Márcio Ribeiro Leite
Regional BAHIA
Email: dr.biboleite@yahoo.com.br
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A primeira vez em que o vi, em
frente a uma porta cerrada de loja, tomei um susto. Imóvel, cor de ébano,
apenas o par de olhos de âmbar se mexia. Seminu, cabelos desgrenhados, rosto
tomado por uma barba cheia e descuidada. Tudo nele era desalinho, incomum,
inclusive o fato de esperar permanentemente uma porta se abrir.
Da segunda vez, mais encorajado,
busquei por detalhes. Os mesmos farrapos, a postura de soldado inglês se
pudéssemos afastar a sujeira que o vestia, o odor. Mas o mesmo par de olhos
vivos a perscrutar a noite.
Na
terceira vez, não resisti; perguntei seu nome. Ele respondeu, ainda olhando a
noite, que nomes não tinham importância. Já não lembrava o seu. Não alimentou
minha impertinência.
Na
quarta vez ousei. Perguntei o que fazia ali, na mesma posição, sempre à mesma
hora. Então ele me fitou, como ainda não percebera. Tinha informação
confidencial de que a porta de seu mundo se abriria a qualquer momento. E
segundo as coordenadas, ele deveria estar a postos, ou perderia a chance de
adentrá-lo. Sabia o momento, mas o dia... bem, o dia não lhe havia sido
revelado.
E
com a profundidade de seus olhos de âmbar, pediu dois reais para um café.
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