Josyanne Rita de Arruda Franco
Regional SÃO PAULO
E-mail: josyannerita@gmail.com
Tenho alma de poeta, às vezes não merecendo tê-la.
Contento-me com a observação silenciosa das expressões agressivas e dos discursos
vazios, sem enfrentar a celeuma das imposições de ideias que maltratam minha
sensibilidade.
Prefiro escutar... Ajudar quando possível, tentar sanar dores do corpo e da alma,
deixando que cada um encontre o eco de seus pensamentos quando começar a deixar de
ser narciso.
Então, sempre questiono a mim e tão somente a mim sobre o sentido e o significado
do que vi ou vivi, pois foram minhas as expectativas e são meus os fantasmas da
memória.
Por isso abracei a poesia e escrevo usando muito as reticências... Para mim, sempre
foram melhores que pontos de exclamação. Posso deixar em aberto o que virá, brincar
com o que foi ou poderia ter sido. Na metáfora da vida, à espreita estará o ponto final,
espantando aspas e vírgulas.
A vida nos prepara caminhos para bons percursos na companhia de outros, mas
também oferece grandes distâncias solitárias... E sempre que alguém se despede da vida,
penso que esteve sozinho, às cegas, tateando o barulho do viver para encontrar saída,
mas não há saída que encontre a infinitude... O caminho é inexorável para o fim de
tudo, apagando lembranças e afetos. O resto vira história.
O corpo alquebrado por dores e paixões, sucumbirá nos estertores do último fio de
esperança... E seguirá sozinho pelas veredas escuras do indecifrável mistério.
Assim, melhor é decidir não ter ideia formada, concreta, rígida e inflexível. Abrir-se
às experiências, mesmo que elas pouco acrescentem. Embates são desnecessários se
configuram gritos irascíveis no vazio das argumentações.
Nos últimos trinta dias, vários amigos queridos partiram para onde não conhecemos.
Cerraram os olhos depois de tantas batalhas insanas entre poucas horas de sono, muitas
de trabalho, grandes renúncias, ausências nos eventos de família, remuneração
inadequada e falta de reconhecimento. Eram todos médicos... Tinham menos de
sessenta anos...
Não chegaram sequer a experimentar o sabor da cultuada melhor idade.
Quais terão sido seus últimos pensamentos? Teriam eles ouvido o barulho distante
dos corredores lotados de doentes, o ritmo frenético da correria nos pronto- socorros, a
sirene das ambulâncias e o choro de dor de tantos eventos tristes? As vibrações felizes
que novas vidas chegando trazem às salas de parto? A comemoração contida pelos
procedimentos cheios de sucesso?
Talvez nada disso... Talvez tudo isso e o mais importante: a lembrança do olhar
amoroso daqueles que continuarão a missão terrena de fazer frutificar a dedicação, o
amor ao próximo e à família que, para o médico, é sempre estendida para além do
círculo nuclear de imorredouros afetos. É a família composta de amigos, colegas,
pacientes e de todos os colaboradores que caminharam em parceria com a preciosa vida
que se foi e deixou um vácuo de humanidade... requiem aeternam.
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