Alfredo Pereira da Costa
Regional PARÁ
Francisco Xavier
da Veiga Cabral – o Cabralzinho – foi o defensor da nossa fronteira no extremo
norte do Amapá, onde ocorreu o episódio da invasão francesa ao comando do
capitão-tenente Lunier e repelida pelos liderados de Francisco Xavier da Veiga
Cabral.
O município de
Amapá está profundamente ligado à formação histórica do Estado do Amapá. Foi na
pequena Vila do Espírito Santo do Amapá que no dia 15 de maio de 1895 as tropas
francesas, vindas de Caiena, sob o comando do capitão Lunier, desembarcaram da
Fragata Bengali para assumir a posse da área compreendida entre os rios
Araguari e Oiapoque, chamada de “Território Contestado”. E foi aqui que os
brasileiros resistiram vitoriosamente, sob o comando de Francisco Xavier da
Veiga Cabral - o Cabralzinho – como era conhecido. Este foi chamado à presença
do capitão Lunier e, ao invés de se render à voz de prisão, desarmou o oficial
francês, abatendo-o com a própria arma que portava.
Os franceses
tentaram vingar a morte de seu comandante, mas encontraram reação por parte de
Desidério Antonio Coelho e Epifânio Pedro da Luz e outros bravos patriotas, que
embora em número de quatorze (14) travaram a luta. Como a munição era pouca e
os invasores numerosos, nossos patriotas se refugiaram na mata, onde já se
encontrava Cabralzinho.
Os franceses
aproveitaram a ocasião para fazer um massacre dos brasileiros. Trinta e oito
(38) brasileiros foram mortos, entre homens, mulheres e crianças. Os franceses
incendiaram e saquearam as casas. Os invasores perderam seis (6) soldados e
tiveram outros vinte e dois (22) feridos.
Temendo a baixa
da maré, os invasores abandonaram a vila, levando seus feridos e dois (2)
prisioneiros: João Lopes e Manoel Gomes Branco.
Tal
acontecimento, ocorrido em 15 de maio de 1895, trouxe como consequência para o
Brasil e França a vontade de conseguirem uma solução definitiva para o problema
de suas fronteiras. Os dois países resolveram, de comum acordo, submeter o caso
à imparcialidade de um árbitro neutro, sendo escolhido o presidente da Suíça.
Para defender a
causa brasileira foi escolhido o diplomata José Maria da Silva Paranhos, também
conhecido como Barão do Rio Branco. Este, baseado nos documentos contidos no
livro “Do Oiapoque ao Amazonas”, de Joaquim Caetano da Silva, escrito e
publicado em Paris, conseguiu brilhante vitória para o Brasil, com a assinatura
do “Laudo de Berna” (ou Laudo Suíço), no dia 1º de dezembro de 1900, o qual
dava ao Brasil o direito definitivo de posse da área contestada. Assim, com a
vitória do laudo suíço a extrema área fronteiriça foi anexada ao Brasil (Estado
do Pará, àquela época).
Afinal, quem era
Francisco Xavier da Veiga Cabral? Onde nascera? Francisco Xavier da Veiga
Cabral – o Cabralzinho – nasceu em 5 de maio de 1861, em Belém, capital da então Província do Grão Pará. Era
filho de Rodrigo da Veiga Cabral e de D. Maria Cândida da Costa Cabral.
Casou-se com D. Altamira Valdomira Vinagre da Veiga Cabral. Desse matrimônio
nasceram as filhas Valdomira e Altamira. Valdomira casou-se com Oscar Franco.
Altamira casou-se com Alcindo Cacela (nome de uma avenida em Belém).
Seus pais não
eram pessoas de posses e pode-se presumir uma infância e juventude de algo
dificultoso, para o futuro herói do Amapá. Seu pai fora Senador da Câmara de Belém.
Veiga Cabral,
ainda na juventude, tornou-se comerciante, sendo que o seu estabelecimento
comercial era chamado de “Pacão”, por sinal seu primeiro epíteto. Exerceu,
também, as funções de escrivão da Contadoria de Rendas do Estado do Pará e
despachante da Alfândega, no governo republicano.
Tornou-se
conhecido do povo paraense em 1891, quando tomou parte, em posição destacada, da
Revolta de 11 de junho, que tinha por finalidade depor o governador do Pará,
que era o então Capitão-tenente Duarte Huet Bacelar Pinto Guedes. Apesar de
contar com o corpo de polícia, o movimento foi sufocado em poucas horas, pois
não seria de toda estranha a idéia de uma restauração da monarquia no Pará.
