Márcia Eteli Coelho
Regional SÃO PAULO
Nessa linda noite
de verão eu sonho
com livres veredas,
floradas na serra.
Esqueço o sertão
de um cortiço tristonho
e a vida que seca
em ciranda de pedra.
Caminho sem
pressa. O campo é de centeio.
Eu olho alguns
lírios luzindo no escuro.
Um sítio amarelo,
um clarão, e eu me vejo
com múltiplas
faces, desfile sem prumo.
Na hora da
estrela, eu me sinto Iracema,
espuma flutuante
no tronco de Ipê.
Sou Macunaíma?
Isaura? Julieta?
Sou compadecida
esperando Romeu.
Quixote, desmancho
uma grande odisseia.
Casmurro, duvido
do amor, perdição.
Traições
miseráveis, pareço Medeia,
sem crime ou
castigo – só enganos da solidão.
Memória
alquimista anarquiza a miragem.
No encontro
marcado, um encanto geral.
Sou metamorfose:
raízes, viagem.
Guerreira da paz,
sou poeta, afinal.
Em tons guarani, sou
morena, Pirama,
um pequeno
príncipe velho no mar.
Orfeu desvairado que,
uivante, reclama
mais vento no tempo,
mais verbos amar.
Se a terra é
sonâmbula estou bem atenta
aos sinos que
dobram em desassossego,
predizem aos
maias senzala e tormenta,
almejam baladas
de amor e chamego.
Em nome da rosa
eu me fiz Gabriela.
Agora, senhora, mantenho a paixão.
Divina comédia, a
vida é tão bela.
E eu sonho
acordada... Ainda é verão.
***
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