Josyanne Rita de Arruda Franco
Regional SÃO PAULO
Presidente Nacional 2017/2018
Costumamos pensar sobre as vicissitudes
do viver, deixando passar pequenos fatos cotidianos que se fazem preciosidades.
O planejamento modesto de uma curta viagem, a expectativa de uma festa ou
encontro, o inocente olhar de uma criança encantada com truques banais de
mágica feitos com pouco treinamento. Um riso fácil e bobo de encantamento que
nem sempre é fútil, mas pode dizer da disposição do espírito de se extasiar com
outras formas de estímulo e beleza.
Gastamos algumas horas do dia pensando em
dificuldades, lendo sobre política e economia, assustados com ameaças à paz no
mundo e com desvarios cometidos por qualquer forma de poder constituído ou
paralelo. Nossa fisionomia vai se tornando carrancuda e circunspecta,
envelhecemos dez anos em meia hora e o mundo se torna cinza no mais belo dia de
sol.
Buscamos distração nos livros,
revisitamos clássicos da literatura e da sétima arte, apelamos à música e
apaziguamos nossas dores do viver. Parentes e amigos nos socorrem com a
presença necessária e o apoio constante, tornando mais leve a carga da luta tão
igual para cada ser humano adulto e responsável: viver com digna e serena tranquilidade
até o fim percurso.
Não há fórmula mágica para o viver bem, mas
viver cansa se admitir apenas rotina, descartando pequenas ousadias que
precisam ser cometidas. O medo que nos protege de alguns riscos também pode nos
isolar do acesso às descobertas e alegrias. Nem só de ansiedade vive o homem e
é prudente pensar também no agora para conquistar futuro mais compensador.
Que percepção temos de nós mesmos? Quem é
você hoje? Quem sou eu agora?
Em algum momento você pensou em ser parte
de um poema, inspirar alguém a escrever algo sobre você? O que um poeta diria
sobre sua vida? Quem seria o autor ou a autora de versos que falassem sobre
você? Seriam versos arrebatados? Líricos? Eróticos? Uma epopeia? Versos livres ou com
metrificação clássica?
Decerto inspiramos alguém com nossos
atributos e características, mas estamos pouco acostumados a olhar para nosso
âmago e pensar algo simples, se nossa vida vale um poema... Especialmente em
uma sociedade que se faz espetaculosa, mas obedece a eventos cronológicos e culturais
sem refletir sobre eles.
Experimentamos diversas formas de prazer
que nos gratificam e trazem sensações de bem-estar e tranquilidade. Somos
persuadidos a buscar sempre mais e a acreditar em uma potência individual quase
inesgotável de refazimento constante, dinâmica que às vezes quer apenas o ócio
de alguns pensamentos vazios.
E assim temos seguido, absorvendo teorias
e buscando reconhecimento. Recalcamos nossa história com motivações um tanto
quanto frívolas, quase sempre alheias ao conteúdo próprio, original. Então, a
quem iremos inspirar?
Oferecemos a última palavra,
racionalizamos nossas crenças e abandonamos as paixões. Envelheceremos rapidamente,
distantes dos nossos sonhos e à margem das necessárias ousadias.
Lord Alfred Tennyson, famoso poeta de
língua inglesa do período vitoriano, em seu poema “Ulysses” revela a inquietude
do herói que não consegue esquecer seu passado glorioso e tenta buscar novas aventuras
que deem sentido ao seu viver. Aqui, os versos reproduzidos têm a versão de
Thomas Bulfinch, em O Livro de Ouro da Mitologia:
“Vinde a meu lado,
amigos. Não é tão tarde
Para buscar, bem longe, um novo mundo,
Cortando as ondas e vencendo os mares.
Quero além do poente navegar,
Além dos astros que no oeste brilham,
Até que a morte venha procurar-me.
Pode bem ser que o mar nos purifique,
Pode bem ser que à Ilha Afortunada
Consigamos chegar e ainda vejamos
Aquiles, que tão bem nós conhecemos.”
Na andança que perdura enquanto estivermos sobre a Terra, embora
tenhamos amealhado grandes vitórias durante o percurso, precisaremos seguir
buscando. Mesmo sendo vulneráveis, poderemos ser mais fortes se nos mantivermos
acessíveis às novidades, são elas que nos treinam para a vida. A boa viagem na
aventura requer disposição e preparo, pois, como diz o ditado popular, águas
calmas não fazem bons marinheiros.
Navegar na companhia de tripulantes e passageiros confiantes é aproximar
aventura e ousadia de destinos pouco explorados. Não sejamos modestos.
Quem
sabe o texto magno da vida seja vibrante narrativa que se descortinará em
eletrizantes novos capítulos? Ou talvez seja um despretensioso e inspirado
poema a nos convencer sobre o quanto é saudável ousar sempre que a vida nos
instigue a viver outra aventura.
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