08 agosto, 2017

CARTA A HIPÓCRATES

Por:
Rafael Gallina Krob
Regional RIO GRANDE DO SUL


















Ilmo. Sr. Dr. Hipócrates: cordiais saudações! 

Como tem passado o digníssimo Doutor? Aproveito a oportunidade para contar-lhe sobre sua filha. Sim, sua garota, a Medicina. Por Apolo, ela anda uma danada! E nem é mais tão moçoila, veja só quantos séculos ela já tem. E mesmo assim, continua cativando turbilhões de jovens e enlouquecendo corações. Veja quantos batem à porta do seu irmão vestibular. E aqui entre nós, mano ciumento este, não? Quase não deixa ninguém chegar perto dela! Muitos querem tê-la, mas nem todos podem. Correto, meu amigo, pois para namorar uma rapariga grega e direita assim é preciso muito empenho, ética e respeito! Pensa que é fácil? Ela é uma namoradinha exigente! E não é para qualquer um. E ela pegou-me de jeito. Não pude resistir a mais recíproca das paixões. Amor à primeira vista. Fiquei tão deslumbrado com o charme de seu perfil helênico e com sua voz doce que joguei-me em seus braços impensada e repetidamente, por tantas e tantas vezes. Perdi-me no emaranhado dos seus cabelos dourados e fitei quantas vezes aquele par de olhos azuis cheios de ternura e da cor do Mar Mediterrâneo. Olhos que me devoravam com a sofreguidão de "quero mais". A boca, humm... carnuda e cor de maçã! E a pele, que seda. Rugas? Nenhuma! Como? Não sei. Nem bisturi, nem botox. Ela simplesmente resiste ao tempo, just like that. E o corpo? Quanta malícia! Irretocável e firmezinho. Cheio de curvas serpenteantes e perigosas. Lembra até a serpente do bordão de Esculápio. E o andar? "Toc, toc, toc..." de salto alto e sempre elegante, deambula com a leveza de uma gazela lasciva, pronta para o ataque. Esculpida com a perfeição de uma coluna dórica! Bela! Lânguida! Capaz de causar  um furor em pleno centro de Atenas. "Tim-tim", um brinde à Higia! "Tim-tim", outro à Panacia! Só de pensar, fico todo sudorético! Alguém tem um EGG por aí?

Então, Doutor Hipócrates, perdoe-me a empolgação. Sei que falo de sua filha, mas esta gata há muito vem conquistando e encantando gerações. Por séculos, despertou admiradores e seguidores. Não só pela incontestável beleza em si, mas especialmente pelo seu espírito humano e solidário. E como já disse, ela é uma amante exigente. Toma-nos tempo, acorda-nos à noite, de segunda a segunda ela sempre quer mais e mais. Domingo, Natal, Páscoa, dia santo? Sim, ela é insaciável e incansável.
Mas, Doutor Hipócrates, nós médicos, sempre fomos cientes e orgulhosos de nosso compromisso com sua amada filha. E queremos continuar sendo, hoje e sempre. Nós prometemos, lembra? Ou melhor, juramos! Bem como o ilustre mestre ensinou-nos. Sempre tentando buscar o aprimoramento técnico, mas sem deixar de lado a face humanitária da profissão. E nunca esquecendo de que o motivo primordial deste romance todo é a saúde e o bem-estar de nossos pacientes. E ainda há quem diga que nunca em momento algum da história, os médicos solicitaram tantos exames avançados e desnecessários aos seus doentes. E também há quem diga que nunca os facultativos foram tão omissos ao escutar as queixas dos seus enfermos. Verdade? Não sei.

Agora, há fatos que eu sei, sim. Descobri, Doutor Hipócrates, que sua filha anda muito namoradeira. Digo-lhe isso mui respeitosamente, mas não posso esconder-lhe. Como? Ela anda envolvendo-se com um número maior de médicos do que deveria, ora bolas. Há tantos médicos no mercado que ela já não consegue mais dar uma adequada atenção para todos ao mesmo tempo. E há os que, para fugir do crivo do seu irmão, foram procurar pelo seu aconchego em outros países, com a intenção de voltar e ainda querer exercê-la em território Tupiniquim.

E quanto ao tio SUS, Doutor Hipócrates? Cada vez mais maltratando sua filha sem do nem piedade! Gerando atritos gratuitos e desnecessários entre médicos e pacientes e estabelecendo condições desumanas para ambos. Enfermos que morrem na fila das consultas e que acotovelam-se nos hospitais públicos em busca de atendimento estão tecendo comentários nada adequados sobre a reputação de sua grega amada. Doutor Hipócrates, o que será desta relação entre nós médicos e sua filha na atual conjuntura? E o que será daqueles doentes que dependem de tão estreita relação?

Doutor Hipócrates, certo de que o pai da criança há de encontrar uma solução, cordialmente despeço-me. Enquanto ainda há vida, ainda há esperança. Um fraterno abraço dos eternos embriagados de amor pela sua filha...


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