30 novembro, 2017

PALAVRA CERTA, MOMENTO ERRADO

Por:
Abel Fagundes Fernandes
Regional MINAS GERAIS
in memoriam










Isso todo mundo sabe: Não há nada melhor do que fazer a coisa certa, na hora certa; usar a palavra certa, na hora certa e também no lugar certo. Mas todo mundo também sabe, que não há nada pior que fazer a coisa certa na hora certa, usando a palavra errada; só da confusão, e que confusão.

Próximo é uma palavra muito comum e, por sinal, muito usada por todo mundo e em todo lugar. Próximo d’aqui, próximo d´ali, o próximo ano, o próximo Natal, o próximo pagamento, o próximo emprego, o próximo casamento, o próximo tratamento. O próximo passeio, o próximo aniversário: o próximo é infinito, etc., etc., e etc.
                         
E assim vai por aí, e sem fim com o próximo, para o próximo capítulo; o próximo conto ou o próximo caso, que é contado assim:

Algumas pessoas vivem com o próximo, de segunda a sexta, de 10h30 às 15h00; vivem simplesmente com o próximo.

É o caso da Filomena, que trabalha no caixa de um restaurante, de segunda a sexta. Trabalha ali, para receber o pagamento do pessoal que almoçou e que está na fila, esperando a sua vez para pagar. Quando um termina, Filomena fala logo: o próximo. Terminou e ela fala logo: o próximo e assim é o dia a dia da Filomena. Quando alguém termina, ela grita logo o próximo. E fica assim, com o próximo, entra dia e sai dia, entra semana e sai semana, da mesma maneira, sem mudar nada, com o próximo.

Um dia, ela falou com próximo que ia pagar: Vou me casar no próximo ano e a pessoa pergunta: Filomena, por acaso você vai se casar é com alguém que trabalha aqui no restaurante? Filomena responde: Não. Vou me casar com o Deraldino, ele não trabalha aqui e, por sinal, no momento está desempregado. Por enquanto, está fazendo uns bicos por aqui, por ali e assim vamos arrumando uns trocados a mais. É melhor assim do que ficar sem fazer nada e ficar pedindo dinheiro na rua. Enquanto isto, ele está em busca de uma coisa melhor.

O tempo passa mais depressa do que se esperava. Vem de novo a Filomena a falar: Vou me casar no próximo mês, e quando chega o mês e a semana, ela fala: meu casamento vai ser no próximo sábado.

E vai falando com um e com outro. Quando chega alguém e pergunta: Onde vai ser mesmo o casamento, Filomena? Filomena responde: o casamento vai ser lá no meu bairro, numa Igreja que fica próximo onde moro. E ela continua falando: Depois do casamento vai ter uma recepção para os convidados, no salão que fica ao lado, à nossa direita, bem próximo da Igreja.

Durante o casamento, os conselhos do padre, falando, explicando e advertindo que casamento é coisa muito séria. Séria mesmo! Não é só “rala rala” não: tem que ser assim, tem que ser assado, tem que ser um só para o outro, tem que obedecer rigorosamente o 9º mandamento: nada de ficar aí desejando a mulher do próximo, viu Seu Deraldino. E felicidades para vocês e para os próximos que virão.

Terminado o casamento, os cumprimentos na saída da Igreja. Mesmo. Fila formada, e de um em um, eles vão recebendo os cumprimentos, abraços beijos, desejos de muitas felicidades era o que não faltava.

Como em tudo e em todo lugar, sempre tem alguém mais curioso do que os outros, querendo saber de tudo, ou de quase tudo. E resolve perguntar: Vocês vão viajar? Imediatamente, Filomena responde: Claro! É claro que vamos. Filomena esperava que a curiosidade do convidado tivesse terminado por aí. E o curioso que saber mais ainda: Vocês vão para onde? E me desculpe a minha curiosidade, mas é porque eu gosto de saber de tudo o que acontece no casamento, para que eu possa contar para quem não veio. O jovem casal, muito educado, no momento, responde: Não se preocupe, nós entendemos a curiosidade das pessoas, então respondendo o seu desejo, nós vamos para um lugar que fica próximo à cidade dos pais do Deraldino. Está claro? Bem... Claro não está! Mas simplesmente o curioso não teve mais coragem de perguntar mais nada, nem mesmo onde fica a cidade dos pais do Deraldino. Teve que simplesmente se contentar com a resposta dada pela Filomena.

Mesmo antes de terminar a festa, eles, Deraldino e Filomena, despediram de todos e se madaram. Tinham que pegar o ônibus para ir ao lugar da Lua de Mel, que omitiram nome.

Mas vai dar tudo certo. Chegando na rodoviária do bendito lugar, procuraram um hotel, que no plano ficaria próximo à rodoviária. E deram sorte que encontraram. Fica tão próximo, que nem precisou de um menino para ajudar carregar a bagagem, que não era tão grande assim. O Deraldino, rapaz novo e forte, se encarregou de levar tudo: Jogou as coisas nas costas e se mandaram para o Hotel.

