01 março, 2017

MACHISTA

Por:
Luiz Gondim de Araújo Lins
Regional RIO DE JANEIRO















Filho de um rico fazendeiro do interior habituara-se, desde cedo, a presenciar a ascendência do pai e a submissão da mãe. Assim, possuía pela herança e também pela convivência social, a firme convicção da superioridade do homem sobre a mulher.
Além do mais, fora o único filho e suas três irmãs sempre exerceram papel secundário naquela família.

Ele cresceu e se desenvolveu esnobando as mulheres, usando frases de efeito, que não eram suas, mas que ele adotara e incorporara ao seu vocabulário, tais como: “uma mulher é como um charuto: é preciso acendê-lo várias vezes” ou então: “se você tem medo da solidão, não se case”.

Mas o fato é que ele se casou com uma jovem da cidade, muito bonita e também muito pobre. Ele possuía dinheiro a rodo, mas tinha um defeito: uma perna mais fina, sequela de paralisia infantil, não tomara vacina, pois o pai não autorizara por achar uma bobagem. Coisas da vida, os contrastes se buscam: o rico e a pobre, a bela e o feio.

Desde que se conheceram ele impôs e ela aceitou seu acendrado machismo, inclusive com dois pensamentos emoldurados, um no quarto do casal e outro na sala de visitas, com os seguintes dizeres: ”as mulheres são como a sopa, não se deve deixá-las esfriar” e “o amor é um esforço que o homem faz para se contentar com apenas uma mulher!”.

Ele decidia sobre tudo dentro de casa, só ele falava alto, nem conta bancária a mulher possuía.

Numa das reuniões que deu em sua bela mansão, para a qual só convidara amigos machistas, já tocado pelo álcool, proferiu um pequeno discurso, arrematando com as seguintes palavras: “Não há nada no mundo pior que uma mulher, a não ser uma outra mulher”. Os aplausos foram delirantes em meio aos gritos e urros dos amigos; sua pobre esposa só fez baixar a cabeça.

Após mais algumas doses de whisky, deu a última mensagem daquela noite: “as mulheres são mais castas nas orelhas do que no resto do corpo”. Sucesso retumbante! Foi carregado em triunfo e lhe foi concedido o título, por unanimidade, de “O REI DOS MACHOS”.

A esposa passou a noite em claro, remoendo-se de ódio, seu limite fora atingido e ultrapassado, sentiu-se tomada por um novo, irresistível e temível sentimento: o ressentimento. Ele pulsou em suas veias, revolveu as entranhas, conturbou o cérebro. Amadureceu sua vingança e a pôs em prática: teve relações sexuais com diversos homens que estiveram em sua casa naquela maldita noite. A cada um deles ela dizia e repetia: “certas mulheres amam tanto seus maridos que, para não os gastar, elas usam os de suas amigas”.

Certa noite, ao chegar em casa, o machista estranhou o silêncio reinante, chamou pela mulher, gritou, nenhuma resposta. Em cima da mesa da sala de jantar achou um bilhete com uma letra que logo reconheceu. Assim dizia:

“Você é uma droga como homem e o mesmo não pode dizer de mim, pergunte aos seus amigos. Vocês não são de nada, não passam de pobres objetos descartáveis.

Assinado A VINGADORA.


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