Josyanne Rita de Arruda Franco
Regional SÃO PAULO
Presidente Nacional 2017/2018
E-mail: josyannerita@gmail.com
A animação começa a dar
colorido às ruas e avenidas, anunciando novo período de Carnaval neste
fevereiro há pouco iniciado.
Marchinhas antigas começam a desfilar na
memória e os blocos de sujo passam em procissão encantadora na retina de um
tempo vivido, exibindo o período aproveitado para comemorar meu aniversário,
seguindo os foliões na grande avenida cheia de mangueiras perfumadas, na já
longínqua e feliz infância.
Uma canção fazia vez sempre que o Carnaval
se aproximava, e ainda sem saber o que de fato significava a Noite dos
Mascarados, do Chico, eu me lembro de brincar balançando as mãos para cima, em
passos lentos e cadenciados, aprendidos com interesse ao observar os adultos e
suas fantasias para os bailes de salão.
Uma lata de leite vazia (pendurada em mim
por grosso barbante que cruzava o pequeno corpo) e duas canetas sem tinta do
meu avô materno serviam de instrumentos para ritmar minha folia, enroscando na
minha fantasia de índia, havaiana ou bailarina, que trazia o rosto pintado e
brilhando por pequenas estrelas que faiscavam de longe e o indefectível batom
vibrante que me acompanha até hoje.
E lá ia eu, perguntando todas as
perguntas da música do Chico, fazendo as duas vozes da interpretação
inesquecível para mim, querendo ser “seresteiro, poeta e cantor”.
Eu ainda não sabia o que era “arder no
seu fogo”... Era “tão menina” e “meu tempo passou” sem que eu tivesse
continuado o meu desfile majestoso aprendido no caminho de mangueiras.
Hoje continuo não sendo “da maneira que
você me quer”. Permaneço a driblar as agruras do caminho defendendo pensamentos
coerentes e práticos, pois nem todos os que produzo são.
Pergunto-me com
frequência “quem é você?” ao ouvir posições radicais, delírios inimagináveis de
poder e ambição, ilusões de magnitude e permanência em todos os aspectos do
viver hodierno.
A bela canção de Chico Buarque hoje me revela
os contrastes que permaneceram no jogo da vida, nos relacionamentos, nas
disputas entre ser ou não ser, no que somos e deixamos de ser, que aprendemos e
esquecemos enquanto caminhamos, jogo eternamente permeado de sedução e fantasia,
a ocupar os espaços que a dureza do cotidiano impõe aos pobres viventes que
cultivam a ilusão de uma conquista futura que pode não chegar.
Uma prosa poética não me permite as
elucubrações duras de uma realidade social cheia de máscaras e enganos, onde o
reinado já não é de Momo e seu corpanzil (a revelar todos os excessos
permitidos e aqueles outros, proibidos), mas de diversos outros mascarados sem
adornos carnavalescos.
Aos sisudos de plantão, a proposta de
relaxarem durante os poucos dias de confete e serpentina. Aos mais afoitos, a
lembrança de que a festa é de alegria e fantasia. Para aqueles que estão no
ponto de equilíbrio, que aproveitem a nostalgia de uma época de ouro, que
possam curtir as possibilidades de outros encontros, e que mantenham o
sentimento de ternura que nos dá a canção que inspirou este editorial.
Vamos brincar e preparar o espírito para
novos tempos, traduzindo o verso “os dois mascarados procuram os seus
namorados” como buscas que nos animam a encontrar nossos pares de sonho e
esperança, na troca sensata e sem barganha que promete que “o que você pedir eu
lhe dou” na dupla via da estrada da vida.
Que seja bem-vindo mais um Carnaval a nos
permitir sorrir para a vida, brincar de ser feliz, embalados pela singeleza do
convite que diz “deixa a festa acabar, deixa o barco correr, deixa o dia
raiar”!
E se “amanhã tudo volta ao normal”, por
que não deixar que cada um “seja o que Deus quiser?”.
Obrigada pela inspiração, Chico.
Sigamos!
CLIQUE ABAIXO PARA OUVIR "A NOITE DOS MASCARADOS" (Chico Buarque)
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