10 fevereiro, 2017

ABORTO DA NATUREZA

Por:
Edson Olímpio Silva de Oliveira
Regional MINAS GERAIS








Há uma língua geral e expressões típicas, próprias de cada região. Trouxemos várias delas que em sua época e tempo estavam na língua do povo viamonense. Ainda não vivíamos a globalização de hábitos e costumes na proporção avassaladora de agora. E “globo” era somente uma das designações do planeta ou da bola terrestre. Hoje estar na Globo, fazer parte da Globo ou simplesmente aparecer na Globo significa “vida inteligente”. Para quem botocudo? É um “aborto da natureza”! Expressão das crianças aos políticos no palanque na Praça da Borracheira estava na voz das pessoas. De significado abrangente que transitava por algo extraordinário a uma aberração. Nós gaúchos somos criaturas de extremos. O dualismo está em nosso cerne. Somos sobreviventes de inverno e verão no mesmo dia. Torce-se pelo Grêmio ou para o Internacional...

As professoras do meu saudoso Grupo Escolar Setembrina corrigiam, explicavam, mas aceitavam nas redações – por favor, acreditem que aluno tinha que estudar, fazer redação, provas, passar de ano por mérito – que o estudante se manifestasse com a linguagem da sua vida. Depois sentavam com o aluno ou discutiam as redações no quadro negro. Guris como eu e o amigo Dálcio Dorneles recebíamos “boas” orientações e algumas admoestações. Um aborto era uma desgraça na vida de qualquer família e Viamão era território cristão e católico. A perda de um filho ou de uma filha, a perda de uma vida humana abalaria a família intensamente e por toda a sua existência. Dor e sofrimento marcados por missas e visitas à sepultura, afinal “morrera um anjo” e como tal seria eternamente pranteado e reverenciado. Abortos propositais, intencionais, premeditados por qualquer método ou aquelas pessoas “aborteiras” carregariam a mácula da morte “mais criminosa”, mais cruel, uma morte inominável.

Hoje tudo é transitório, exceto a ideologia do poder a qualquer custo. Tudo é facilmente descartável, do carro à máquina, dos objetos, dos relacionamentos e das pessoas. Essa sensação de transitoriedade invade as almas das criaturas e jogam-nas num mundo de valores também descartáveis. Jamais generalizamos. Vivemos uma época de transição em que diferenciamos e nos apercebemos com mais facilidade do bom e do ruim. Daquilo que nos serve e daquilo que não presta. A globalização abriu essas fronteiras. “Estás no Google?” – se positivo, você existe. Luz e escuridão. Sombras e penumbras estão nesse caminho. O “fruto do conhecimento” na árvore ancestral do Éden, do Adão e da Eva nos traz a responsabilidade da opção. Abre-se o universo do conhecimento e da busca necessária à evolução, ao aperfeiçoamento, à iluminação da mente e do espírito.

Somos seres de ódio que caminhamos para o amor Crístico. A “tartaruga no topo do poste” seria um aborto da natureza. Olhamos para nosso entorno de cidade, de Estado e de país e o que vemos? Viamonenses de antanho estariam abismados com tantos e tamanhos abortos da natureza. Absolutamente nada é casual no mundo ou sob o manto do firmamento, há causa e efeito e não basta desligar-se, fazer de conta que o problema é dos outros, e sempre apontar para alguém como causador ou culpado. Até a fé deve ser “raciocinada” ensinou-nos o grande mentor espiritual. Somos porque permitimos ou porque resultamos de nossos atos ou de nossas omissões.









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