Alípio Augusto Bordalo
Regional PARÁ
E-mail: borinfor@amazon.com.br
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A Santa Maria de Belém do
Grão Pará foi fundada pelo Capitão-mór da Armada portuguesa, Francisco Caldeira
Castelo Branco, aos dias 12 de janeiro de 1616. Àquela época, franceses e
holandeses já faziam incursões na costa do Maranhão e vale amazônico, o que
muito preocupava a Coroa portuguesa.
O local escolhido foi um sítio elevado na foz do
rio Guamá, onde, logo, se construiu o Forte do Presépio. Construção empírica de
taipa e pilão e que depois foi substituída por uma verdadeira fortaleza de
pedra, cal e canhões feitos em Portugal e Inglaterra.
A cidade está situada a cerca de 2° latitude sul,
em plena zona equatorial. Iniciou, séc. XVII, com apenas dois bairros – Cidade
Velha e Campina - separados pelo igarapé do Piry, cuja foz é, hoje, a doca do
Ver-O-Peso.
Queremos focalizar, aqui, a Belém da nossa
meninice, adolescência e atual, da
década de 30 até o alvorecer do séc. XXI.
Em 1930,
nosso pai, José Bordalo, caixeiro-viajante, levou a família para Santarém,
região do Baixo Amazonas, para que pudesse passar mais tempo com seus entes
queridos. Como os filhos mais velhos continuavam morando e estudando, em regime
de internato, em colégios particulares, resolveu retornar a Belém em 1935.
Foi, então, durante os anos 30, que vi e conheci a
cidade. Morávamos à rua Ó d’ Almeida, bairro da Campina, hoje, Centro
comercial. Defronte da casa, havia o imponente Reservatório “Paes de Carvalho”,
que o povo chamava “caixas d’água”.
Estrutura férrea, de origem européia, erguida ao final do séc. XIX,
talvez, àquela época, a mais alta da cidade, pois, quem chegasse pela baia de
Guajará, já a avistava. Muitos diziam que representava a torre Eiffel parisiense em Belém. A má conservação
comprometeu sua estrutura e, durante a década de 60, foi demolida e substituída
por outro reservatório de concreto armado, desprovido da beleza arquitetônica
antiga. Resta-nos sua memória.
O centro comercial compreendia as ruas Sen. Manoel Barata, Cons. João Alfredo,
Santo Antonio, 15 de Novembro, Gaspar Viana (antiga Rua da Indústria),
Boulevard Castilhos França, Av. Portugal e as travessas Frutuoso Guimarães,
Campos Salles, Padre Eutíquio e Sete de Setembro.
Um comércio cosmopolita com portugueses , talvez
60%, libaneses, italianos, judeus (marroquinos e europeus), ingleses e alguns
japoneses que chegaram na década de 30. Os paraenses eram empregados ou
pequenos comerciantes.
A Amazônia durante o apogeu do ciclo da borracha (1870-1912) e a
1ª metade do séc. XX atraiu a imigração de outros povos. Os portugueses se
dedicaram ao comércio varejista de tecidos,
farmácia, óptica, ferragens, mercearias, padarias e atacadista; os libaneses, tradicionais
mascates, abriram casas de tecidos e armarinhos; os italianos, sapateiros tradicionais, proprietários das principais sapatarias e alguns metalúrgicos, popularmente,
conhecidos como “amoladores” de facas, canivetes e tesouras; os judeus.de
origem alemã eram joalheiros e transacionavam com ouro e prata, enquanto os de
origem marroquina se espalharam pela capital e interior e concorriam com os
libaneses; alguns de origem eslava abriram fábricas de móveis. O comércio da
castanha do Pará, borracha e balata, de grande aceitação na Europa, por longo
tempo, esteve dividido entre portugueses, libaneses e judeus. A minoria inglesa
trabalhava na administração das antigas Amazon River, Port
of Pará, Pará Eletric, Pará
Telefhone e as companhias de navegação Booth Line e Lamport Line.
No eixo central - ruas João Alfredo-Santo Antonio –
víamos as casas de modas, tecidos, armarinhos, sapatarias, livrarias, farmácias
e alguns bancos. Ainda, hoje, se vêm os imponentes prédios com 2 ou 3 andares
da Livraria e Typographia Universal, Banco do Pará, o antigo prédio do Banco do
Brasil, O Ganha Pouco, Bom-Marché, Casa Carvalhaes, Paris N’ América com sua
escadaria de liga metálica e adornos art-nouveau,
Pharmacia Cezar Santos e outros. São edificações da 2ª metade do séc. XIX e
início do séc. XX.
