Marcelo Gurgel Carlos da Silva
Regional CEARÁ
E-mail: marcelo.gurgel@uece.br
O
Ano Inesiano da Cultura promove uma série de eventos importantes em celebração
dos 650 anos de morte da figura mítica de Inês de Castro, tão bem decantada no
episódio narrado por Camões, no Canto III, do poema épico “Os Lusíadas”,
tornando-a uma das mais célebres personagens da História portuguesa, conforme
versejou o notável vate:
“As filhas do Mondego a morte escura
Longo tempo chorando memoraram,
E, por memória eterna, em fonte pura
As lágrimas choradas transformaram.
O nome lhe puseram, que inda dura,
Dos amores de Inês, que ali passaram.
Vede que fresca fonte rega as flores,
Que lágrimas são água e o nome amores.”
Longo tempo chorando memoraram,
E, por memória eterna, em fonte pura
As lágrimas choradas transformaram.
O nome lhe puseram, que inda dura,
Dos amores de Inês, que ali passaram.
Vede que fresca fonte rega as flores,
Que lágrimas são água e o nome amores.”
A consulta
ao sítio eletrônico (www. pedro-ines.com), que explicita a programação traçada,
dá acesso à emblemática logomarca, de uma beleza singular, onde dois corações
vermelhos, lado a lado, fundem-se parcialmente, e de cada um de seus vórtices
brota uma pequena lágrima preta, ambas encimando os nomes em letras góticas:
Pedro e Inês, tendo por conjunção aditiva uma cruz, com trava e haste compostas
por minúsculas lágrimas negras e a intercessão delas assinalada com a singela
figura cordiana encarnada.
Era bela,
doce, apaixonada, triste, ... tirada brutalmente do seu sossego, assassinada na
Quinta das Lágrimas, em Coimbra, por razões de Estado. Foi protagonista
de uma das mais belas estórias de amor da humanidade em todos os tempos, tendo
sido vítima da aristocracia lusitana, que temia pelo fim de sua monarquia,
quando Pedro, o príncipe herdeiro e seu amado, assumisse o trono, pois, sendo
ela de origem castelhana, poderia influenciá-lo no sentido da re-anexação
portuguesa ao reino de Castela.
A
destruição física de Inês não cessou o imorredouro e arrebatador amor de Pedro
que perpetrara, na sequência, uma vingança incomum, cabendo-lhe, com as
próprias mãos, matar, um a um, os assassinos de sua dileta amada, a exceção de
um deles que o infante precisou encomendar a execução em Paris, onde o facínora
encontrava-se homiziado. Não menor foi o seu gesto revanchista, ao exumar o
corpo de sua ducílima Inês e colocá-lo no trono de Portugal, obrigando a
nobreza “portucalense” a reverenciá-la e a beijar-lhe as mãos,
sacramentando-lhe o reconhecimento como “a que foi rainha depois de morta”.
Em uma
atitude tardia, porém terna, os corpos de Pedro I e sua Inês repousam hoje na
mesma igreja, no Mosteiro de Alcobaça, em sarcófagos marmóreos, que foram
violados pelas tropas napoleônicas, comandadas por Junot, quando Portugal foi
ocupado, após a fuga de D. João VI e da realeza portuguesa para o Brasil; os
belos arranjos esculpidos nas urnas funerárias foram mutilados pelos soldados
franceses que esperavam ali achar ouro e pedrarias preciosas, e não apenas os
restos mortais do inditoso casal.
D. Inês de
Castro é o mito revificado. A estória de Inês e de Pedro é, seguramente, a maior
narrativa portuguesa de encontro e desencontro que se filia no conjunto mais
amplo das tragédias de amor, reais ou lendárias, da Europa (Abelardo e Heloísa,
Romeu e Julieta, Tristão e Isolda, dentre tantas). O descanso em paz de seus
restos mortais, no sossego monástico de Alcobaça, merece, realmente, ser
observado; contudo, a sua memória precisa ser cantada, para preservar a
imortalidade de sua lembrança nas gerações vindouras.
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