Mais tarde,
Veiga Cabral demonstrou ser amigo dedicado de Lauro Sodré, governador do Pará,
ao fundar o jornal denominado “O Patriota”. Entretanto, Cabralzinho passou por
muitas vicissitudes, que no final o levariam à morte, pois foi vítima de arma
branca de seu assassino, conhecido como “mão-de-seda”. Em consequência desse
ferimento veio a falecer em 18 de maio de 1905, com 44 anos de idade.
Com o fracasso
da Revolução de 1891, Cabralzinho foi obrigado a deixar a capital paraense, a
fim de não ser preso. Nessa sua fuga pelo litoral norte, foi costeando o Oceano
Atlântico até chegar aos Estados Unidos da América do Norte. Retornando dessa
viagem voluntariamente, se “asila” na antiga Vila do Espírito Santo de Amapá,
onde mais tarde torna-se personagem central de um episódio decisivo à final
incorporação das terras do “Território Contestado” ao território brasileiro.
Nessa região
foram descobertas ricas minas de ouro. A área foi invadida por aventureiros,
depois de 1893, entre eles os franceses, que há muito tempo pretendiam a posse
dessas terras situadas entre os rios Araguari e Oiapoque.
Em 26 de
dezembro de 1894, a população da Vila do Espírito Santo de Amapá resolve
proclamar um governo próprio, com a finalidade de coibir a invasão constante do
chamado “Território Contestado” pelos governos do Brasil e da França. Foi
criado, então, um Triunvirato formado por Desidério Antonio Coelho, Francisco
Xavier da Veiga Cabral e o cônego Domingos Naltez.
Cabralzinho, já
como presidente desse governo autônomo, mandou prender algumas pessoas que na
região das minas estavam perseguindo e maltratando os brasileiros. Entre elas
estava o negro Trajano, que embora sendo brasileiro, era o líder dos franceses
invasores. O governador de Caiena, sabendo da ação de Cabralzinho, na data de
15 de maio de 1895, manda uma expedição militar se apossar da Vila do Espírito
Santo de Amapá e levar preso o presidente do Triunvirato. O valente brasileiro,
pequenino no tamanho, mas grande nos seus ideais patrióticos, não permite que o
estrangeiro se aposse de seu solo; e, com a rapidez de decisão igual às suas
faculdades de execução, Cabralzinho resolveu resistir e, conhecendo a luta de
capoeira, abateu o comandante francês Luinier, com uma cabeçada no peito. Ao
mesmo tempo, apoderou-se de seu revólver e o descarregou à queima-roupa, com um
tiro mortal no oficial francês. Subtraindo-se, num salto para trás, à pressão
pela escolta, que estava atônita diante da rapidez dos acontecimentos, Cabralzinho
correu para a vila chamando às armas a milícia. Respondeu esta, composta de
quatorze (14) homens, dos quais treze brasileiros e um norte-americano.
À vista da
superioridade numérica da companhia invasora (120 soldados), armada de fuzil
Lebel, e com o fim de evitar que fossem cercados, retirou-se Cabralzinho com
sua gente até à orla da floresta, onde se distribuíram todos em atiradores
dispersos. A companhia teve que recuar diante dessa guerrilha; e, não sabendo
quantos homens se escondiam na floresta, embarcou apressadamente no navio
“Bengali”, que a trouxe, e desceu o rio com seus feridos e mortos.
Este
acontecimento serviu, mais tarde, para que as autoridades brasileiras e
francesas resolvessem, de uma vez por todas, a questão de suas fronteiras, que
já vinha perdurando duzentos anos, cuja vitória foi alcançada pelo Brasil em 1º
de dezembro de 1900, pela brilhante atuação do diplomata Barão do Rio Branco,
integrando definitivamente ao patrimônio do território brasileiro a região
situada entre os rios Araguari e Oiapoque.
Em justa
homenagem ao seu feito heróico, foi erguida uma estátua de Francisco Xavier da
Veiga Cabral – o Cabralzinho – no atual município de Amapá, na praça que também
tem o seu nome: “Praça Veiga Cabral”. Em Belém, existe um busto de Francisco
Xavier da Veiga Cabral na Praça da Trindade, além da Travessa Veiga Cabral no
bairro da Cidade Velha.
Dessa forma, por
merecimento, foi resgatada a memória do herói do Amapá.
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