Lúcia Elena Ferreira Leite
E-mail: : luciafleite@gmail.com
Vejo nos olhos opacos das pessoas sentadas, deitadas nas calçadas, cabelos em desalinho, roupas rotas e enlameadas que outrora foram vestidos, shorts, bermudas, camisas e que hoje são apenas trapos que mal cobrem os seus corpos seminus, a ausência de esperança.
A vida se resume ao próximo minuto, na urgência da fome, da sede, do álcool, da droga, que tornam o fardo mais fácil de ser suportado.
Alguns já nem pedem mais nada aos transeuntes que passam indiferentes, protegidos com os seus guarda-chuvas nos dias de chuva, aquecidos em seus casacos, se faz frio, alheios ao frio do outro, rumo ao trabalho que garante o seu bem-estar e o de sua família, na segurança do lar; ou vão a passeio, ou ao shopping trocar, com urgência, o aparelho celular por outro, de última geração.
Estes, quando notam a presença indesejável daquela pessoa na calçada, sentem medo, ou asco, ou desprezo criticando a sua marginalidade.
Mas, entre os que habitam as vias públicas pode estar a mulher que saiu de casa para fugir da violência do homem, marido, pai, irmão, padrasto abusador; a criança que por falta de pai, mãe, cuidador amorosos e responsáveis, abandonada a própria sorte, prefere a liberdade das ruas ao recolhimento opressor, humilhante e mutilador dos abrigos de menores, verdadeiras fábricas de indivíduos do mal. Estão, talvez, os de uma inteligência acima do normal, os travestis, os homosexuais, as prostitutas, não adaptados às regras de uma sociedade moralista, castradora, injusta, que julga e condena as pessoas segundo seus conceitos e preconceitos. Estão os dependendes do álcool e outras drogas que, após terem causado sérios danos materiais e emocionais à família, acabaram rejeitados por ela e dela se apartaram. Estão as vítimas dos males psíquicos não tratadas, ou mal tratadas, não absorvidas pelo nosso sistema de saúde. Podem estar os que vieram de outros estados, ou outros países que, sem trabalho, sem parentes e sem destino, aceitaram a rua como moradia provisória, que por falta de oportunidades, se tornou permanente.
Todos eles desistiram.
Desistiram de viver segundo as regras pré-estabelecidas do que é normal, correto, ético, aceitável pelos que fazem as leis e normas de convivência, sem considerar as diferenças, a história de vida, as fragilidades de cada um, a falta de acesso aos bens, numa sociedade que atribui valor aos cidadãos baseada no dinheiro, no status, no berço, na aparência, na cor, no sexo, na opção sexual e até no local de moradia e que utiliza padrões rígidos e equivocados de mérito e de igualdade de oportunidades.
Procuro no fundo do olhar opaco, perdido, dessas pessoas, um resquício de esperança, de vida, que me faça acreditar que uma mão estendida possa resgatar neles o humano aprisionado à carcaça maltrapilha, símbolo da negação.
Desvio, covardemente, o olhar pesaroso, impotente, pensando que pode ser tarde demais.
Vejo nos olhos opacos das pessoas sentadas, deitadas nas calçadas, cabelos em desalinho, roupas rotas e enlameadas que outrora foram vestidos, shorts, bermudas, camisas e que hoje são apenas trapos que mal cobrem os seus corpos seminus, a ausência de esperança.
A vida se resume ao próximo minuto, na urgência da fome, da sede, do álcool, da droga, que tornam o fardo mais fácil de ser suportado.
Alguns já nem pedem mais nada aos transeuntes que passam indiferentes, protegidos com os seus guarda-chuvas nos dias de chuva, aquecidos em seus casacos, se faz frio, alheios ao frio do outro, rumo ao trabalho que garante o seu bem-estar e o de sua família, na segurança do lar; ou vão a passeio, ou ao shopping trocar, com urgência, o aparelho celular por outro, de última geração.
Estes, quando notam a presença indesejável daquela pessoa na calçada, sentem medo, ou asco, ou desprezo criticando a sua marginalidade.
Mas, entre os que habitam as vias públicas pode estar a mulher que saiu de casa para fugir da violência do homem, marido, pai, irmão, padrasto abusador; a criança que por falta de pai, mãe, cuidador amorosos e responsáveis, abandonada a própria sorte, prefere a liberdade das ruas ao recolhimento opressor, humilhante e mutilador dos abrigos de menores, verdadeiras fábricas de indivíduos do mal. Estão, talvez, os de uma inteligência acima do normal, os travestis, os homosexuais, as prostitutas, não adaptados às regras de uma sociedade moralista, castradora, injusta, que julga e condena as pessoas segundo seus conceitos e preconceitos. Estão os dependendes do álcool e outras drogas que, após terem causado sérios danos materiais e emocionais à família, acabaram rejeitados por ela e dela se apartaram. Estão as vítimas dos males psíquicos não tratadas, ou mal tratadas, não absorvidas pelo nosso sistema de saúde. Podem estar os que vieram de outros estados, ou outros países que, sem trabalho, sem parentes e sem destino, aceitaram a rua como moradia provisória, que por falta de oportunidades, se tornou permanente.
Todos eles desistiram.
Desistiram de viver segundo as regras pré-estabelecidas do que é normal, correto, ético, aceitável pelos que fazem as leis e normas de convivência, sem considerar as diferenças, a história de vida, as fragilidades de cada um, a falta de acesso aos bens, numa sociedade que atribui valor aos cidadãos baseada no dinheiro, no status, no berço, na aparência, na cor, no sexo, na opção sexual e até no local de moradia e que utiliza padrões rígidos e equivocados de mérito e de igualdade de oportunidades.
Procuro no fundo do olhar opaco, perdido, dessas pessoas, um resquício de esperança, de vida, que me faça acreditar que uma mão estendida possa resgatar neles o humano aprisionado à carcaça maltrapilha, símbolo da negação.
Desvio, covardemente, o olhar pesaroso, impotente, pensando que pode ser tarde demais.
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