Regional RIO DE JANEIRO
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Lá longe, bem perto do arco-íris, morava uma linda árvore, a
única existente no lugar.
Era uma pequena amendoeira, com um tronco largo, galhos firmes
e raízes profundas
que se dividiam pela terra. Chamava-se Tica.
Na primavera as folhas brotavam. No verão elas se mostravam
tão verdes como a água do mar. No outono, as folhas se tornavam amarelas e
cobriam a terra com um tapete de ouro, e as amêndoas enfeitavam a solitária árvore.Porém,
no inverno, Tica.sentia frio porque perdia o cobertor feito de folhas que
servia para aquecer o seu tronco. Durante o inverno, a amendoeira sofria muito porque imaginava que se
não fosse tão só poderia sentir mais calor, porque os seus galhos poderiam
abraçar outras árvores. E a árvore chorava, chorava e chorava.
Certa noite, choveu muito e as lágrimas da pequena árvore se
misturaram com a água da chuva. Tica ficou tão molhada que quase morreu. Então
pensou: “Por que vivo tão só? Onde poderei encontrar outra amendoeira neste
mundo? Minhas raízes não precisam de tanta água e se eu tivesse uma
companheira, juntas poderíamos matar a
sede.Mas onde posso encontrá-la?” E Tica pediu ao sol, que era seu amigo, para
surgir e secar a terra, que ainda estava úmida.
No dia seguinte, o sol nasceu belo e vermelho e saudou a
arvorezinha dizendo-lhe:
_ Bom dia amiga, não fique tão triste e sinta o meu calor.
Agora poderei enxugar suas lágrimas e secar
a água da chuva. Embora agradecida, Tica lhe fez um alerta:
_ Doce amigo, enxugue as minhas lágrimas e seque a água da
chuva, mas cuidado para não queimar os meus galhos, porque senão eu morrerei.
O sol, que era sábio, porém muito preguiçoso, se esqueceu de
se pôr e quase queimou os galhos da solitária árvore. Ela então berrou
indignada e pediu para ele ir embora:
_ Ó sol, porque você é tão descuidado? Eu preciso de alguém
que cuide de mim e você é muito preguiçoso. Não quero mais que enxugue as
minhas lágrimas e nem seque a água da chuva. Você não serve para ser meu amigo.
E choramingou:
_ Ah se eu pudesse ter uma árvore amiga! Ela poderia me
fazer sombra e eu não correria o risco de morrer queimada. Mas onde posso
encontrá-la?
Cansada, Tica pensou em pedir ajuda ao vento para esfriar os
seus galhos:
_ Por favor, meu querido vento, sopre os meus galhos porque
eles estão me ardendo e eu preciso de um sopro para refrescar-me, mas preste
atenção para não soprar muito forte porque senão eu poderei tombar.
_ Pois não amiga, vou tomar cuidado. Respondeu ele.
Mas o vento, encantado, distraiu-se com a beleza da brisa
que passava ao seu lado e para chamar a sua atenção, ele soprou tão forte que
quase derrubou a amendoeira. Vários galhos soltaram-se do tronco e espalharam-se
por toda a terra e a arvorezinha desesperou-se.
_ Suma daqui vento maldoso, eu preciso de alguém que cuide
de mim e você é muito distraído. Eu não quero mais que você me refresque com o seu sopro. E mais uma vez lamentou-se: “Ah
se eu tivesse uma árvore amiga, ela poderia balançar os seus galhos suavemente
em frente aos meus e eles me refrescariam, e eu não correria o risco de tombar.
Mas onde posso encontrá-la?”
E adormeceu. À noite, a pequena amendoeira sentiu vergar um dos galhos e
gritou.
_Quem está aí?
Com olhos atentos, respondeu um homem:
_ Sou eu pequena amiga. Quero me esconder da lua porque ela
fere os meus olhos.
A árvore, um pouco aflita, perguntou:
_ O que você pode fazer por mim? Pode me abrigar da chuva
com o seu corpo? Pode me proteger do vento e aparar o sol com as suas mãos?
_ Falou com voz firme o homem:
_ Tudo o que posso fazer é espantar os insetos e pássaros que vêm comer os seus frutos.
_ Eu não me incomodo com esses animaizinhos que vem comer as
minhas amêndoas porque elas podem renascer, e além do mais, eles me fazem
cócegas e eu quase morro de tanto rir. Falou a arvorezinha com toda a certeza.
E continuou:
_Portanto, eu não
preciso de você porque não me protege da chuva, do sol e nem do vento, e
depois, tem uma coisa: você é muito pesado, e pode machucar os meus galhos.
Afaste-se de mim. E a arvorezinha resmungou:
_ Ah se existisse uma outra árvore para me proteger dos homens atrevidos que entortam
os meus galhos! .Mas onde posso encontrá-la? E adormeceu novamente.
Na manhã seguinte, a pequena amendoeira estava repleta de
pássaros que vieram construir ninhos entre os seus galhos.
Mas onde posso encontrá-la?
A arvorezinha, zangada, queixou-se:
_ Por que tanta
algazarra?
_ A primavera chegou.
Responderam os pássaros. O inverno já foi embora e agora os seus galhos ficarão cheios de folhas e frutos que
abrigarão os nossos filhotes.
_ Vocês fazem muito
ruído e eu não poderei sentir o prazer de contemplar os brotos que irão nascer em mim e nem de deliciar-me
com a penugem das folhas novas que roça
a casca do meu tronco. Falou a árvore, quase chorando.
Aí então Tica perguntou aos pássaros o que eles poderiam lhe
dar, em troca de um abrigo.
_ Nós só podemos dar
a nossa alegria de viver. Responderam eles com brandura.
_ Eu teria mais alegria de viver se existisse uma
árvore amiga que pudesse beber água junto comigo, fazer sombra e refrescar os
meus galhos. A arvorezinha revelou todo a sua amargura.
Nesse momento, um velho sabiá, que escutava a conversa, deu
o seu palpite:
_ Com o nosso bico, poderemos
espalhar sementes na terra, assim outras árvores poderão nascer e serem suas amigas.
A amendoeira sorriu cheia de esperança.
_ Mas que feliz ideia! Bradou o velho pardal. E
reuniu todos os pássaros do lugar para ajudarem a infeliz Tica. E então,
numerosas sementes foram lançadas à terra pelos pássaros amigos,
transformaram-se em brotos e depois em viçosas árvores de amendoeiras.Todas
eram iguais e naquele momento passou a existir não só uma amendoeira, mas milhares de amendoeiras que se protegiam da chuva, do sol, do vento e dos
homens atrevidos.
E Tica chorou de emoção.
Os pássaros fizeram uma grande festa porque nascia uma linda
floresta. E foi batizada com o nome de Florestiquinha.
E lá longe, bem perto do arco-íris, Florestiquinha vive
feliz há muitos anos, protegida do sol, da chuva, do vento e dos homens
atrevidos.
Hoje Florestiquinha dá abrigo e alimenta todos aqueles que
vivem à sua volta: os animais, as crianças e os homens não atrevidos que sabem
amar as árvores.
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