Marco Antonio Fabiani
Regional PARANÁ
A tarde quente, emudecida, arrastava-se no meio daquele nada. Ele contava a Joselio acontecidos de mais de uma década. O tempo dilatado de uma vida no crepúsculo, no entanto, não permitia dimensionar esse espaço e Jacinto falava como se tudo se passasse agora, há pouco. Olhavam de vez em quando através da janela e o areão branquinho de terra fraca refletia a claridade a quase cegar.
Jacinto estendeu a mão nodosa, movendo os dedos com certa dificuldade e mostrou a caixinha de fósforos. Abriu lentamente e espalhou o torrão sobre a mesa, sem se importar com a sujeira. E a terra escura ressecada espalhou seu cheiro.
“É terra roxa encaroçada, Joselio.”
Os dois ficaram alguns minutos esfregando a terra entre os dedos, espremendo, espalmando sobre a mesa, sentindo a textura. Joselio passou o dedo na caixa e extraiu o resto. Tocar essa quantidade minúscula iluminava seu cérebro e ele via a quantidade imensa, enormes extensões de terra roxa. Um biólogo que espreita uma única célula ao microscópio e imagina o ser completo.
“Veio de onde, essa amostra, Jacinto.”?
“Do Norte do Paraná.”
“Você volta pra esse norte?”
“Não, vai você. Não tenho força pras semeaduras. Mesmo em terra assim, não faço mais brotar riquezas.”
Um galo cantou, o cão que estava sob a cadeira levantou a cabeça, despertando do sono profundo.
Jacinto e Joselio olharam mais uma vez através da janela. O sol alaranjava-se no horizonte. A terra estava menos esbranquiçada. Não tinha verde. Jacinto olhou a mesa, a viola com a corda turina arrebentada, a salinha pobre.
“Esperança está sempre longe, onde a gente só põe a mão depois de muito arrastar os pés.”
Joselio indagou:
“Vai?”
Jacinto responde num murmúrio:
“Vou.”
O sol estourou na cara do velho Jacinto, refletindo um brilho estranho e
fazendo a barba rala parecer uma soqueira de trigo. O rosto sério, contrito,
acompanhava as palavras no tom de quem revelava um segredo vital.
A tarde quente, emudecida, arrastava-se no meio daquele nada. Ele contava a Joselio acontecidos de mais de uma década. O tempo dilatado de uma vida no crepúsculo, no entanto, não permitia dimensionar esse espaço e Jacinto falava como se tudo se passasse agora, há pouco. Olhavam de vez em quando através da janela e o areão branquinho de terra fraca refletia a claridade a quase cegar.
Jacinto estendeu a mão nodosa, movendo os dedos com certa dificuldade e mostrou a caixinha de fósforos. Abriu lentamente e espalhou o torrão sobre a mesa, sem se importar com a sujeira. E a terra escura ressecada espalhou seu cheiro.
“É terra roxa encaroçada, Joselio.”
Os dois ficaram alguns minutos esfregando a terra entre os dedos, espremendo, espalmando sobre a mesa, sentindo a textura. Joselio passou o dedo na caixa e extraiu o resto. Tocar essa quantidade minúscula iluminava seu cérebro e ele via a quantidade imensa, enormes extensões de terra roxa. Um biólogo que espreita uma única célula ao microscópio e imagina o ser completo.
“Veio de onde, essa amostra, Jacinto.”?
“Do Norte do Paraná.”
“Você volta pra esse norte?”
“Não, vai você. Não tenho força pras semeaduras. Mesmo em terra assim, não faço mais brotar riquezas.”
Um galo cantou, o cão que estava sob a cadeira levantou a cabeça, despertando do sono profundo.
Esperou
novo canto. Não veio. Voltou pros sonhos de bicho.
Jacinto e Joselio olharam mais uma vez através da janela. O sol alaranjava-se no horizonte. A terra estava menos esbranquiçada. Não tinha verde. Jacinto olhou a mesa, a viola com a corda turina arrebentada, a salinha pobre.
“Esperança está sempre longe, onde a gente só põe a mão depois de muito arrastar os pés.”
Joselio indagou:
“Vai?”
Jacinto responde num murmúrio:
“Vou.”
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