20 setembro, 2017

TICA E FLORESTIQUINHA

Por:
Elizabeth Gomes de Oliveira
Regional RIO DE JANEIRO
Email: elizabethg@terra.com.br


  







Lá longe, bem perto do arco-íris, morava uma linda árvore, a única existente no lugar.

Era uma pequena amendoeira, com um tronco largo, galhos firmes e  raízes profundas
que se dividiam pela terra. Chamava-se Tica.

Na primavera as folhas brotavam. No verão elas se mostravam tão verdes como a água do mar. No outono, as folhas se tornavam amarelas e cobriam a terra com um tapete de ouro, e as amêndoas enfeitavam a solitária árvore.Porém, no inverno, Tica.sentia frio porque perdia o cobertor feito de folhas que servia para aquecer o seu tronco. Durante o inverno, a amendoeira sofria muito porque imaginava que se não fosse tão só poderia sentir mais calor, porque os seus galhos poderiam abraçar outras árvores. E a árvore chorava, chorava e chorava.

Certa noite, choveu muito e as lágrimas da pequena árvore se misturaram com a água da chuva. Tica ficou tão molhada que quase morreu. Então pensou: “Por que vivo tão só? Onde poderei encontrar outra amendoeira neste mundo? Minhas raízes não precisam de tanta água e se eu tivesse uma companheira, juntas poderíamos  matar a sede.Mas onde posso encontrá-la?” E Tica pediu ao sol, que era seu amigo, para surgir e secar a terra, que ainda estava úmida.

No dia seguinte, o sol nasceu belo e vermelho e saudou a arvorezinha dizendo-lhe:

_ Bom dia amiga, não fique tão triste e sinta o meu calor. Agora poderei enxugar  suas lágrimas e secar a água da chuva. Embora agradecida, Tica lhe fez um alerta:

_ Doce amigo, enxugue as minhas lágrimas e seque a água da chuva, mas cuidado para não queimar os meus galhos, porque senão eu morrerei.

O sol, que era sábio, porém muito preguiçoso, se esqueceu de se pôr e quase queimou os galhos da solitária árvore. Ela então berrou indignada e pediu para ele ir embora:

_ Ó sol, porque você é tão descuidado? Eu preciso de alguém que cuide de mim e você é muito preguiçoso. Não quero mais que enxugue as minhas lágrimas e nem seque a água da chuva. Você não serve para ser meu amigo. E choramingou:

_ Ah se eu pudesse ter uma árvore amiga! Ela poderia me fazer sombra e eu não correria o risco de morrer queimada. Mas onde posso encontrá-la?

Cansada, Tica pensou em pedir ajuda ao vento para esfriar os seus galhos:

_ Por favor, meu querido vento, sopre os meus galhos porque eles estão me ardendo e eu preciso de um sopro para refrescar-me, mas preste atenção para não soprar muito forte porque senão eu poderei tombar.

_ Pois não amiga, vou tomar cuidado. Respondeu ele.

Mas o vento, encantado, distraiu-se com a beleza da brisa que passava ao seu lado e para chamar a sua atenção, ele soprou tão forte que quase derrubou a amendoeira. Vários galhos soltaram-se do tronco e espalharam-se por toda a terra e a arvorezinha desesperou-se.

_ Suma daqui vento maldoso, eu preciso de alguém que cuide de mim e você é muito distraído. Eu não quero mais que você  me refresque  com o seu sopro. E mais uma vez lamentou-se: “Ah se eu tivesse uma árvore amiga, ela poderia balançar os seus galhos suavemente em frente aos meus e eles me refrescariam, e eu não correria o risco de tombar. Mas onde posso encontrá-la?”

E adormeceu. À noite, a pequena amendoeira sentiu vergar um dos galhos e gritou.

_Quem está aí?

Com olhos atentos, respondeu um homem:

_ Sou eu pequena amiga. Quero me esconder da lua porque ela fere os meus olhos.

A árvore, um pouco aflita, perguntou:

_ O que você pode fazer por mim? Pode me abrigar da chuva com o seu corpo? Pode me proteger do vento e aparar o sol com as suas mãos?

_ Falou com voz firme o homem:

_ Tudo o que posso fazer é  espantar os insetos e pássaros que vêm comer  os seus frutos.

_ Eu não me incomodo com esses animaizinhos que vem comer as minhas amêndoas porque elas podem renascer, e além do mais, eles me fazem cócegas e eu quase morro de tanto rir. Falou a arvorezinha com toda a certeza. E continuou:

 _Portanto, eu não preciso de você porque não me protege da chuva, do sol e nem do vento, e depois, tem uma coisa: você é muito pesado, e pode machucar os meus galhos. Afaste-se de mim. E a arvorezinha resmungou:

_ Ah se existisse uma outra árvore  para me proteger dos homens atrevidos que entortam os meus galhos! .Mas onde posso encontrá-la? E adormeceu novamente.

Na manhã seguinte, a pequena amendoeira estava repleta de pássaros que vieram construir ninhos entre os seus galhos.

Mas onde posso encontrá-la?

A arvorezinha, zangada, queixou-se:

 _ Por que tanta algazarra?

 _ A primavera chegou. Responderam os pássaros. O inverno já foi embora e agora os seus  galhos ficarão cheios de folhas e frutos que abrigarão os nossos filhotes.

 _ Vocês fazem muito ruído e eu não poderei sentir o prazer de contemplar os brotos  que irão nascer em mim e nem de deliciar-me com  a penugem das folhas novas que roça a casca do meu tronco. Falou a árvore, quase chorando.

Aí então Tica perguntou aos pássaros o que eles poderiam lhe dar, em troca de um abrigo.

 _ Nós só podemos dar a nossa alegria de viver. Responderam eles com brandura.

 _ Eu  teria mais alegria de viver se existisse uma árvore amiga que pudesse beber água junto comigo, fazer sombra e refrescar os meus galhos. A arvorezinha revelou todo a sua amargura.

Nesse momento, um velho sabiá, que escutava a conversa, deu o seu palpite:

 _ Com o nosso bico, poderemos espalhar sementes na terra, assim outras árvores poderão nascer e serem  suas amigas.

A amendoeira sorriu cheia de esperança.

  _ Mas que feliz ideia! Bradou o velho pardal. E reuniu todos os pássaros do lugar para ajudarem a infeliz Tica. E então, numerosas sementes foram lançadas à terra pelos pássaros amigos, transformaram-se em brotos e depois em viçosas árvores de amendoeiras.Todas eram iguais e naquele momento passou a existir não só uma  amendoeira, mas milhares de amendoeiras que  se protegiam da chuva, do sol, do vento e dos homens atrevidos.

E Tica chorou de emoção.

Os pássaros fizeram uma grande festa porque nascia uma linda floresta. E foi batizada com o nome de Florestiquinha.

E lá longe, bem perto do arco-íris, Florestiquinha vive feliz há muitos anos, protegida do sol, da chuva, do vento e dos homens atrevidos.


Hoje Florestiquinha dá abrigo e alimenta todos aqueles que vivem à sua volta: os animais, as crianças e os homens não atrevidos que sabem amar as árvores.  
      

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