Eberth Franco Vêncio
Regional GOIÁS
E-mail: eberthdr@terra.com.br
Um brinde aos corações tristes. Amor. Dor. E uma caixa de isopor
repleta de corações congelados. Quem vai querer? Preferiria mil vezes ter
rimado amor com Morena Flor, mas não deu certo. Erramos por um mundo faminto de
respostas. Fazer o quê? São coisas que acontecem. Mistérios que lotam igrejas
mantêm a mística, fazem girar moedas. Vocês não fazem ideia do quanto eu queria
andar, andar, andar até gastar os pés, as pernas, o quadril, o corpo inteiro e
sumir na paisagem derretida feito uma das estátuas de cera de Madame Tussauds.
Ando
cheio de tudo isso, de gente vazia, do trânsito parado, do giro dos motores, da
náusea, do calor do momento, da frieza nos olhares, dos milhares de estranhos
se estranhando nas entranhas da cidade, dos motoristas gesticulando com
histeria, homens e mulheres (que vergonha!) enlouquecendo mutuamente com a
falta de espaço, com o excesso de pressa, com um tempo perdido rumo ao
trabalho, o qual, claro, não volta nunca mais, senão nas decrépitas recordações
da velhice. Será melhor perder totalmente a memória, para não ter o que
lamentar? Não há novidade alguma em questionar a vida que se leva. Raro mesmo é
ter coragem para desmamar do caos. A gente se amarra em tragédias.
Vejo
um mundo guinando celeremente à direita, sendo estúpido, arrogante e
individualista a cada dia, enquanto esbraveja palavras de ordem com peito
aberto: “Eu quero muros!”. Os truculentos nunca se sentiram tão confiantes.
“Quem não tem competência não se estabelece.” Ora, quem estabeleceu essa joça?
Não tenho competência, mesmo assim tenho sobrevivido, aos trumps e barrancos, é
verdade. Estou na luta. Quase na lata. Mas estou na luta. Não sou sapo, mas dou
os meus saltinhos. Velejo sem leme, solenemente entregue a fiapos de esperança
por dias melhores. Eu me arvoro numa fé bisonha, é impreciso confessar. Pior
que navegar sem rumo é remar com confiança na direção dos destinos de sempre,
sem nunca pestanejar, como se fosse a coisa mais certa a fazer. Quisera pular
pela escotilha, fugir da matilha que rosna nos calcanhares desse mundo cão, e ser
capitão no meu próprio mar de lágrimas.
Um
brinde sincero e condoído aos corações sofridos. Eu tenho uma compaixão danada
pelos miseráveis. Temos os corações tão parecidos. Essa aqui eu escrevi para os
que se sentem um tanto fora dos padrões vigentes. Já vi gente pulando de
prédios. Isso não se faz com as plantas dos canteiros, parceiros. Um viva aos
que tem pensado em se matar. Parem com isso, chapas! Vamos juntos sobreviver
para quebrar a espinha dorsal desse estado de coisas. Se fracassarmos, dancemos.
Um
brinde aos desempregados. Aos que quebraram uma perna ou uma empresa buscando
empreender. Aos que deram com os burros n’água. Às que se sentiram extremamente
sós durante um estupro coletivo. Aos que viram a própria mãe surtar. Aos que
enterraram um filho. Aos que plantaram uma árvore, mas ela murchou. Aos que
escreveram um livro, mas ele encalhou. Aos desenganados pela medicina. Aos que
foram enganados por gente séria, honesta e de muita confiança. Aos que nunca
viajaram de avião, mas tiveram a sua vila bombardeada. Aos que disputam
migalhas de atenção em campos de refugiados. Aos judiados pelo resto da
humanidade.
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