01 outubro, 2017

VIDA QUE VALE UM POEMA

Por:
Josyanne Rita de Arruda Franco
Regional SÃO PAULO
Presidente Nacional 2017/2018
E-mail: josyannerita@gmail.com










Costumamos pensar sobre as vicissitudes do viver, deixando passar pequenos fatos cotidianos que se fazem preciosidades. O planejamento modesto de uma curta viagem, a expectativa de uma festa ou encontro, o inocente olhar de uma criança encantada com truques banais de mágica feitos com pouco treinamento. Um riso fácil e bobo de encantamento que nem sempre é fútil, mas pode dizer da disposição do espírito de se extasiar com outras formas de estímulo e beleza.

Gastamos algumas horas do dia pensando em dificuldades, lendo sobre política e economia, assustados com ameaças à paz no mundo e com desvarios cometidos por qualquer forma de poder constituído ou paralelo. Nossa fisionomia vai se tornando carrancuda e circunspecta, envelhecemos dez anos em meia hora e o mundo se torna cinza no mais belo dia de sol.

Buscamos distração nos livros, revisitamos clássicos da literatura e da sétima arte, apelamos à música e apaziguamos nossas dores do viver. Parentes e amigos nos socorrem com a presença necessária e o apoio constante, tornando mais leve a carga da luta tão igual para cada ser humano adulto e responsável: viver com digna e serena tranquilidade até o fim percurso.
      
Não há fórmula mágica para o viver bem, mas viver cansa se admitir apenas rotina, descartando pequenas ousadias que precisam ser cometidas. O medo que nos protege de alguns riscos também pode nos isolar do acesso às descobertas e alegrias. Nem só de ansiedade vive o homem e é prudente pensar também no agora para conquistar futuro mais compensador.
      
Que percepção temos de nós mesmos? Quem é você hoje? Quem sou eu agora?
      
Em algum momento você pensou em ser parte de um poema, inspirar alguém a escrever algo sobre você? O que um poeta diria sobre sua vida? Quem seria o autor ou a autora de versos que falassem sobre você? Seriam versos arrebatados? Líricos?  Eróticos? Uma epopeia? Versos livres ou com metrificação clássica?
      
Decerto inspiramos alguém com nossos atributos e características, mas estamos pouco acostumados a olhar para nosso âmago e pensar algo simples, se nossa vida vale um poema... Especialmente em uma sociedade que se faz espetaculosa, mas obedece a eventos cronológicos e culturais sem refletir sobre eles.
     
Experimentamos diversas formas de prazer que nos gratificam e trazem sensações de bem-estar e tranquilidade. Somos persuadidos a buscar sempre mais e a acreditar em uma potência individual quase inesgotável de refazimento constante, dinâmica que às vezes quer apenas o ócio de alguns pensamentos vazios.
      
E assim temos seguido, absorvendo teorias e buscando reconhecimento. Recalcamos nossa história com motivações um tanto quanto frívolas, quase sempre alheias ao conteúdo próprio, original. Então, a quem iremos inspirar?
      
Oferecemos a última palavra, racionalizamos nossas crenças e abandonamos as paixões. Envelheceremos rapidamente, distantes dos nossos sonhos e à margem das necessárias ousadias.
      
Lord Alfred Tennyson, famoso poeta de língua inglesa do período vitoriano, em seu poema “Ulysses” revela a inquietude do herói que não consegue esquecer seu passado glorioso e tenta buscar novas aventuras que deem sentido ao seu viver. Aqui, os versos reproduzidos têm a versão de Thomas Bulfinch, em O Livro de Ouro da Mitologia:    
  
      “Vinde a meu lado, amigos. Não é tão tarde
       Para buscar, bem longe, um novo mundo,
       Cortando as ondas e vencendo os mares.
       Quero além do poente navegar,
       Além dos astros que no oeste brilham,
       Até que a morte venha procurar-me.
       Pode bem ser que o mar nos purifique,
       Pode bem ser que à Ilha Afortunada
       Consigamos chegar e ainda vejamos
       Aquiles, que tão bem nós conhecemos.”

Na andança que perdura enquanto estivermos sobre a Terra, embora tenhamos amealhado grandes vitórias durante o percurso, precisaremos seguir buscando. Mesmo sendo vulneráveis, poderemos ser mais fortes se nos mantivermos acessíveis às novidades, são elas que nos treinam para a vida. A boa viagem na aventura requer disposição e preparo, pois, como diz o ditado popular, águas calmas não fazem bons marinheiros.
      
Navegar na companhia de tripulantes e passageiros confiantes é aproximar aventura e ousadia de destinos pouco explorados. Não sejamos modestos.
     
Quem sabe o texto magno da vida seja vibrante narrativa que se descortinará em eletrizantes novos capítulos? Ou talvez seja um despretensioso e inspirado poema a nos convencer sobre o quanto é saudável ousar sempre que a vida nos instigue a viver outra aventura.
      
Sigamos!






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