05 março, 2017

JUDAS, O MENSAGEIRO DE JESUS DE NAZARÉ

Por:
Marco Aurélio Baggio
Regional MINAS GERAIS
In memoriam










Os estudo bíblicos se enriqueceram com a tradução do chamado Evangelho segundo Judas. Manuscrito perdido há 1.700 anos, em papiro, na língua copta, foi descoberto no Egito em 1978.

Sabia-se de sua existência, relatada por Irineu de Lyon, em seu livro Contra a heresia, publicado no ano 180 da era comum. Foram recuperados 85% do texto.

Publicado com a chancela da National Geographic Society, o manuscrito esclarece o papel de Judas Iscariotes como sendo o mais arguto e o mais confiável discípulo de Jesus de Nazaré. No documento recém-traduzido, Judas Iscariotes surge como mensageiro, o emissário de Jesus de Nazaré, e não mais como quiseram os evangelistas canônicos, Mateus e João, como o traidor de Jesus.

Ao escrever Jesus de Nazaré: esplendor no Ocidente (Belo Horizonte: Editora Compos, 2002), já havia interrogado: Jesus de Nazaré deixou-se prender pelo sumo sacerdote do templo, ou entregou-se a ele, utilizando, conscientemente, os serviços de seu amado discípulo – Judas Iscariotes? Hoje há dúvidas quanto ao valor da participação de Judas e da sua intenção: teria ele traído Jesus? Teria vendido informação sobre o local onde estava o Mestre, por trinta dinheiros? No entanto, Jesus era uma figura pública, sobejamente conhecido de todos, que freqüentava as ruas e os pátios do Templo. Judas entregou Jesus à revelia deste ou, como cada vez parece mais provável, foi o seu mensageiro junto aos sacerdotes, marcando a hora e o lugar de sua apresentação diante do sumo sacerdote, tal qual o Mestre queria?

O Evangelho segundo Judas vem corroborar a suspeita de que Judas foi o dileto emissário de Jesus.

Durante três anos, Jesus de Nazaré realizou 31 milagres e dezenas de portentos na Samaria. Judeu conhecedor das escrituras, Jesus – um homem bom, excelso – julgou chegada a hora de fazê-las cumprir. Internalizou em si a missão do tão profetizado Mashiah – o Ungido, o Esperado, o Messias do povo judeu.

Por quatro vezes, Jesus de Nazaré profetizou seu destino aos seus apóstolos. Está em Mateus 12:40; em Mateus 16:21; também em Mateus 17:22:23. Em Mateus 20:17:19, encontra-se: Eis que estamos subindo a Jerusalém, e o filho do homem será entregue aos sumos sacerdotes e aos escribas: eles o condenarão à morte e o entregarão aos gentios para ser injuriado, flagelado, crucificado. Mas, ao terceiro dia ressuscitará.

O Evangelho segundo Judas vem fazer uma documental desleitura daquilo que os evangelistas canônicos deturparam, denegrindo assim Judas. Essa visão sombria se estendeu para todo o povo judeu: Judas=judeu.

Os evangelhos canônicos foram escritos 40 a 60 anos após o desaparecimento de Jesus, por homens que não o conheceram pessoalmente: Marcos, Mateus, Lucas, João, o evangelista (não confundir com João Batista nem com o apóstolo João).

Saulo, judeu nascido em Tarso, tornou-se São Paulo. Criou a primeira cristologia. Nada do que o homem Jesus foi e viveu interessou a Paulo. Provavelmente, toda a construção teológica – a cristologia erigida nas 13 epístolas de São Paulo – não teria a aprovação de Jesus de Nazaré.

George Bernard Shaw é definitivo sobre o gênio de São Paulo: Nada que ele fez Jesus teria feito, e nada que ele diz Jesus teria dito. (Bloom, Harold. Gênio. Rio de Janeiro: Objetiva, 2003, p. 167).

A espantosa necessidade que 90% da humanidade têm de acreditar em deuses sempre gera ferozes disputas de primazia e de preponderância. No seu nascedouro – séculos I, II, III e IV da era comum –, os cristianismos disputavam corações, dotações e mentes. A partir do ano 312, com Constantino, prevaleceu o cristianismo de Paulo e dos Pais da Igreja. Hoje, no mundo, há cerca de 1,5 bilhão de cristãos, disseminados em mais de mil seitas e sob diversas denominações. O tronco principal do cristianismo é a Igreja Católica Apostólica Romana.

O Evangelho de Judas deverá melhorar a história e a imagem desse colaborador de Jesus de Nazaré, deixando Judas e os judeus de serem escarmentados, respectivamente, como traidor e algozes. Dentre os doze apóstolos, Judas Iscariotes foi o mais corajoso e o mais lúcido ajudante de Jesus, em seu intento de fazer cumprir as profecias hebraicas.

É provável que esse documento venha corrigir e alimpar inconsistências e dúvidas a respeito dos acontecimentos no Horto das Oliveiras.

Ganhamos todos, cristãos ou seculares, com o aparecimento dessa nova versão da verdade histórica. Chega de malhar Judas!


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