Por:
Gisleno FeitosaRegional PIAUÍ
E-mail: gislenoffeitosa@uol.com.br
"Se
o médico não conhecer a História da Medicina, será um autômato”
Samuel Pozzi, 1908.
Qualquer médico que tenha estagiado
em alguma maternidade conhecerá a pinça de Pozzi, independente de ser ou não um
tocoginecologista. Mas, quem teria sido Pozzi? Ele
foi um cirurgião e ginecologista francês, interessado em antropologia e
neurologia. Uma biografia interessantíssima, como veremos a seguir.
Samuel Jean Pozzi nasceu em Bergerac
(Dordogne) no dia 03 de outubro de 1846. Estudou em Pau e depois em Bordeaux.
Devido à sua bela aparência, aliada à sua inteligência e instrução, foi
apelidado pelos colegas de “Sereia”.
Iniciou o curso de medicina em
Paris, no ano de 1869 e logo se destacou entre os demais alunos, tornando-se um
dos favoritos de Paul Broca. Como estudante, foi assistente de anatomia e seus
primeiros trabalhos foram direcionados para antropologia e anatomia comparada.
Formou-se em 1873 e, em 1875, foi promovido a Agrégé (efetivo) com uma tese sobre histerotomia no tratamento do
fibroma uterino.
Em 1879, Pozzi casou com Teresa
Loth-Cazalis, herdeira de um magnata das ferrovias, e teve três filhos:
Catherine, Jean e Jacques. Não concordava com sua esposa que exigia a companhia
da mãe, morando com eles. Isso desencadeou uma série de conflitos e trouxe
desarmonia ao casamento.
Há relatos de que Pozzi tenha tido
uma série de romances extraconjugais. Destaca-se o affair com celebridades, como a cantora de ópera Georgette Leblanc,
a atriz Rejane, Geneviève Halévya (viúva do compositor Georges Bizet), Sarah
Bernhardt (considerada por muitos como a mais famosa atriz da história do
mundo), Madame X (Virginie Amélie Gautreau), esposa de um banqueiro francês) e
Emma Sedelmeyer Fischof (filha de um negociante de arte e esposa de um criador
de cavalos). Fischof, mulher bonita e culta, se tornou amante de Pozzi, em
1890. Sua esposa se recusou a conceder-lhe o divórcio, mas Fischof permaneceu
na companhia do médico durante o resto da vida dele.
Em 1883 foi nomeado cirurgião do
Hospital de Lourcine-Pascal, que mais tarde seria rebatizado de Broca. Pozzi
deu aulas teóricas nesse hospital desde 1884, até que ele fosse capaz de
estabelecer sua própria cadeira de ginecologia, que logo se tornou o centro de
uma escola reconhecida de ginecologia. Em 1889 ele foi o primeiro na França a
realizar uma gastroenterostomia. Em 1885, Pozzi relatou o primeiro caso de
doença óssea de Paget, diagnosticado em seu país. Em 1896 foi eleito membro da
Academia de Medicina, e em 1897 fundou a Revue
de Gynécologie et de Chirurgie Abdominale, com Jayle. Em 1901 foi nomeado o
primeiro professor da Cátedra de Ginecologia da Faculdade de Medicina de Paris,
criado especialmente para ele. Foi, ainda, senador por Dordogne (1898-1903).
No início da I Guerra Mundial, o
Professor Pozzi, que tinha sido um voluntário em 1870, retornou ao serviço,
apesar de sua idade (68 anos). Em 1911 embarcou com destino a América do Sul, à
frente de uma expedição científica à Argentina e ao Brasil. Depois de deixar
Buenos Aires, ele e sua equipe viajaram para o Rio de Janeiro a fim de conhecer
e estudar a famosa coleção herpetológica (cobras venenosas e rãs) brasileira,
no Instituto Butantan, em São Paulo. O chamado Jardim das Serpentes era
conhecido por estudar veneno de cobras e seu efeito sobre os seres humanos.
Pozzi escreveu sobre suas aventuras com o espírito e o entusiasmo de um jovem e
com o apoio da Smithsonian Institution (Washington), publicou The garden of serpents, Butantan, Brazil,
em 1912.
Pozzi era cirurgião geral, mas a
partir do momento da sua nomeação, cada vez mais se dedicou à ginecologia. Ele
foi um dos pioneiros desta disciplina na França e, em nome dela, realizou
viagens à Inglaterra, Alemanha e Áustria. Visitou muitos serviços médicos fora
de seu país e ficou impressionado com o trabalho de Alexis Carrel no Instituto
Rockfeller, sobre transplante de órgãos e cultura de tecidos.
Além da elaboração de novas
abordagens técnicas, ele escreveu um livro importante sobre a Ginecologia,
Clínica e Operatória, que foi traduzido para cinco línguas estrangeiras.
Interessado em antiguidades, foi um
colecionador de moedas e estatuetas, tendo se tornado presidente da Sociedade
de Antropologia, em 1888.
Pesquisador da História da Medicina sugeriu
que a morte da princesa Henrietta, filha do rei Charles I, tenha sido em
consequencia de uma gravidez ectópica rota.
Pozzi era respeitado mundialmente e
foi uma figura marcante em eventos médicos, tanto pelo porte físico (alto,
esbelto e barba bem cuidada) como pela indumentária (roupa branca e gorro preto
florentino) ou, ainda, pela sua aguçada inteligência e indômita capacidade de
trabalho.
Era um adepto da cirurgia
conservadora, rejeitando a histerectomia indiscriminada, e ensinava a conservação
dos ovários. Era, também, um amigo das artes e frequentava os salões
parisienses, ponto de encontro de todos os estudiosos, políticos e artistas da
época.
Foi assassinado em seu consultório
no dia 13 de junho de 1918, por um ex-paciente (Maurice Machu), portador de
distúrbios mentais, que atirou quatro vezes, atingindo o seu abdômen. Foi
submetido a uma laparotomia por seu assistente Dr. Martel, mas, devido a
gravidade das lesões, ele não resistiu e faleceu. Seu funeral foi realizado em
Paris e, de acordo com seu desejo, foi enterrado vestindo seu uniforme militar,
em Bergerac. Logo após, o assassino cometeu suicídio.
“Eu sinto muito meu caro em estragar uma noite como esta,
mas eu tenho uma bala em meu intestino ....”. Dr.
Samuel Pozzi para Dr. Thierry de Martel no dia 13 de junho de 1918.
_____________________________________
Bibliografia:
·
Caroline
de Costa and Frances Miller, The Diva and Doctor God: Letters from Sarah
Bernhardt to Doctor Samuel Pozzi (Xlibris, 2010)
·
Caroline
de Costa and Francesca Miller - Portrait of A Ladies'Man: Dr Samuel-Jean Pozzi
(History Today March 2006).
· Samuel
Jean de Pozzi no whonamedit.com e na Wikipedia.
·
• Dr. Pozzi em cyberbiologie (em
francês)
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