Manoel Odir Rocha
Regional TOCANTINS
A literatura e a medicina,
por incrível que pareça, estão umbilicalmente ligadas, desde os primórdios do
homem e, estão entre as maiores produções do engenho humano. No início, a
preocupação do homem primitivo com a manutenção da vida, com a doença, com a
dor e a própria morte; paralela à transmissão oral do conhecimento que,
perpetuou e desenvolveu, posteriormente, com a invenção da escrita. Ambas,
sempre juntas, são interessadas na vida e na inquietação do ser humano. A literatura, sendo universal, pode ser
científica e artística.
Hipócrates, o pai da
medicina, dedicou-se à literatura científica e, afirmava ser a medicina, assim
como a literatura, uma arte, por envolver sempre três atores: o médico, o
paciente e a doença. Moacyr Scliar, nosso
médico escritor maior, afirma que a medicina é um terreno fértil para a
inspiração literária, pois sua prática humanista mergulha na natureza humana.
A familiaridade com a
profissão, se somada à convivência com a literatura, permite ao médico conhecer
melhor o seu paciente. Hábitos de ler e escrever ajuda a organizar as ideias e,
propicia ao profissional da medicina uma melhor comunicação com o seu doente,
com a família do mesmo, com os colegas e demais profissionais da saúde, já que,
comunicar-se bem é requisito fundamental para o médico. Essa relação ajuda o
profissional a reconhecer a dimensão humana, tornando-o mais eficiente e
qualificado para lidar com as condições humanas e, podendo finalmente, exercer
a medicina de forma plena.
Além da leitura
obrigatória e frequente da literatura médico-científica, alguns livros de
autores não médicos demonstram excelentes descrições de situações que são de
grande utilidade para os colegas médicos, como O Alienista, de Machado de Assis;
A Tenda dos Milagres, de Jorge Amado; A Montanha Mágica de Thomas Mann e, A
Morte de Ivan Llicht, de Leon Tolstoi. A leitura é, pois, um exercício
formidável e, a argúcia que certos escritores descrevem a realidade, que vai
muito além do que se possa imaginar. A literatura, através da leitura, mexe com
os sentimentos, exacerba e treina a mente, posto que, diferentemente de outras
artes, dá asas à imaginação do leitor, desenvolvendo-a e apurando-a.
No mundo inteiro, desde a mais remota época, pelo seu contato íntimo com o drama da vida humana, fez do médico um observador privilegiado desses sentimentos, gravando e criando histórias; desenvolvendo assim o interesse pela arte de escrever, por prazer, ou quem sabe, como um refúgio anti-stress.
Só para citar alguns: na
Antiguidade vamos buscar os nomes do grego Ctesias de Cnido e do próprio
apóstolo e médico São Lucas. Passando, pela Idade Média, com Avicena,
Maimônides, Nicolau Copérnico, Girolano Fracastoro e Francisco Rabelais; pela
Idade Moderna, com Thomas Campion, Luis Baharona de Soto, Jaques Grévin, Jan
Brozek e Angelus Silesius; na Idade Contemporânea, Oliver Goldsmit, Arthur
Conan Doyle, Alexandre Dumas, A. J. Cronin, Somerset Mougan e Fernando Namora.
No Brasil: Gonçalves
Magalhães, Joaquim Manoel de Macedo, Josué de Castro, Guimarães Rosa, Pedro
Nava, Pedro Saraiva, Ezequiel Dias, Otávio Magalhães, Juscelino Kubitschek,
Americano do Brasil, Eurico Branco, Waldemir Miranda, José Octávio Cavalcante,
Ciro Marins, Carlos Chagas Filho, Júlio Afrânio Peixoto, Francisco Ayres da
Silva, Zé Dantas, Júlio Paternostro, Moisés Paciornick e Pedro Ludovico. Em
atividade: Hélio Begliomini, Flerts Nebó, Thereza Freire, William Harris,
Moacyr Scliar(ABL), Ivo Pitanguy(ABL), João Peregrino Júnior(ABL), Drauzio Varela,
Içami Tiba, Fausto Valle, Hélio Moreira e Daniel Emídio.
Mesmo no Tocantins, apesar
de ser um Estado muito novo e com baixa densidade populacional, já há um
expressivo número de médicos em franca produção literária: Célio Pedreira,
Pedro Cuelar, Múcio Brekenfeld, Jales Paniago, Murilo Vilela, Fernando Lira,
Mário Moisés, Eduardo Bezerra, Mardonio, Joanito Cavalcante, Luiz Teixeira,
Eduardo Manzano, Heloisa Manzano e Odir Rocha.
Vale salientar a presença e atuação da Sociedade Brasileira de Escritores Médicos (SOBRAMES), regional Tocantins, incentivando e apoiando as iniciativas literárias dos esculápios tocantinenses.
Para encerrar, citaremos Moacyr Scliar, o médico-escritor de maior sucesso, tanto no Brasil como no exterior, com mais de 60 obras publicadas em oito idiomas: “Literatura e medicina, lidam com a palavra; no caso da medicina, a palavra é um instrumento terapêutico, no caso da literatura um instrumento de criação estética. Mas interessantes paralelos podem ser estabelecidos entre diferentes usos da palavra. A inter-relação entre a medicina e a literatura é um dos aspectos principais das chamadas Humanidades Médicas, que vêm sendo introduzidas nos currículos de várias escolas médicas”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigado por participar.