07 fevereiro, 2018

ANTIGAS FOLIAS E MOMOS

Por:
Josyanne Rita de Arruda Franco
Regional SÃO PAULO
Presidente Nacional 2017/2018











A animação começa a dar colorido às ruas e avenidas, anunciando novo período de Carnaval neste fevereiro há pouco iniciado.

Marchinhas antigas começam a desfilar na memória e os blocos de sujo passam em procissão encantadora na retina de um tempo vivido, exibindo o período aproveitado para comemorar meu aniversário, seguindo os foliões na grande avenida cheia de mangueiras perfumadas, na já longínqua e feliz infância.

Uma canção fazia vez sempre que o Carnaval se aproximava, e ainda sem saber o que de fato significava a Noite dos Mascarados, do Chico, eu me lembro de brincar balançando as mãos para cima, em passos lentos e cadenciados, aprendidos com interesse ao observar os adultos e suas fantasias para os bailes de salão.

Uma lata de leite vazia (pendurada em mim por grosso barbante que cruzava o pequeno corpo) e duas canetas sem tinta do meu avô materno serviam de instrumentos para ritmar minha folia, enroscando na minha fantasia de índia, havaiana ou bailarina, que trazia o rosto pintado e brilhando por pequenas estrelas que faiscavam de longe e o indefectível batom vibrante que me acompanha até hoje.

E lá ia eu, perguntando todas as perguntas da música do Chico, fazendo as duas vozes da interpretação inesquecível para mim, querendo ser “seresteiro, poeta e cantor”.

Eu ainda não sabia o que era “arder no seu fogo”... Era “tão menina” e “meu tempo passou” sem que eu tivesse continuado o meu desfile majestoso aprendido no caminho de mangueiras.   

Hoje continuo não sendo “da maneira que você me quer”. Permaneço a driblar as agruras do caminho defendendo pensamentos coerentes e práticos, pois nem todos os que produzo são. 

Pergunto-me com frequência “quem é você?” ao ouvir posições radicais, delírios inimagináveis de poder e ambição, ilusões de magnitude e permanência em todos os aspectos do viver hodierno.

A bela canção de Chico Buarque hoje me revela os contrastes que permaneceram no jogo da vida, nos relacionamentos, nas disputas entre ser ou não ser, no que somos e deixamos de ser, que aprendemos e esquecemos enquanto caminhamos, jogo eternamente permeado de sedução e fantasia, a ocupar os espaços que a dureza do cotidiano impõe aos pobres viventes que cultivam a ilusão de uma conquista futura que pode não chegar.

Uma prosa poética não me permite as elucubrações duras de uma realidade social cheia de máscaras e enganos, onde o reinado já não é de Momo e seu corpanzil (a revelar todos os excessos permitidos e aqueles outros, proibidos), mas de diversos outros mascarados sem adornos carnavalescos.

Aos sisudos de plantão, a proposta de relaxarem durante os poucos dias de confete e serpentina. Aos mais afoitos, a lembrança de que a festa é de alegria e fantasia. Para aqueles que estão no ponto de equilíbrio, que aproveitem a nostalgia de uma época de ouro, que possam curtir as possibilidades de outros encontros, e que mantenham o sentimento de ternura que nos dá a canção que inspirou este editorial.

Vamos brincar e preparar o espírito para novos tempos, traduzindo o verso “os dois mascarados procuram os seus namorados” como buscas que nos animam a encontrar nossos pares de sonho e esperança, na troca sensata e sem barganha que promete que “o que você pedir eu lhe dou” na dupla via da estrada da vida.

Que seja bem-vindo mais um Carnaval a nos permitir sorrir para a vida, brincar de ser feliz, embalados pela singeleza do convite que diz “deixa a festa acabar, deixa o barco correr, deixa o dia raiar”!

E se “amanhã tudo volta ao normal”, por que não deixar que cada um “seja o que Deus quiser?”.

Obrigada pela inspiração, Chico.

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CLIQUE ABAIXO PARA OUVIR "A NOITE DOS MASCARADOS" (Chico Buarque)


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