06 junho, 2017

A BELÉM DO PARÁ, ONTEM E HOJE

Por:
Alípio Augusto Bordalo
Regional PARÁ
E-mailborinfor@amazon.com.br

     









                                                                     
A Santa Maria de Belém do Grão Pará foi fundada pelo Capitão-mór da Armada portuguesa, Francisco Caldeira Castelo Branco, aos dias 12 de janeiro de 1616. Àquela época, franceses e holandeses já faziam incursões na costa do Maranhão e vale amazônico, o que muito preocupava a Coroa portuguesa. 

O local escolhido foi um sítio elevado na foz do rio Guamá, onde, logo, se construiu o Forte do Presépio. Construção empírica de taipa e pilão e que depois foi substituída por uma verdadeira fortaleza de pedra, cal e canhões feitos em Portugal e Inglaterra.

A cidade está situada a cerca de 2° latitude sul, em plena zona equatorial. Iniciou, séc. XVII, com apenas dois bairros – Cidade Velha e Campina - separados pelo igarapé do Piry, cuja foz é, hoje, a doca do Ver-O-Peso.

Queremos focalizar, aqui, a Belém da nossa meninice, adolescência e atual,  da década de 30 até o alvorecer do séc. XXI.

Em 1930, nosso pai, José Bordalo, caixeiro-viajante, levou a família para Santarém, região do Baixo Amazonas, para que pudesse passar mais tempo com seus entes queridos. Como os filhos mais velhos continuavam morando e estudando, em regime de internato, em colégios particulares, resolveu retornar a Belém em 1935.

Foi, então, durante os anos 30, que vi e conheci a cidade. Morávamos à rua Ó d’ Almeida, bairro da Campina, hoje, Centro comercial. Defronte da casa, havia o imponente Reservatório “Paes de Carvalho”, que o povo chamava “caixas d’água”.  Estrutura férrea, de origem européia, erguida ao final do séc. XIX, talvez, àquela época, a mais alta da cidade, pois, quem chegasse pela baia de Guajará, já a avistava. Muitos diziam que representava a torre Eiffel parisiense em Belém. A má conservação comprometeu sua estrutura e, durante a década de 60, foi demolida e substituída por outro reservatório de concreto armado, desprovido da beleza arquitetônica antiga. Resta-nos sua memória.

O centro comercial compreendia as  ruas Sen. Manoel Barata, Cons. João Alfredo, Santo Antonio, 15 de Novembro, Gaspar Viana (antiga Rua da Indústria), Boulevard Castilhos França, Av. Portugal e as travessas Frutuoso Guimarães, Campos Salles, Padre Eutíquio e Sete de Setembro.

Um comércio cosmopolita com portugueses , talvez 60%, libaneses, italianos, judeus (marroquinos e europeus), ingleses e alguns japoneses que chegaram na década de 30. Os paraenses eram empregados ou pequenos comerciantes.

A Amazônia durante o  apogeu do ciclo da borracha (1870-1912) e a 1ª metade do séc. XX atraiu a imigração de outros povos. Os portugueses se dedicaram ao comércio varejista de tecidos,  farmácia, óptica, ferragens, mercearias, padarias  e atacadista; os libaneses, tradicionais mascates, abriram casas de tecidos e armarinhos; os italianos, sapateiros tradicionais,  proprietários das principais sapatarias  e alguns metalúrgicos, popularmente, conhecidos como “amoladores” de facas, canivetes e tesouras; os judeus.de origem alemã eram joalheiros e transacionavam com ouro e prata, enquanto os de origem marroquina se espalharam pela capital e interior e concorriam com os libaneses; alguns de origem eslava abriram fábricas de móveis. O comércio da castanha do Pará, borracha e balata, de grande aceitação na Europa, por longo tempo, esteve dividido entre portugueses, libaneses e judeus. A minoria inglesa trabalhava na administração das antigas Amazon River,  Port  of Pará, Pará Eletric,  Pará Telefhone e as companhias de navegação Booth Line e Lamport Line.

No eixo central - ruas João Alfredo-Santo Antonio – víamos as casas de modas, tecidos, armarinhos, sapatarias, livrarias, farmácias e alguns bancos. Ainda, hoje, se vêm os imponentes prédios com 2 ou 3 andares da Livraria e Typographia Universal, Banco do Pará, o antigo prédio do Banco do Brasil, O Ganha Pouco, Bom-Marché, Casa Carvalhaes, Paris N’ América com sua escadaria de liga metálica e adornos art-nouveau, Pharmacia Cezar Santos e outros. São edificações da 2ª metade do séc. XIX e início do séc. XX.