Em outro eixo paralelo – Rua 15 de novembro-Rua
Gaspar Viana – haviam bancos, como sejam, Banco Ultramarino Português, London & South América, Comercial do Pará, Comércio e Indústria de
Pernambuco, Moreira Gomes e, também, as
principais casas atacadistas ou aviadoras. Nesta rua, merece ser lembrado, “O
Barbinha”, tradicional café e bar com suas mesas e montras de mármore e bronze,
onde os comerciantes se reuniam e, enquanto degustavam um bom vinho seco,
fechavam transações comerciais. O “Barbinha” deixou saudades a muitos
comerciantes , já octagenários.
No antigo bairro do Reduto, se concentrava a zona
industrial com as fábricas – Perseverança, de aniagem e cordas; Boa Fama, de
calçados e bolsas; Phebo, de sabonetes e perfumaria; A Nacional e Tabaqueira,
de fumo e oficinas mecânicas.
A vida sócio-cultural do belenense acontecia no
eixo – Av. 15 de agosto, Pça. da República e Av. Nazaré -, com o Theatro da Paz
e Palace Theatre, Cinema Olympia; o tradicional e saudoso terrace do Grande-Hotel; os café-restaurantes Central, Brasil,
Avenida, Chique, Da Paz, Rotisserie e o
Bar do Parque, da boemia; os clubes sociais Assembléia Paraense, Tuna Luso
Comercial, Pará Clube e Clube do Remo. Os principais hotéis (Grande-Hotel,
Central e Avenida) primavam com trios musicais de piano, violino e
contra-baixo, durante o jantar. As exposições artísticas (pintura, desenhos e
caricaturas) se realizavam na Galeria Angelus do Theatro da Paz e no Palace
Theatre do imponente Grande-Hotel.
A partir da década de 50, a Belém do Pará se
modifica. Acabam os bondes elétricos; o centro comercial se transforme, perde
seu charme e elegância, surgem os camelôs imigrantes ocupando as ruas; os
antigos comerciantes se aposentam ou falecem e muitas firmas e fábricas se
extinguem. Poucas lojas tradicionais conseguem sobreviver. Surgem os
supermercados em diversos bairros que passam a ter comércio próprio, inclusive
como novos bancos e agências da Caixa Econômica. Com a rodovia Belém-Brasília,
as grandes casas atacadistas desaparecem. Chegam os shoppings Castanheira e
Iguatemi Belém.
A arquitetura antiga dos belos e amplos casarões
com azulejos portugueses e jardins, dos séculos XVIII, XIX e XX cedem lugar aos
edifícios modernos, “os espigões”. Dos chalés de ferro oriundos da Bélgica e
França, restam apenas dois, estando o maior no campus do Guamá da UFPA e o menor no Bosque/Jardim Botânico. Dos
quiosques e coretos do Largo de Nazaré, foram demolidos e diz vox
populi surrupiados. Os trens e trilhos da Estrada de Ferro de
Bragança, inaugurada em 1908, um nordestino de nome Juarez Tavora, quando
ministro da Viação e Obras Púbicas, transfere para sua terra natal – o Ceará. Dois belos monumentos arquitetônicos
– a Fábrica Palmeira e Grande-Hotel/Palace Theatre – são demolidos. No lugar do
2°, se ergue o Belém Hilton Hotel.
A fisionomia urbana da Belém do Pará ao alvorecer
do séc. XXI é progressista, moderna,
dinâmica e mostra aos visitantes a revitalização do centro histórico – Forte do Presépio, Igreja de Sto. Alexandre,
Palácio Episcopal (atual Museu de Arte Sacra), a Catedral da Sé e a
tricentenária Casa das Onze Janelas (atual Boteco das Onze) -; Estação das Docas; Ver o Rio; São José
Liberto; os Palácios/Museus restaurados (Museu Histórico do Estado e Museu de
Artes); Mangal das Garças; Basílica de Nazaré com os belos vitrais e mosaicos e
o Santuário de Fátima. Destacam-se as três maiores praças/parques – República,
Batista Campos e D. Pedro II.
Percorrendo e observando a cidade, se vê a antiga
Belém, com ruas estreitas e alguns becos da Cidade Velha e a Belém nova, com
avenidas e boulevards largos e longos. A Belém, das mangueiras e das águas é, decerto, o
portal da Amazônia.
Belém, agosto/2008
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