José Maria Chaves
Regional CEARÁ
E-mail: jmchaves37@gmail.com
"Deus
reprova os arrogantes
Pois,
para engano de alguns,
Sempre
esconde os diamantes
Entre
as pedras mais comuns."
Pois
bem, com esta trova desejo retratar Lauro Maia Teles - como poeta e compositor – senão a nossa maior expressão litero-musical, seguramente, um lapidado e
burilado diamante, postado de forma humilde entre grosseiras pedras.
Lauro
Maia nasceu na casa de nº 1966 do Boulevard Visconde de Cauype, atual Avenida
da Universidade, em 06 de setembro (Cartório João de Deus) ou 06 de novembro (Verbum
ad Verbum) do ano da Graça de 1913. Filho do odontólogo Antônio Borges Teles e
da professora de piano Laura Maia Teles.
Seu
aprendizado musical certamente se inicia no berço, com sua mãe e, já aos 10
anos de idade, vestindo calças curtas, substituía o pianista oficial do Cine
Majestic. Além de exímio ao piano, dedicou-se,outrossim, ao estudo da flauta e
do acordeom. Como acordeonista foi o mais jovem integrante da orquestra da
PRE-9 regida pelo maestro Euclides Silva Novo. Na pioneira emissora de radiodifusão
do Ceará, logo assumiu o cargo de Diretor Artístico e já era um festejado
compositor. Enquanto criança esteve matriculado no Colégio Marista e,
adolescente, transferiu-se para o Liceu onde
cumpriu todo o resto da programação ginasial e do científico. A essa altura da
vida, já era frequentador da roda boêmia de Fortaleza e, pelo menos duas vezes
na semana, acompanhado do seu amigo e parceiro – notável violinista – Aleardo
de Freitas, fazia serenatas, conquistando amores diferentes pelos desempenhos
poéticos e românticos de suas composições.
Aos
25 anos, bacharelando em direito, compõe a “Valsa do Rubi” para a cerimônia de
formatura que, disseram as línguas ferinas, não compareceu por haver esquecido
a hora, enquanto festejava, em um bar, bebendo com alguns amigos.
Seu
nome, já consagrado como compositor musical, letrista e arranjador, constou da
lista negra dos Integralistas de Petrópolis, com vários outros cearenses
ilustres, entre os quais o Dr. Bié eo Professor Cláudio Martins.
Em
1940, após dois anos de namoro, casou com Djanira, irmã de Humberto Teixeira (que,
por residir no Rio de Janeiro, embora cearense de Iguatu, não o conhecia
pessoalmente).Em junho de 1942 nasceu sua primogênita, Eva, e em dezembro de
1943 veio ao mundo Lauro Filho, já residindo na antiga Capital da República
(Rio de Janeiro). De principio entregava suas composições para a interpretação
e gravação pelos Vocalistas Tropicais e/ou 4 Ases e 1 Coringa. Dentre as muitas
gravações do início, poderia citar o batuque “Eu vi um leão” e a marcha “ Eu
sei o que é”, além dos sambas “Eis o meu samba” e “ Nosso cruzeiro”. Com os
“Vocalistas Tropicais” – vitorioso e harmonioso conjunto cearense – lançou um
novo ritmo,o balanço,com a música “Balancê” -“oi balancê, balança/balança pra
lá e pra cá/ eu vou até de manhã só nesse balanciá”. Com o sambista Ciro
Monteiro, deixou a composição “Deus me perdoe”, que foi gravada -“Deus me
perdoe, mas levar esta vida qu’eu levo é melhor morrer...”.
Com
Orlando Silva, o cantor das multidões, gravou muitos sucessos, tais como “Febre
de Amor”, “Poema Imortal” e “Quando dois destinos divergem” – “Acaso poderás
dizer qual de nós é o culpado/ e qual a razão de tudo ter desmoronado/ Nossa
vida agora é um verdadeiro caos/ semeada de incrível solidão/ e pontilhada só
de pensamentos maus...”.
Em
1942, volta a Fortaleza, conhece e integra a Escola de Samba, que foi batizada
com o seu nome. É bom que frise: A Escola de Samba Lauro Maia foi criada pelo
músico Canelinha, obviamente para conquistar o compositor que sempre
abiscoitava o 1º prémio, disputando pela “Escola de Samba Prova de Fogo”. Em
sua criação, a Escola de Samba Lauro Maia contava em suas fileiras com o também
pianista e compositor Luiz Assunção. Desde a sua fundação até 1945 a Escola de
Samba Lauro Maia sempre foi vitoriosa.
Passada
a época carnavalesca, Lauro volta ao Rio de Janeiro onde se emprega na Firma
Irmãos Vitale – Editor de Música - e também foi contratado pela Rádio Tupi,
como arranjador e orquestrador dos variados temas musicais dos seus programas
de estúdio. Além desses dois estafantes encargos, ainda firmou expediente
noturno – como pianista – com o Cassino Atlântico. Fumava muito, bebia em
demasia e se alimentava pouco e mal. Confessava para seus amigos de boemia,
especialmente Chiquinho da Lapa, seu quase irmão, que morria de saudades da sua
terra. Com esse sentimento de ufanismo, compôs:“Eu bem sei que é bem nosso/ o
orgulho de um gesto que eleva e seduz/ um gesto altaneiro de audaz jangadeiro/
mandando que todo navio negreiro/ passasse bem longe da Terra da Luz”.
Em
1947, ano de sua última visita a Fortaleza, já com a saúde gravemente abalada,
os dois pulmões invadidos pela tuberculose, teve de retornar ao Rio para um
internamento no Hospital Santa Maria em Jacarepaguá, famoso por recuperar
pacientes tísicos. Debalde foram os esforços. No dia 05 de janeiro de 1950, por
coincidência data do trigésimo quinto aniversário de Humberto Teixeira, às vinte
horas e trinta minutos, Lauro Maia faleceu.
Em
1952 - e eu estava lá - o samba intitulado “Lauro” foi cantado e chorado por
todos nós, no desfile de carnaval da Escola de Samba Luiz Assunção:
“Lauro,
eu vim lhe homenagear
Ah,
se você fosse vivo
Pra
ver sua escola passar,
Oh
Lauro!’’.
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