06 fevereiro, 2017

FUI À ESLOVÊNIA

Por: 
Luiz Gonzaga de Braga Barreto
Regional PERNAMBUCO









Caminhei por terras que em passado recente fazia parte de um país artificialmente criado, após o final da I Guerra Mundial, a Iugoslávia.

Eram seis as regiões que sob pressões, principalmente do marechal Josip Broz Tito, formaram, na década de 1960 a República Socialista Federativa da Iugoslávia: Eslovênia, Croácia, Bosnia-Ezergovina, Macedônia, Montenegro e Sérvia e ainda a região do Kosovo em situação indefinida.

Com a queda do Muro de Berlim essas regiões se tornaram independentes, distanciando-se do comunismo que escravizava os seus povos. A Eslovênia foi a primeira a garantir sua independência, em 25 de junho de 1991, depois de um plebiscito em dezembro de 1990, vindo em seguida a Croácia e, depois cada um dos novos países, muito embora a Bósnia-Hezergovina mantenha uma situação de transição e o Kosovo, sob intervenção internacional das Nações Unidas.

Em decorrência desse processo de desmembramento, no período de 1991 até 1995 aconteceu a Guerra da Bósnia, que culminou com o cruel massacre de Sarayevo, lutas que afetaram profundamente esses países e provocou uma intervenção internacional no conflito.

A Eslovênia com uma superfície de 20.000 km² tem uma área equivalente ao Estado de Sergipe, ou metade da Suíça, e faz fronteira com a Croácia, Áustria, Hungria, Itália e com o mar Adriático. Sua população com dois milhões de habitantes é predominante eslovena, com 80%, sendo as minorias constituídas por italianos e húngaros, mas também existem outros grupos étnicos formados por croatas, sérvios, bósnios, iugoslavos, macedônios, montenegrinos e albaneses, estes chegaram depois da II Grande Guerra Mundial como imigrantes econômicos. É um país com montanhas abrigando parte dos Alpes, sendo o 3º país com mais floresta da Europa, depois da Suécia e Finlândia, o que tem muita repercussão na sua economia.

A capital é a cidade de Liubliana com uma população de trezentos mil habitantes, com uma infraestrutura de uma grande cidade. É tranquila, organizada e uma das mais seguras da Europa.

Fala-se o esloveno que é muito diferente dos outros idiomas eslavos, inclusive o croata e o sérvio.

A Eslovênia é signatária de vários Acordos com a União Europeia, entre eles o Acordo de Schengen pelo qual foram abolidas as fronteiras entre os países signatários, permitindo a livre circulação de pessoas entre os países. Daí que passei sem qualquer protocolo nas fronteiras entre a Croácia e a Eslovênia, o mesmo acontecendo entre a Eslovênia e a Itália. Por este Acordo os cidadãos da União Europeia não necessitam de vistos para ingressar nos países europeus signatários desse documento. Os cidadãos que não são fazem parte desse grupo de nações efetuam os vistos na alfândega no primeiro país em que ingressar na região.

Voltemos à bela e pacata cidade de Liubliana. Caminhei em suas ruas e praças, admirei a arquitetura, suas peculiaridades, o mercado público, as feiras de verduras, de frutas, de bugigangas, e suas ruas limpas e arrumadas. Havia até, como na maioria das cidades, as quinquilharias chinesas, de frágil durabilidade. Artigos que nem se parecem com os de antigamente, da mesma China, como as finas sedas, as meiguices do bronze ou o encantamento das porcelanas.

O símbolo de Liubliana é um Dragão que tem duas versões para sua escolha: uma oficial e outra dada pela boca do povo e que beiram a mitologia.

Na versão oficial, conta-se que os argonautas comandados por Jasão depois de roubarem o velocino de ouro do Rei Eetes, do Reino da Cólquida, na fuga, passaram por Liubliana e o próprio Jasão depois de uma renhida luta matou o protetor da cidade que era um Dragão. Desta forma, se faz uma ilação entre a cidade de Liubliana com a mitologia grega, sendo o Dragão escolhido como o símbolo da cidade.

Pela boca do povo, conta-se que naquela localidade, há muito tempo, vivia um grande e formoso dragão. A ele não está associada a história de uma donzela mantida presa no seu castelo e que necessitasse de ser resgatada, por ele ser um malvado dragão. Não! Ele era educado, e somente de quando em vez botava fogo pela boca, alimentava-se de caças e fazia voos olímpicos sobre a cidade.

Conta-se que estando na idade adulta e tendo encontrado duas fêmeas de dragão que lhe agradaram, resolveu se casar. Tinha que escolher uma entre elas, a que seria o seu amor. Uma era de encantadora beleza e a outra bonita pela sua simpatia, bondade e delicadeza. Depois de muito pensar a escolha recaiu sobre a última e ele a pediu em matrimônio.
Casaram-se e tiveram depois de alguns meses um lindo bebê dragãozinho. Ele cresceu com muito amor e dedicação dos seus pais.

Com o tempo, eles perceberam que o seu comportamento parecia estranho. Era muito bonito, gostava de estar sempre elegante, para se perfumar usava as ervas do campo, raramente lançava fogo pela boca e narinas, era semivegetariano, para se eximir de devorar tantos animais. Mais do que tudo, era muito romântico, além de gostar de cantar, declamar e fazer grandes poemas.

De início o pai, que era um machão, ficou decepcionado com as atitudes do filho, pois gostaria muito que ele fosse um grande macho e dominador daqueles povos. Mas a mãe, com um doce e grande coração, procurava justificar o procedimento do filho dragão.  Ele era adorado por todos os que faziam sua comunidade e até em aldeias distantes o seu prestígio era muito evidente. Era uma celebridade. O pai pela influência da mãe e da idolatria da comunidade se acostumou também com os hábitos do dragãozinho.
Quando ele atingiu a puberdade, em pleno vigor da juventude, aos seus 150 anos, duas fadas que também idolatravam o poeta, resolveram utilizar as suas magias para eternizar a beleza do dragãozinho. Com os seus poderes elas lhe fizeram um encantamento.

Quando ele estava tranquilamente apreciando a natureza na margem do Rio Liublianica, como era o seu costume, e fonte de suas inspirações, as fadas lhe fizeram uma magia e o dragãozinho, em juventude e beleza permaneceu eternamente adormecido. Ele ficou na beira do rio e ali continua encantado até hoje.

Nesse local, no Rio Liublianica foi construída uma ponte para ligar suas margens e que leva o nome de “Ponte do Dragão”. Diz-se que ele acordará quando por sobre a ponte passar uma belíssima donzela que lhe desperte o seu interesse.

Por essa ponte, cujo nome oficial é Ponte Francisco José I, em homenagem ao rei da Áustria, há muito tempo vêm desfilando belíssimas jovens, do seu e de outros países, no entanto, até agora não se observou o despertar do dragão.

Assim é a bela Liubliana com o seu dragão, com as lutas libertárias e com o seu poeta France Preseren, que celebrou em poesias, a sua amada e musa inspiradora Julia Primitz sem que conseguisse dela um único beijo ou sequer sentir de perto um simples dos seus suspiros de paixão, pois os seus pais não permitiram o amor entre uma jovem rica e de família tradicional com um pobre poeta do amor.










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