Logo logo chegaram ao hotel. Hotel mesmo, não era. Era mais uma simples casa de hospedagem, que costuma receber pessoas que estão viajando e, por acaso, passam por aquele lugar. Mas como estava tudo conforme programado: ser barato, não ter luxo, tinha o que era mais importante e necessário no momento, “ser barato”.
                          
Precisamos economizar, falou Filomena. Vamos ficar só uma noite. Vamos economizar. Economizar no inicio da vida, para quem é pobre, é muito importante e não é nada fácil. Viemos aqui simplesmente para satisfazer um desejo nosso: Ser a Primeira vez.
                         
Primeira vez tem que ser especial por que depois é a mesma coisa, no mesmo lugar para sempre. Depois não muda mais nada. Depois vira rotina. É simplesmente cumprir: o que é dia é dia, o que é noite é noite e mais nada.
                         
Chegando à casa, que não era mais do que um confortável e barato hotel, como esperado. Encontra-se uma casa com a porta fechada.
                         
O jovem casal olha assustado, diante da situação jamais esperada, principalmente para aquela primeira vez. Aquela primeira e sonhada vez. Estava sendo simplesmente uma aventura. Olha para um lado, para o outro, para baixo e para cima quando vêm uma plaquetinha com as inscrições “Aperte a campainha, por favor. Obrigado”.
                         
E assim o Deraldino o fez, obedecendo as ordens da Filomena. Nesta hora, a responsabilidade é do Deraldino e não da Filomena.
                         
Chega à porta um homem, já com cabelos grisalhos, simpático e educado. E diz: Boa Noite, meu jovem casal, que seja bem vindo À NOSSA Hospedagem. Meu nome é Tobias, estou às ordens de vocês. Mas como vocês estão com pouca bagagem, imagino que estão querendo um quarto de casal por apenas uma noite. Estou certo? Falou o Tobias. Eu tenho um quarto que vagou agora a pouco, vocês são de sorte. Vão se hospedar nele. Vocês podem se sentir a vontade. E continua falando: Vocês vão ficar no quarto que fica próximo ao banheiro, lá no final do corredor. E caso necessitem de mais alguma coisa. Eu, estou às ordens lá na porta, é só chamar. Uma Boa Noite para vocês.
                         
E para lá foi o jovem casal localizar o quarto. Ao chegar, quando viram o quarto, Filomena ficou decepcionada. Eles queriam um lugar barato, sem nenhuma riqueza, mas também não era aquela pobreza que estavam encontrando, falou Filomena, por ser a primeira vez. A culpa é sua, Deraldino, com esse seu bendito lugar, próximo da cidade dos seus pais. O que tem a ver a nossa Lua de Mel com a cidade dos seus pais. Falou Filomena, e Filomena falou brava. Tudo bem, querida. Em voz mansa falou Deraldino: Você tem toda razão. Primeira vez, tem que ser uma coisa melhor. Falou assim o Deraldino, mais para acalmar a Filomena, e também com medo de tudo terminar por ali, mesmo antes de acontecer qualquer coisa melhor.
                         
Chegando ao quarto, preparam tudo antes de começar realmente a Lua de Mel: Toalha no buraco da fechadura da porta, que dar para o corredor, pois a porta não tinha chave. Verificaram bem a janela que dar para rua, para poder ter a certeza que iam ter uma noite tranquila. Tinha que fazer isso mesmo. Na frente do quarto, o corredor, do outra lado, a rua. A gente em Lua de Mel não pode ficar exposto aos curiosos do lugar, próximo da cidade dos pais do Deraldino e, também, do curioso que queria saber para onde a gente ia viajar.
                          
Até que enfim estamos sós. Deraldino falando para Filomena: Estamos no nosso quarto, então podemos começar agora a nossa Lua de Mel, e assim falou o Deraldino para a Filomena e realmente começa a Lua de Mel do jovem casal Deraldino e Filomena. Sem a preocupação de que hora ia terminar.
                         
Tinha apenas uma tolerância até  às 11h00, para não pagar outra diária.
                         
Mas tudo bem. Pelo que está programado para ser feito, vai ser feito tudo sem faltar nada, e ainda vai ter tempo de sobra para uma relaxada, antes de ir embora.
                         
Os dois no quarto. Brincadeira para lá, brincadeira para cá. Beijos e mais beijos, abraços, “rala, rala” como disse o padre, e mais tudo de uma verdadeira Lua de Mel. Esses são os preparativos para o próximo passo. Cada um na sua posição correta.
                         
Mas num certo momento, o Deraldino, já cansado de tanto movimento e quase sem respiração fala: Filomena, meu bem. Minha querida. Terminei.
                        
E Filomena imediatamente gritou: o Próximo!


