Por:
Sônia R.Andruskevicius de Castro
Regional SÃO PAULO
Acordou bem cedo como todas as viúvas gostam
de acordar. Ainda na cama seu pensamento concentrou-se no que faria naquele
dia. Um raiozinho de sol entrava pela janela, anunciando que o dia poderia ser
muito bem aproveitado com afazeres externos e foi quando veio a grande ideia:
podar a trepadeira do jardim. Naquela época do ano não havia uma única folha sequer
e era preciso tirar os galhos mais
velhos para que ela voltasse a brotar linda e majestosa.
Imediatamente pulou da cama, não como pulam
da cama os mais jovens mas como a idade lhe permitia e começaram os
preparativos. Uma calça escura, destas o que tempo esqueceu de destruir e que fica guardada para serviços
gerais foi prontamente retirada do armário juntamente com aquela camisa que
também fazia parte da indumentária para estas ocasiões.
Devidamente paramentada partiu para o quintal
em busca da escada que não precisaria ser aquela que alcança o telhado, pois a trepadeira não tinha igual altura.
Bastaria uma escada de poucos degraus como a usada para se alcançar roupas no
maleiro do quarto. Cinco ou seis degraus seriam suficientes mesmo porque era o
máximo de altura que se arriscaria a subir. O alicate cortador, um saco de lixo
grande e nada mais. Um serviço bem simples que seria executado rapidamente.
Abriu a escada, que era daquelas que formava
um triângulo no chão como devem ser todas as escadas que fornecem segurança
para as pessoas subirem mesmo que tenham passado da idade de subir nelas. Já no
topo dela olhou a galhada seca e pensou por onde começar. Um emaranhado sem
começo e fim.
Respirou fundo, ajeitou os óculos e tentou
aleatoriamente fazer o primeiro corte. O galho partiu-se mas ficou no mesmo lugar enrolado entre os
outros. Arriscou mais outro corte e de novo nada caia ao chão. Tentou mais uma
vez, e outra e mais outra. Os galhos permaneciam suspensos como se não
quisessem cair por terra e a viúva não sabia mais onde cortar, onde estava o
fio da meada de tão intricada natureza.
Assim olhou para seu cachorro São Bernardo
que com seu olhar de interrogação também estava surpreso não tanto pela
teimosia da planta mas pela situação
inovadora de vê-la suspensa daquela maneira e a melhor ideia surgiu. Cortou a planta
próximo ao chão e puxou a galhada.
O cachorro saiu correndo, parou distante e
arriscou olhar. A viúva estava vestida de planta. Galhos na cabeça escorriam
pelos braços enquanto se debatia para livrar-se de tal incômodo ao mesmo tempo palavras
inéditas saiam de sua boca. Aproveitou o alicate cortador e fez em pedaços os
maiores.
Ensacá-los não foi tarefa fácil também, pois
como todo galho seco teimoso tentavam
escapar rasgando o plástico e para complicar ainda mais a situação seu cachorro
curioso, sentindo-se livre do perigo, cheirava sua dona e babava sua imensa
baba na calça preta que afinal era guardada para estas ocasiões.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigado por participar.