Sérgio Martins Pandolfo
Regional PARÁ
(In memoriam)
(In memoriam)
“E entre gente remota edificaram, Novo Reino, que tanto sublimaram”.
Camões, Os Lusíadas,
canto I.
Como tão bem cantou Wilson Simonal, somos “um país
tropical/abençoado por Deus/e bonito por natureza”. E todo este imenso
território, com nada menos que 8.547.403 km², que recebe insolação intensa e
ininterrupta o ano inteiro conta, por isso, com um potencial agricultável e de
energia solar, imponderável. Riquezas minerais são fartas e multiformes e nosso
manancial hídrico, coisa preciosa hoje, é o mais avolumado do mundo. Temos o
maior e mais caudaloso rio – água doce, bebível! – do planeta, com reserva
piscosa insuperável. Mas o que temos de melhor, de mais precioso, o acervo mais
valioso deste prodigioso País, é o nosso povo.
Os médicos sabemos bem, das leis da genética, que quando
se deseja melhorar as qualidades de uma determinada espécie (animal ou vegetal)
há mister introduzir um ou mais elementos rácicos compatíveis, a fim de
vigorizar aquela que, restrita a cruzamentos subsecutivos homorraciais por
longo tempo, se vai gradativamente enfraquecendo, degradando, estiolando.
Tais conhecimentos científicos têm sido utilizados, por
exemplo, na melhoria ou aprimoramento de rebanhos bovinos, plantel cavalar,
produtos agrícolas (frutíferas, leguminosas, gramíneas) e até na obtenção de
raças animais planejadas para este ou aquele fim, como é exemplar a canina
Dobermann.
Nosso povo já foi original e naturalmente privilegiado e
vem sendo progressivamente aprimorado há, ao menos, 500 anos, pelo caldeamento
de três raças excepcionalmente bem dotadas, com características próprias
salientes, que se aglutinaram e consolidaram. A raça branca, representada pelos
europeus - portugueses, mormente, que para cá vieram à época do descobrimento e
da colonização, mas também franceses, holandeses, ingleses, italianos, alemães
- e que era, na oportunidade, o que havia de mais avançado em termos de
civilização. A negra que, bem o sabemos, apresenta nítida superioridade na
estruturação físico-corpórea e energética, com maior resistência às
inclemências naturais e a muitas enfermidades, sendo mesmo imune a alguma
delas. Superior resistência física e aptidão para tarefas mais árduas que nos
têm garantido sucesso e até mesmo hegemonia em várias modalidades desportivas.
Demais disso, a dor do negro desterrado, a gerar o banzo e a espicaçar a
“malemolência” - de que nos fala o grande Ari Barroso, em sua “Aquarela do
Brasil” -, explica a musicalidade que impregna nossas canções e o decantado
“jogo de cintura” do povo brasileiro. Muitos dos negros escravos que para aqui
vieram já constituíam, é bom de ver, produto de miscigenação com os árabes do
norte da África, como os Fulas e os Hauças. A amarela, ou mongólica,
representada pelos aborígines ameríndios que habitavam todas as latitudes das
Américas, sendo, assim, da mesma origem dos japoneses, chineses e outros povos
asiáticos, por isso que intelectualmente a eles equiparáveis, constituída pelas
diversas tribos indígenas que aqui existiam. Bravura, altivez e resolutividade,
rusticidade e destemor, mesclados, paradoxalmente, à acessibilidade natural e
grande habilidade manual, são características reconhecidas em nossos ancestrais
silvícolas. O caldeamento com o branco processou-se farto e consentido, diria
melhor, amparado, incentivado, induzido, fazendo-a integrar a raça nacional.
Do entrecruzamento intenso e continuado resultou esta que
é uma gente excepcionalmente bem conformada, privilegiadamente dotada em todos
os aspectos: intelectual, físico-corpóreo e psicológico, potencialidades que
deram por resultado um povo trabalhador, criativo, pacifista, amistoso,
solidário, produtivo, ufano de seus valores e de seu porvir, sobremaneira
irmanado, sem os laivos de preconceitos e racismos polimorfos, como observável
na maioria dos países, em que as etnias que lá convivem quando muito se aturam,
mas não se misturam – às vezes trituram-se.
Provavelmente somos o único país do mundo em que o
cruzamento do branco com o negro e o índio foi intenso, consentido e
permanente, resultando na formação de uma verdadeira raça, que dia a dia
evolui, aprimora-se, consolida-se. Daí porque já se disse - e é fato
incontestável: “O mestiço brasileiro é o puro-sangue nacional”.
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