Manlio Mario Marco Napoli
Regional SÃO PAULO
A dança é uma manifestação natural do homem,
haja vista que as crianças a praticam normalmente.
É uma forma de marcha criada pelo homem, para
traduzir os sentimentos despertados pela música ou canto; no sentido musical é
a relação entre o pé e o ouvido. Dança e música estão intimamente ligadas. O
ritmo da dança é acentuadamente biológico; nossa fisiologia é feita de ritmos
diferentes e de várias ordens - cardíaco, respiratório, etc; o ser humano se
expande por ritmos, porque estes são significativos e transfiguram seu corpo,
que através deles, fala e se manifesta. A dança é uma linguagem que todos
entendem. NIETZCHE dizia - "perdeu sua viagem na vida quem nunca
dançou".
Quando os primatas elevaram seu trem posterior,
para melhor visualizar o horizonte e poder fugir de seus perseguidores ou, ao
contrário, alcançar suas presas, modificações importantes e fundamentais para
acelerar a marcha e diminuir a fadiga foram introduzidas nos pés:
1 - o talus livrou-se de suas inserções musculares
e tornou-se o centro da articulação peritalar;
2 - o calcâneo hipertrofiou-se;
3 - o primeiro raio metatarsiano tornou-se
praticamente paralelo aos demais raios e hipertrofiou-se também; a articulação
cúneo-metatarsiana tornou-se, praticamente, plana, com seus movimentos
limitados;
4 - finalmente, surgiu o arco longitudinal.
Tudo ocorreu progressivamente há cerca de quinze
milhões de anos, até chegarmos ao pé atual do homem que, de órgão de preensão
semelhante à mão, se transformou em membro de sustentação, embora guardando
resquícios de suas funções primitivas.
Surgiu, a partir desse momento, nova capacidade
- a antítese, que dá ao pé a possibilidade de, na fase de apoio de marcha, se
tornar flácido e, logo em seguida, na fase de desprendimento do solo,
absolutamente rígido. É o que se vê, quando no balé clássico, a bailarina
executa o "fouetté", ou seja, a rotação rápida e contínua na ponta ou
meia-ponta da perna de apoio, graças ao impulso dado pelos movimentos dos
braços e da outra perna. Os "fouettés" são executados em séries de 16
ou 32.
Isto é o que ocorre na dança, normalmente no
balé, quando a bailarina, através do aprendizado longo e exaustivo, consegue
prodígios com seus pés.
Mas, evidentemente, há um tributo a ser pago,
pois a dançarina exige o máximo esforço de seus pés, como também do sistema
músculo-esquelético locomotor, com a participação de todo o aparelho estático e
dinâmico do seu corpo. Este tributo é representado pelos distúrbios de forma e
função dos pés que nos membros inferiores podem atingir índices elevados,
próximos de cem por cento, com a produção de calosidades, bolhas, quadros
dolorosos ascendentes até os quadris, pés planos insuficientes, sendo o balé
clássico o estilo de dança responsável pela maioria das lesões que, de um modo
geral, crescem com a idade e o uso das sapatilhas de ponta.
Por outro lado, se as bailarinas conseguem
prodígios com os pés, não nos esqueçamos que, por sua estrutura e função, pela
qualidade de máquina perfeita que encerra a excepcional característica da
antítese, são os pés que permitem que isso possa ocorrer no ser humano.
Wood-Jones, estudioso dos pés, em seu livro
publicado em 1945, afirmava que de todos os segmentos do corpo humano, o que
mais evoluiu foi o pé, e o Homem goste ou não, ele é sua chancela e será
através do mesmo que será conhecido pelos demais seres do reino animal.
Certamente, o A. não poderia imaginar que em
1969, ou seja, menos de cinco lustros após, entre estarrecido e incrédulo, o
mundo viu o Homem pisar na Lua e seu comandante, Neil Armstrong proferir a
frase - um pequeno passo para o Homem, um salto gigantesco para a humanidade.
Cabe lembrar que o homem desceu na Lua,
apoiando-se nos pés, e lá não há atmosfera, inexistem ventos e tempestades,
assim sendo, a imagem no solo lunar jamais desaparecerá!
O pé do Homem está eternizado no espaço sideral,
fora do planeta Terra!
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