Renato Passos
Gosto de morar em Lagoa Santa por vários motivos e um deles
é a pouca ostentação, ou seja, não se vê muita frescura em relação ao valor
dado às criaturas pela maneira de vestir, ou seja, me faz quase esquecer esse
negócio de que "sou melhor que o outro se estou bem vestido".
Realmente, onde ando, todo mundo respeita uma fila, principalmente nos
supermercados e todos são tratados com igualdade, Ia é o dinheiro na mão que
iguala as pessoas e fiado, são cinco letras que choram".
Na manhã de sexta-feira fui ao supermercado e na seção do açougue, achei torresmo frito, pé e orelha de porco, limpas, salgadas e acondicionadas a vácuo. Então, por confiar na validade e no grau de pureza, comprei alguns pacotes, além da carne de charque e do bacon. O meu intuito era fazer uma feijoada branca (porque o feijão usado seria branco). Sei que essa ágape tem outro nome, mais pomposo, mas isso não interessa agora.
Ficou então faltando o rabo de porco e com a necessidade de completar a iguaria, entrei na fila do açougue e esperei a minha vez pacientemente, pois ela já estava bem grande. Ao chegar a minha vez de ser atendido, deparei com uma senhora de meia idade, do outro lado do balcão, muito tímida e ansiosa, forçando ser simpática que me perguntou em voz quase sumida: o que o senhor deseja? Notei que ela era PP, isto é ser iniciante no trabalho e de pouca prática, portanto deveria ter pouco tempo na função. E como fila estava cheia, nela havia de um tudo, de peão a doméstica, de madame a doutor advogado (esses facilmente são reconhecidos, porque andam sempre impecavelmente bem vestidos), puxei do vernáculo e bem alto e em bom tom, pedi: - quero cauda de suíno, a senhora tem? Ela, muito incomodada, pediu desculpa e me respondeu, que doce era na outra banca. Tomei uma atitude um pouco mais agressiva e vociferei; não senhora, é mercadoria daqui mesmo!
Outro colega vendo a sua ansiedade acudiu-a e me perguntou o que era isso. Nessas alturas, já havia na fila umas três pessoas rindo e outro tanto baratinados e até alguns coçando a cabeça, pelo embaraço que criei. Então, respondi todo sério: - são pertences de suíno, para fazer uma iguaria francesa. O ajudante da PP lhe falou - vai Iá dentro e pergunte ao gerente do açougue, pois ele deve saber o que o homem quer. A mulher se afastou e voltou acompanhada de um indivíduo troncudo, de estatura baixa, que perguntou: - qual a peça mesmo que o senhor precisa? Respondi com toda calma: - De cauda de suíno e quero mais ou menos uns dois quilos! Ele também demonstrou não saber de que mercadoria eu falara e para não parecer ignorante na frente dos funcionários, falou: - estamos em falta do produto, o senhor me desculpe. Nesse momento, rachando de rir, um homem da fila falou: - ô sua anta, o que ele quer é rabo de porco. O gerente, atarantado e sem graça, foi ao balcão do lado e conferenciou com outro açougueiro, voltou me disse: - o senhor me desculpe, mas infelizmente estamos em falta. Então, uma criaturinha mais baixa do que o balcão, mais fina que um palito, vestida de doméstica, com todos os apetrechos de serviçal imaculadamente brancos, atrevida e enfezada, que estava atrás de mim, vociferou: - Falou difícil aqui em Lagoa Santa, não tem vez. Agora o senhor ficou sem a feijoada! Viu seu besta?... Guardei a viola no saco e parti, despistando, rindo a valer!
Na manhã de sexta-feira fui ao supermercado e na seção do açougue, achei torresmo frito, pé e orelha de porco, limpas, salgadas e acondicionadas a vácuo. Então, por confiar na validade e no grau de pureza, comprei alguns pacotes, além da carne de charque e do bacon. O meu intuito era fazer uma feijoada branca (porque o feijão usado seria branco). Sei que essa ágape tem outro nome, mais pomposo, mas isso não interessa agora.
Ficou então faltando o rabo de porco e com a necessidade de completar a iguaria, entrei na fila do açougue e esperei a minha vez pacientemente, pois ela já estava bem grande. Ao chegar a minha vez de ser atendido, deparei com uma senhora de meia idade, do outro lado do balcão, muito tímida e ansiosa, forçando ser simpática que me perguntou em voz quase sumida: o que o senhor deseja? Notei que ela era PP, isto é ser iniciante no trabalho e de pouca prática, portanto deveria ter pouco tempo na função. E como fila estava cheia, nela havia de um tudo, de peão a doméstica, de madame a doutor advogado (esses facilmente são reconhecidos, porque andam sempre impecavelmente bem vestidos), puxei do vernáculo e bem alto e em bom tom, pedi: - quero cauda de suíno, a senhora tem? Ela, muito incomodada, pediu desculpa e me respondeu, que doce era na outra banca. Tomei uma atitude um pouco mais agressiva e vociferei; não senhora, é mercadoria daqui mesmo!
Outro colega vendo a sua ansiedade acudiu-a e me perguntou o que era isso. Nessas alturas, já havia na fila umas três pessoas rindo e outro tanto baratinados e até alguns coçando a cabeça, pelo embaraço que criei. Então, respondi todo sério: - são pertences de suíno, para fazer uma iguaria francesa. O ajudante da PP lhe falou - vai Iá dentro e pergunte ao gerente do açougue, pois ele deve saber o que o homem quer. A mulher se afastou e voltou acompanhada de um indivíduo troncudo, de estatura baixa, que perguntou: - qual a peça mesmo que o senhor precisa? Respondi com toda calma: - De cauda de suíno e quero mais ou menos uns dois quilos! Ele também demonstrou não saber de que mercadoria eu falara e para não parecer ignorante na frente dos funcionários, falou: - estamos em falta do produto, o senhor me desculpe. Nesse momento, rachando de rir, um homem da fila falou: - ô sua anta, o que ele quer é rabo de porco. O gerente, atarantado e sem graça, foi ao balcão do lado e conferenciou com outro açougueiro, voltou me disse: - o senhor me desculpe, mas infelizmente estamos em falta. Então, uma criaturinha mais baixa do que o balcão, mais fina que um palito, vestida de doméstica, com todos os apetrechos de serviçal imaculadamente brancos, atrevida e enfezada, que estava atrás de mim, vociferou: - Falou difícil aqui em Lagoa Santa, não tem vez. Agora o senhor ficou sem a feijoada! Viu seu besta?... Guardei a viola no saco e parti, despistando, rindo a valer!
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