VAI
MEU FILHO, andarilho
vai
devagar, se tens que ir
depende
de começar – tal o comer e coçar.
E
não vás nadar tão longe
e
nem tão forte a jogar.
Não
brinques demais com mulheres,
a
vida não é só carnaval.
Olha
a noite com cuidado
as
luzes são falsas, e a alma
da
noite é feita de breu.
o meu
pai dizia, e repetia,
Quem
dá aos pobres empresta a Deus
-
sê caridoso sê prestimoso
pois
perde quem tudo quer
e
um olho grande dá azar.
Não
chames o danado, não fales ao diabo
e
quando o diabo se atirar,
a
ti te atires ao pés de Deus.
VAI
MEU FILHO, às mãos
De
Deus, pois Deus dará
Que
cada qual colhe o que dá
-
se foi assim que o quiseste
e
se é assim que o frio vem,
Deus
dá a roupa que convém
e
o futuro, Deus proverá,
por
tudo isso eu vou rezar.
A
vida sem Deus é de mistérios
-
um caminho perdido
e
a quimera partida
e
a quem semeia o vento
a
tempestade vem, que aperreia,
se
assim não foi que bem te fez
foi
o bom Deus que assim quis.
VAI
MEU FILHO, se é
de
cada qual o mundo em que vive
ouve
em surdina a luz do teu coração
o
murmúrio da vida, tornado clarão.
É
um cantochão, são vozes do céu,
um
cantata - ausculta essa voz
em
meio à névoa que se adensa
no
bradar das multidões.
Não
sigas as más companhias
E
a política, pois se é política,
e
cada qual marcha para seu igual
aí
não é, que se ata nem desata.
O
grito uníssono é gerador de monstros
Os
Bush(s) Saddam(s) e dragões
-
respeita Jesus e Mahatma Gandhi
e
os muitos mortos anônimos
cuja
voz reboa na boca dos heróis;
acata
respeita aceita a pequenez
dos
que teimaram em sobreviver
no
medo e no silêncio.
VAI
MEU FILHO, sê cauteloso
não
fabriques a mãe solteira
e
não vás casar por lá.
Os
olhos das mulheres furtam, na cor
não
trazem a paz, traem o amor.
Ondulantes,
serpentes elas são
medusas,
na pele com textura de seda,
escondem
asperezas, fascinam
e só
sabem enganar,
têm
dentes cortantes, na boca felina
a
mordida assassina, da boca que canta
chamados
ardentes, não só aguardente
travos
amargos que ficam depois.
VOLTA
MEU FILHO, neste dia
como
num dia de teu aniversário
-
o bolo eu faço, e os salgadinhos
de
camarão como (gostavas);
pensei
até no teu presente, qual
soldadinhos
de chumbo (tua paixão).
E
se careces uma boa roupa também,
recortarei
a roupa usada - corto aqui
conserto
acolá (esta foi do tio
que
é meu irmão, e vai te dar).
O
São João já vem, e fogos não tenho
Olha
as estrelas, pede ao Papai
Noel
que, no Natal que vem,
Trará
o presente de te alegrar.
Para
casa não tragas a incerteza
Da
luta pugnaz da vida renhida,
ou
nada que não foi dado a ti.
Aparece
meu filho, volta agora
eu
quero te dizer - olá! Vai tudo bem!
VOLTEI
MINHA MÃE, a remirar
e
absorver os teus cabelos brancos
diadema
de prata que só se vê ao longe
quando
se quer ouvir uma canção antiga
chamada
saudade, composta por ti
-
quando calada gestavas teus sonhos
e
gastavas silêncio...
tuas
obsessões, religião, contradição
preenchendo
a solidão.
De
bem longe eu venho,
das
emoções e do pensamento
que
me iam chegando persistentes,
por
instantes, dono do tempo,
cruzando
como sempre o caminho
só,
do teu filho.
Rio
(1998) / Teresópolis (2003)
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