Por:
Luiz Gondim de Araújo Lins
Regional RIO DE JANEIRO
E-mail: luiggondim@gmail.com
Filho de um rico fazendeiro do interior
habituara-se, desde cedo, a presenciar a ascendência do pai e a submissão da
mãe. Assim, possuía pela herança e também pela convivência social, a firme
convicção da superioridade do homem sobre a mulher.
Além do mais, fora o único filho e suas
três irmãs sempre exerceram papel secundário naquela família.
Ele cresceu e se desenvolveu esnobando as
mulheres, usando frases de efeito, que não eram suas, mas que ele adotara e
incorporara ao seu vocabulário, tais como: “uma mulher é como um charuto: é
preciso acendê-lo várias vezes” ou então: “se você tem medo da solidão, não se
case”.
Mas o fato é que ele se casou com uma jovem
da cidade, muito bonita e também muito pobre. Ele possuía dinheiro a rodo, mas
tinha um defeito: uma perna mais fina, sequela de paralisia infantil, não
tomara vacina, pois o pai não autorizara por achar uma bobagem. Coisas da vida,
os contrastes se buscam: o rico e a pobre, a bela e o feio.
Desde que se conheceram ele impôs e ela
aceitou seu acendrado machismo, inclusive com dois pensamentos emoldurados, um
no quarto do casal e outro na sala de visitas, com os seguintes dizeres: ”as
mulheres são como a sopa, não se deve deixá-las esfriar” e “o amor é um esforço
que o homem faz para se contentar com apenas uma mulher!”.
Ele decidia sobre tudo dentro de casa, só
ele falava alto, nem conta bancária a mulher possuía.
Numa das reuniões que deu em sua bela
mansão, para a qual só convidara amigos machistas, já tocado pelo álcool,
proferiu um pequeno discurso, arrematando com as seguintes palavras: “Não há
nada no mundo pior que uma mulher, a não ser uma outra mulher”. Os aplausos
foram delirantes em meio aos gritos e urros dos amigos; sua pobre esposa só fez
baixar a cabeça.
Após mais algumas doses de whisky, deu a
última mensagem daquela noite: “as mulheres são mais castas nas orelhas do que
no resto do corpo”. Sucesso retumbante! Foi carregado em triunfo e lhe foi
concedido o título, por unanimidade, de “O REI DOS MACHOS”.
A esposa passou a noite em claro,
remoendo-se de ódio, seu limite fora atingido e ultrapassado, sentiu-se tomada
por um novo, irresistível e temível sentimento: o ressentimento. Ele pulsou em
suas veias, revolveu as entranhas, conturbou o cérebro. Amadureceu sua vingança
e a pôs em prática: teve relações sexuais com diversos homens que estiveram em
sua casa naquela maldita noite. A cada um deles ela dizia e repetia: “certas
mulheres amam tanto seus maridos que, para não os gastar, elas usam os de suas
amigas”.
Certa noite, ao chegar em casa, o machista estranhou o
silêncio reinante, chamou pela mulher, gritou, nenhuma resposta. Em cima da
mesa da sala de jantar achou um bilhete com uma letra que logo reconheceu.
Assim dizia:
“Você é uma droga como homem e o mesmo não
pode dizer de mim, pergunte aos seus amigos. Vocês não são de nada, não passam
de pobres objetos descartáveis.
Assinado A VINGADORA.
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