Em outro eixo paralelo – Rua 15 de novembro-Rua Gaspar Viana – haviam bancos, como sejam, Banco Ultramarino  Português, London & South América,  Comercial do Pará, Comércio e Indústria de Pernambuco,  Moreira Gomes e, também, as principais casas atacadistas ou aviadoras. Nesta rua, merece ser lembrado, “O Barbinha”, tradicional café e bar com suas mesas e montras de mármore e bronze, onde os comerciantes se reuniam e, enquanto degustavam um bom vinho seco, fechavam transações comerciais. O “Barbinha” deixou saudades a muitos comerciantes , já octagenários.

No antigo bairro do Reduto, se concentrava a zona industrial com as fábricas – Perseverança, de aniagem e cordas; Boa Fama, de calçados e bolsas; Phebo, de sabonetes e perfumaria; A Nacional e Tabaqueira, de fumo e oficinas mecânicas.

A vida sócio-cultural do belenense acontecia no eixo – Av. 15 de agosto, Pça. da República e Av. Nazaré -, com o Theatro da Paz e Palace Theatre, Cinema Olympia; o tradicional e saudoso terrace do Grande-Hotel; os café-restaurantes Central, Brasil, Avenida, Chique, Da Paz,  Rotisserie e o Bar do Parque, da boemia; os clubes sociais Assembléia Paraense, Tuna Luso Comercial, Pará Clube e Clube do Remo. Os principais hotéis (Grande-Hotel, Central e Avenida) primavam com trios musicais de piano, violino e contra-baixo, durante o jantar. As exposições artísticas (pintura, desenhos e caricaturas) se realizavam na Galeria Angelus do Theatro da Paz e no Palace Theatre do imponente Grande-Hotel.

A partir da década de 50, a Belém do Pará se modifica. Acabam os bondes elétricos; o centro comercial se transforme, perde seu charme e elegância, surgem os camelôs imigrantes ocupando as ruas; os antigos comerciantes se aposentam ou falecem e muitas firmas e fábricas se extinguem. Poucas lojas tradicionais conseguem sobreviver. Surgem os supermercados em diversos bairros que passam a ter comércio próprio, inclusive como novos bancos e agências da Caixa Econômica. Com a rodovia Belém-Brasília, as grandes casas atacadistas desaparecem. Chegam os shoppings Castanheira e Iguatemi Belém.

A arquitetura antiga dos belos e amplos casarões com azulejos portugueses e jardins, dos séculos XVIII, XIX e XX cedem lugar aos edifícios modernos, “os espigões”. Dos chalés de ferro oriundos da Bélgica e França, restam apenas dois, estando o maior no campus do Guamá da UFPA e o menor no Bosque/Jardim Botânico. Dos quiosques e coretos do Largo de Nazaré, foram demolidos e diz vox  populi surrupiados. Os trens e trilhos da Estrada de Ferro de Bragança, inaugurada em 1908, um nordestino de nome Juarez Tavora, quando ministro da Viação e Obras Púbicas, transfere para sua terra natal –  o Ceará. Dois belos monumentos arquitetônicos – a Fábrica Palmeira e Grande-Hotel/Palace Theatre – são demolidos. No lugar do 2°, se ergue o Belém Hilton Hotel.

A fisionomia urbana da Belém do Pará ao alvorecer do  séc. XXI é progressista, moderna, dinâmica e mostra aos visitantes a revitalização do centro histórico –  Forte do Presépio, Igreja de Sto. Alexandre, Palácio Episcopal (atual Museu de Arte Sacra), a Catedral da Sé e a tricentenária Casa das Onze Janelas (atual Boteco das Onze) -; Estação das Docas; Ver o Rio; São José Liberto; os Palácios/Museus restaurados (Museu Histórico do Estado e Museu de Artes); Mangal das Garças; Basílica de Nazaré com os belos vitrais e mosaicos e o Santuário de Fátima. Destacam-se as três maiores praças/parques – República, Batista Campos e D. Pedro II.

Percorrendo e observando a cidade, se vê a antiga Belém, com ruas estreitas e alguns becos da Cidade Velha e a Belém nova, com avenidas e boulevards largos e longos. A Belém, das mangueiras e das águas é, decerto, o portal da Amazônia.

Belém, agosto/2008


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