Marco Aurélio Baggio
Regional MINAS GERAIS
In memoriam
Os
estudo bíblicos se enriqueceram com a tradução do chamado Evangelho segundo
Judas. Manuscrito perdido há 1.700 anos, em papiro, na língua copta, foi
descoberto no Egito em 1978.
Sabia-se
de sua existência, relatada por Irineu de Lyon, em seu livro Contra a
heresia, publicado no ano 180 da era comum. Foram recuperados 85% do texto.
Publicado
com a chancela da National Geographic
Society, o manuscrito esclarece o papel de Judas Iscariotes como sendo o
mais arguto e o mais confiável discípulo de Jesus de Nazaré. No documento
recém-traduzido, Judas Iscariotes surge como mensageiro, o emissário de Jesus
de Nazaré, e não mais como quiseram os evangelistas canônicos, Mateus e João,
como o traidor de Jesus.
Ao
escrever Jesus de Nazaré: esplendor no Ocidente (Belo Horizonte: Editora
Compos, 2002), já havia interrogado: Jesus de Nazaré deixou-se prender pelo
sumo sacerdote do templo, ou entregou-se a ele, utilizando, conscientemente, os
serviços de seu amado discípulo – Judas Iscariotes? Hoje há dúvidas quanto ao
valor da participação de Judas e da sua intenção: teria ele traído Jesus? Teria
vendido informação sobre o local onde estava o Mestre, por trinta dinheiros? No
entanto, Jesus era uma figura pública, sobejamente conhecido de todos, que
freqüentava as ruas e os pátios do Templo. Judas entregou Jesus à revelia deste
ou, como cada vez parece mais provável, foi o seu mensageiro junto aos
sacerdotes, marcando a hora e o lugar de sua apresentação diante do sumo
sacerdote, tal qual o Mestre queria?
O
Evangelho segundo Judas vem corroborar a suspeita de que Judas foi o
dileto emissário de Jesus.
Durante
três anos, Jesus de Nazaré realizou 31 milagres e dezenas de portentos na
Samaria. Judeu conhecedor das escrituras, Jesus – um homem bom, excelso –
julgou chegada a hora de fazê-las cumprir. Internalizou em si a missão do tão
profetizado Mashiah – o Ungido, o Esperado, o Messias do povo judeu.
Por
quatro vezes, Jesus de Nazaré profetizou seu destino aos seus apóstolos. Está
em Mateus 12:40; em Mateus 16:21; também em Mateus 17:22:23. Em Mateus
20:17:19, encontra-se: Eis que estamos subindo a Jerusalém, e o filho do
homem será entregue aos sumos sacerdotes e aos escribas: eles o condenarão à
morte e o entregarão aos gentios para ser injuriado, flagelado, crucificado.
Mas, ao terceiro dia ressuscitará.
O
Evangelho segundo Judas vem fazer uma documental desleitura daquilo que os
evangelistas canônicos deturparam, denegrindo assim Judas. Essa visão sombria
se estendeu para todo o povo judeu: Judas=judeu.
Os
evangelhos canônicos foram escritos 40 a 60 anos após o desaparecimento de
Jesus, por homens que não o conheceram pessoalmente: Marcos, Mateus, Lucas,
João, o evangelista (não confundir com João Batista nem com o apóstolo João).
Saulo,
judeu nascido em Tarso, tornou-se São Paulo. Criou a primeira cristologia. Nada
do que o homem Jesus foi e viveu interessou a Paulo. Provavelmente, toda a
construção teológica – a cristologia erigida nas 13 epístolas de São Paulo –
não teria a aprovação de Jesus de Nazaré.
George
Bernard Shaw é definitivo sobre o gênio de São Paulo: Nada que ele fez Jesus
teria feito, e nada que ele diz Jesus teria dito. (Bloom, Harold. Gênio. Rio de Janeiro: Objetiva, 2003, p. 167).
A
espantosa necessidade que 90% da humanidade têm de acreditar em deuses sempre
gera ferozes disputas de primazia e de preponderância. No seu nascedouro –
séculos I, II, III e IV da era comum –, os cristianismos disputavam corações,
dotações e mentes. A partir do ano 312, com Constantino, prevaleceu o
cristianismo de Paulo e dos Pais da Igreja. Hoje, no mundo, há cerca de 1,5
bilhão de cristãos, disseminados em mais de mil seitas e sob diversas
denominações. O tronco principal do cristianismo é a Igreja Católica Apostólica
Romana.
O
Evangelho de Judas
deverá melhorar a história e a imagem desse colaborador de Jesus de Nazaré,
deixando Judas e os judeus de serem escarmentados, respectivamente, como
traidor e algozes. Dentre os doze apóstolos, Judas Iscariotes foi o mais
corajoso e o mais lúcido ajudante de Jesus, em seu intento de fazer cumprir as
profecias hebraicas.
É provável que esse documento venha corrigir e alimpar inconsistências
e dúvidas a respeito dos acontecimentos no Horto das Oliveiras.
Ganhamos
todos, cristãos ou seculares, com o aparecimento dessa nova versão da verdade
histórica. Chega de malhar Judas!
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