30 maio, 2017

OLHOS DE ÂMBAR EM CORPO DE ÉBANO

Por:
Márcio Ribeiro Leite
Regional BAHIA
Email: dr.biboleite@yahoo.com.br









A primeira vez em que o vi, em frente a uma porta cerrada de loja, tomei um susto. Imóvel, cor de ébano, apenas o par de olhos de âmbar se mexia. Seminu, cabelos desgrenhados, rosto tomado por uma barba cheia e descuidada. Tudo nele era desalinho, incomum, inclusive o fato de esperar permanentemente uma porta se abrir.
Da segunda vez, mais encorajado, busquei por detalhes. Os mesmos farrapos, a postura de soldado inglês se pudéssemos afastar a sujeira que o vestia, o odor. Mas o mesmo par de olhos vivos a perscrutar a noite.
Na terceira vez, não resisti; perguntei seu nome. Ele respondeu, ainda olhando a noite, que nomes não tinham importância. Já não lembrava o seu. Não alimentou minha impertinência.
Na quarta vez ousei. Perguntei o que fazia ali, na mesma posição, sempre à mesma hora. Então ele me fitou, como ainda não percebera. Tinha informação confidencial de que a porta de seu mundo se abriria a qualquer momento. E segundo as coordenadas, ele deveria estar a postos, ou perderia a chance de adentrá-lo. Sabia o momento, mas o dia... bem, o dia não lhe havia sido revelado.

E com a profundidade de seus olhos de âmbar, pediu dois reais para um café.


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