07 fevereiro, 2017

O UNIVERSO DE PERCÍLIO

Por:
Lúcio Antonio Prado Dias
Regional SERGIPE











Fui conhecer o Parque dos Falcões, localizado em Itabaiana, em Sergipe. Havia combinado comigo mesmo que um dia iria ao lugar, atendendo aos  insistentes convites formulados por Dinho Duarte, um dos grandes entusiastas desse projeto que Sergipe ainda não deu o devido valor e que resiste a funcionar (com muita dificuldade) há 15 anos, sob o comando de José Percílio. 

O projeto de Percílio não é comercial, não tem fins lucrativos, não foi concebido preliminarmente visando o turismo e o que se observa no ambiente é a constatação clara da relação de um homem com cada ave que cria, que cuida, que acaricia, que com ela troca diálogos e carinhos, em simbiose perfeita, homem e ave cúmplices numa processo que foi iniciado quando ele tinha apenas 7 anos.

O pequeno ovo que chegou as suas mãos de criança e que deu origem a Tito, uma rapina hoje com 24 anos de idade, marcou o início da paixão de Percílio pela aves. Tito (apesar do nome, trata-se de uma fêmea) foi seu companheiro de infância, seu amigo de todas as horas, um confidente. Tito ensinou a Percílio a técnica do adestramento. Não precisou fazer cursos, estágios e esquentar bancos acadêmicos, para entender e praticar essa arte milenar. Para ele,  bastou somente o “conversar com os bichos”, observar os seus hábitos, seus ruídos, o seu canto e o seu vôo, numa integração plena.

No entanto e paradoxalmente, Percílio é mais conhecido fora do estado. Recebe convites para ministrar cursos no Japão, na China e em outros países da Europa. Já foi entrevistado no Programa do Jô Soares, mostrou suas habilidades no Programa do Faustão e no de Ana Maria Braga. É um talento reconhecido internacionalmente. Sua fama corre o mundo através de publicações em revistas especializadas, nacionais e estrangeiras. Seu projeto é reconhecido pelo Ibama, que lhe envia aves doentes ou mutiladas para que ele as trate e as recupere. Mantém o parque as suas expensas e com a contribuição individual de curiosos e turistas, na maioria de outros estados. Sergipe, lamentavelmente, não valoriza o seu ofício. Não recebe qualquer tipo de apoio, ajuda, colaboração ou incentivo dos poderes públicos, quer seja municipal, estadual ou federal.

Para se chegar ao local, saindo de Aracaju, é só seguir a BR-235 em direção a Itabaiana. Na altura do km 43 (povoado Gandu), entra-se à direita em direção à Serra de Itabaiana. Não há placas indicativas adequadas ( o acesso é por uma estrada de barro estreita e esburacada, cheia de valas e córregos, com uma extensão de 2,5 km, onde só passa um veículo pequeno de cada vez).

Visita de políticos e falsas promessas não faltam. Há algum tempo, o Secretario de Turismo no Governo João Alves Pedrinho Valadares visitou o local, levou técnicos, alimentou sonhos  que, entretanto, não saíram do papel. Tenho visto por esse Brasil afora e até mesmo no exterior, atrações ditas turísticas que não se comparam nem de longe com o que temos no Parque dos Falcões. Mas são valorizadas, ao turista é oferecida uma logística admirável.

O ambiente natural ao pé da serra, bem arborizado, com uma bela visão dos arredores e, sobretudo, o espetáculo dos voos rasantes dos belos falcões adestrados que pousam em nossas mãos num toque de mágica, tornam um local um templo sagrado.  São mais de 300 aves entre falcões, gaviões e corujas, acomodadas em seus abrigos precários e nas frondosas árvores que existem no local, naquele que é considerado o primeiro centro conservacionista de aves silvestres do Brasil e o segundo no gênero na America Latina. Tudo isso ainda se mantém graças à obstinação desse homem, que prefere estar no convívio simples do campo, desempenhando a sua arte e o seu ofício, recusando convites insistentes para ministrar cursos de adestramento pelos quatro cantos do mundo para ficar ao lado das suas aves.

Sergipe tem uma dívida com José Percílio dos Falcões e nunca será tarde resgatá-la.








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