Por:
Luiz Gonzaga de Braga Barreto
Regional PERNAMBUCO
E-mail: lgbarreto@uol.com.br
Caminhei por terras que em
passado recente fazia parte de um país artificialmente criado, após o final da
I Guerra Mundial, a Iugoslávia.
Eram seis as regiões que sob
pressões, principalmente do marechal Josip Broz Tito, formaram, na década de
1960 a República Socialista Federativa da Iugoslávia: Eslovênia, Croácia,
Bosnia-Ezergovina, Macedônia, Montenegro e Sérvia e ainda a região do Kosovo em
situação indefinida.
Com a queda do Muro de Berlim essas
regiões se tornaram independentes, distanciando-se do comunismo que escravizava
os seus povos. A Eslovênia foi a primeira a garantir sua independência, em 25
de junho de 1991, depois de um plebiscito em dezembro de 1990, vindo em seguida
a Croácia e, depois cada um dos novos países, muito embora a Bósnia-Hezergovina
mantenha uma situação de transição e o Kosovo, sob intervenção internacional
das Nações Unidas.
Em decorrência desse processo de
desmembramento, no período de 1991 até 1995 aconteceu a Guerra da Bósnia, que
culminou com o cruel massacre de Sarayevo, lutas que afetaram profundamente
esses países e provocou uma intervenção internacional no conflito.
A Eslovênia com uma superfície de
20.000 km² tem uma área equivalente ao Estado de Sergipe, ou metade da Suíça, e
faz fronteira com a Croácia, Áustria, Hungria, Itália e com o mar Adriático.
Sua população com dois milhões de habitantes é predominante eslovena, com 80%,
sendo as minorias constituídas por italianos e húngaros, mas também existem
outros grupos étnicos formados por croatas, sérvios, bósnios, iugoslavos,
macedônios, montenegrinos e albaneses, estes chegaram depois da II Grande
Guerra Mundial como imigrantes econômicos. É um país com montanhas abrigando
parte dos Alpes, sendo o 3º país com mais floresta da Europa, depois da Suécia
e Finlândia, o que tem muita repercussão na sua economia.
A capital é a cidade de Liubliana
com uma população de trezentos mil habitantes, com uma infraestrutura de uma
grande cidade. É tranquila, organizada e uma das mais seguras da Europa.
Fala-se o esloveno que é muito
diferente dos outros idiomas eslavos, inclusive o croata e o sérvio.
A Eslovênia é signatária de
vários Acordos com a União Europeia, entre eles o Acordo de Schengen pelo qual
foram abolidas as fronteiras entre os países signatários, permitindo a livre
circulação de pessoas entre os países. Daí que passei sem qualquer protocolo
nas fronteiras entre a Croácia e a Eslovênia, o mesmo acontecendo entre a
Eslovênia e a Itália. Por este Acordo os cidadãos da União Europeia não
necessitam de vistos para ingressar nos países europeus signatários desse
documento. Os cidadãos que não são fazem parte desse grupo de nações efetuam os
vistos na alfândega no primeiro país em que ingressar na região.
Voltemos à bela e pacata cidade de
Liubliana. Caminhei em suas ruas e praças, admirei a arquitetura, suas
peculiaridades, o mercado público, as feiras de verduras, de frutas, de
bugigangas, e suas ruas limpas e arrumadas. Havia até, como na maioria das
cidades, as quinquilharias chinesas, de frágil durabilidade. Artigos que nem se
parecem com os de antigamente, da mesma China, como as finas sedas, as
meiguices do bronze ou o encantamento das porcelanas.
O símbolo de Liubliana é um
Dragão que tem duas versões para sua escolha: uma oficial e outra dada pela
boca do povo e que beiram a mitologia.
Na versão oficial, conta-se que
os argonautas comandados por Jasão depois de roubarem o velocino de ouro do Rei
Eetes, do Reino da Cólquida, na fuga, passaram por Liubliana e o próprio Jasão
depois de uma renhida luta matou o protetor da cidade que era um Dragão. Desta
forma, se faz uma ilação entre a cidade de Liubliana com a mitologia grega,
sendo o Dragão escolhido como o símbolo da cidade.
Pela boca do povo, conta-se que
naquela localidade, há muito tempo, vivia um grande e formoso dragão. A ele não
está associada a história de uma donzela mantida presa no seu castelo e que
necessitasse de ser resgatada, por ele ser um malvado dragão. Não! Ele era
educado, e somente de quando em vez botava fogo pela boca, alimentava-se de
caças e fazia voos olímpicos sobre a cidade.
Conta-se que estando na idade
adulta e tendo encontrado duas fêmeas de dragão que lhe agradaram, resolveu se
casar. Tinha que escolher uma entre elas, a que seria o seu amor. Uma era de
encantadora beleza e a outra bonita pela sua simpatia, bondade e delicadeza. Depois
de muito pensar a escolha recaiu sobre a última e ele a pediu em matrimônio.
Casaram-se e tiveram depois de
alguns meses um lindo bebê dragãozinho. Ele cresceu com muito amor e dedicação
dos seus pais.
Com o tempo, eles perceberam que
o seu comportamento parecia estranho. Era muito bonito, gostava de estar sempre
elegante, para se perfumar usava as ervas do campo, raramente lançava fogo pela
boca e narinas, era semivegetariano, para se eximir de devorar tantos animais.
Mais do que tudo, era muito romântico, além de gostar de cantar, declamar e fazer
grandes poemas.
De início o pai, que era um machão,
ficou decepcionado com as atitudes do filho, pois gostaria muito que ele fosse
um grande macho e dominador daqueles povos. Mas a mãe, com um doce e grande
coração, procurava justificar o procedimento do filho dragão. Ele era adorado por todos os que faziam sua
comunidade e até em aldeias distantes o seu prestígio era muito evidente. Era
uma celebridade. O pai pela influência da mãe e da idolatria da comunidade se
acostumou também com os hábitos do dragãozinho.
Quando ele atingiu a puberdade,
em pleno vigor da juventude, aos seus 150 anos, duas fadas que também
idolatravam o poeta, resolveram utilizar as suas magias para eternizar a beleza
do dragãozinho. Com os seus poderes elas lhe fizeram um encantamento.
Quando ele estava tranquilamente
apreciando a natureza na margem do Rio Liublianica, como era o seu costume, e
fonte de suas inspirações, as fadas lhe fizeram uma magia e o dragãozinho, em
juventude e beleza permaneceu eternamente adormecido. Ele ficou na beira do rio
e ali continua encantado até hoje.
Nesse local, no Rio Liublianica foi
construída uma ponte para ligar suas margens e que leva o nome de “Ponte do
Dragão”. Diz-se que ele acordará quando por sobre a ponte passar uma belíssima
donzela que lhe desperte o seu interesse.
Por essa ponte, cujo nome oficial
é Ponte Francisco José I, em homenagem ao rei da Áustria, há muito tempo vêm
desfilando belíssimas jovens, do seu e de outros países, no entanto, até agora
não se observou o despertar do dragão.
Assim é a bela Liubliana com o
seu dragão, com as lutas libertárias e com o seu poeta France Preseren, que celebrou
em poesias, a sua amada e musa inspiradora Julia Primitz sem que conseguisse
dela um único beijo ou sequer sentir de perto um simples dos seus suspiros de
paixão, pois os seus pais não permitiram o amor entre uma jovem rica e de
família tradicional com um pobre poeta do amor.
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