu pra mim pelo telefone e me disse que havia
posto meu nome. Este foi meu primeiro caso em que atuei como Coordenador, tendo
sido, na realidade, legítimo TELE-ORIENTADOR
da monografia do Messias.
Ao
mencionar aqui o DESMAIO do pai do Messias, acabei lembrando-me de um outro
caso do passado que estou achando interessante escrever sobre ele nesta crônica
e esclareço, desde já, que o nome técnico do desmaio é LIPOTÍMIA. Essa palavra
vem do Grego e significa, literalmente, que
“a alma da pessoa foi dar uma voltinha...”
A
melhor experiência que tive como orientador de monografias foi no início de
1961, assim que concluí minha Pós-Graduação em Cirurgia Plástica
com o Professor Ivo Pitanguy, no Instituto de Aperfeiçoamento Médico da PUC do
Rio de Janeiro. Fui procurado por um aluno do 6º ano que me convidou para ser
Orientador dele na tese que ele estava montando para participar da Maratona
Científica patrocinada pelo MEC. Fui escolhido por ele porque a tese versava
sobre os cortes na pele por acidentes ou agressões e os cortes das cirurgias.
Empenhei-me ao máximo para ajudá-lo, tendo ido um monte de vezes à Biblioteca
Nacional para coletar dados pra ele.
Exatamente
no dia 8 de abril daquele ano foi marcada a apresentação ou defesa da tese dele
no Anfiteatro da Reitoria e era um sábado do mesmo modo que também hoje é sábado. Eu vesti meu único terno e fui sentar-me
à mesa examinadora ao lado de quatro professores, sendo dois cirurgiões gerais,
um anatomista e um patologista.
O
patologista foi o primeiro examinador, o qual, pelo visto, quis logo massacrar o jovem sextanista fazendo-lhe 5
perguntas de uma vez só, todas sobre a “fisiologia da cicatrização”. O quase
doutor ficou pálido na hora. Percebi que ele não estava preparado para aquela
questão. Eu estava com um lápis vermelho grosso na mão e escrevi rapidamente
num papel que estava à minha frente: “DESMAIAR!” e virei discretamente pro lado
dele, enquanto ele estava fazendo cara de pensamento.
Ele
deu uma balançada no corpo e amontoou no chão, perto de onde eu estava.
Levantei-me rapidamente para socorrê-lo antes que outro o fizesse. Peguei o
pulso dele, ouvi o coração com a orelha
no peito dele e falei: “A pulsação está boa, mas vamos levá-lo rápido pro
“Souza Aguiar” (pronto-socorro)”.
Ele
escapou do debate e teve a chance de se apresentar novamente um mês depois,
tratando de se aperfeiçoar mais nos temas que o Patologista tinha preferência.
Na seqüência, ele foi aprovado com distinção. Fiquei convicto que “UM ORIENTADOR
DEVE REALMENTE ORIENTAR”...
inclusive orientar a hora oportuna de um desmaio salvador...