28 novembro, 2017

A UMA GARÇA SEMIPURA

Por:
Adenauer Marinho de Oliveira Góes Jr.
Regional PARÁ










Por detrás das pálpebras
meus olhos te vêm...
bela, trêmula

Passeio minha língua
entre os teus lábios;
eriço a penugem,
uma garça pousada em minha cama...
leve, úmida

Deixa que na penumbra
eu me esconda
dentro de ti...
pétala, flama

Permita-se ser meu refúgio...
secreto, profundo

Conceda-me o prazer
de habitar o teu seio
e que aqui jamais me encontrem,
jamais me perturbem...
ofegante, mais bela

E quando,
depois do amor
aqui eu estiver descansando
que apenas você me acorde
e que seja (indispensavelmente) com suspiros...

serena, semipura...  querendo mais amor.


26 novembro, 2017

(PER)ORAÇÃO MATERNA


Por:
Ítalo Suassuna
Regional RIO DE JANEIRO
















VAI MEU FILHO, andarilho
vai devagar, se tens que ir
depende de começar – tal o comer e coçar.
E não vás nadar tão longe
e nem tão forte a jogar.
Não brinques demais com mulheres,
a vida não é só carnaval.
Olha a noite com cuidado
as luzes são falsas, e a alma
da noite é feita de breu.

o meu pai dizia, e repetia,
Quem dá aos pobres empresta a Deus
- sê caridoso sê prestimoso
pois perde quem tudo quer
e um olho grande dá azar.
Não chames o danado, não fales ao diabo
e quando o diabo se atirar,
a ti te atires ao pés de Deus.

VAI MEU FILHO, às mãos
De Deus, pois Deus dará
Que cada qual colhe o que dá
- se foi assim que o quiseste
e se é assim que o frio vem,
Deus dá a roupa que convém
e o futuro, Deus proverá,
por tudo isso eu vou rezar.

A vida sem Deus é de mistérios
- um caminho perdido
e a quimera partida
e a quem semeia o vento
a tempestade vem, que aperreia,
se assim não foi que bem te fez
foi o bom Deus que assim quis.

VAI MEU FILHO, se é
de cada qual o mundo em que vive
ouve em surdina a luz do teu coração
o murmúrio da vida, tornado clarão.
É um cantochão, são vozes do céu,
um cantata - ausculta essa voz
em meio à névoa que se adensa
no bradar das multidões.
Não sigas as más companhias
E a política, pois se é política,
e cada qual marcha para seu igual
aí não é, que se ata nem desata.

O grito uníssono é gerador de monstros
Os Bush(s) Saddam(s) e dragões
- respeita Jesus e Mahatma Gandhi
e os muitos mortos anônimos
cuja voz reboa na boca dos heróis;
acata respeita aceita a pequenez
dos que teimaram em sobreviver
no medo e no silêncio.

VAI MEU FILHO, sê cauteloso
não fabriques a mãe solteira
e não vás casar por lá.
Os olhos das mulheres furtam, na cor
não trazem a paz, traem o amor.
Ondulantes, serpentes elas são
medusas, na pele com textura de seda,
escondem asperezas, fascinam
e só sabem enganar,
têm dentes cortantes, na boca felina
a mordida assassina, da boca que canta
chamados ardentes, não só aguardente
travos amargos que ficam depois.

VOLTA MEU FILHO, neste dia
como num dia de teu aniversário
- o bolo eu faço, e os salgadinhos
de camarão como (gostavas);
pensei até no teu presente, qual
soldadinhos de chumbo (tua paixão).
E se careces uma boa roupa também,
recortarei a roupa usada - corto aqui
conserto acolá (esta foi do tio
que é meu irmão, e vai te dar).

O São João já vem, e fogos não tenho
Olha as estrelas, pede ao Papai
Noel que, no Natal que vem,
Trará o presente de te alegrar.
Para casa não tragas a incerteza
Da luta pugnaz da vida renhida,
ou nada que não foi dado a ti.
Aparece meu filho, volta agora
eu quero te dizer - olá! Vai tudo bem!

VOLTEI MINHA MÃE, a remirar
e absorver os teus cabelos brancos
diadema de prata que só se vê ao longe
quando se quer ouvir uma canção antiga
chamada saudade, composta por ti
- quando calada gestavas teus sonhos
e gastavas silêncio...
tuas obsessões, religião, contradição
preenchendo a solidão.

De bem longe eu venho,
das emoções e do pensamento
que me iam chegando persistentes,
por instantes, dono do tempo,
cruzando como sempre o caminho
só, do teu filho.

Rio (1998) / Teresópolis (2003)




24 novembro, 2017

O CONTADOR DE HISTÓRIAS

Por:
Sebastião Abrão Salim
Regional MINAS GERAIS 
















A noite cai trazendo no colo
as estrelas com olhos de prata.
Anunciam a riqueza do momento vindouro.

O dia foi intenso,
vasto de brincadeiras da infância lasciva.
Teve a pipa, a finca, a pelada,
o pião e o nego fugido.

Foi como a Passárgada de Bandeira
sem as prostitutas e a mesa do rei.
Mas teve a alegria, a amizade e
a roda dos sonhos impossíveis.

Depois à casa para o banho,
os deveres da escola,
ouvir pelo rádio a novela de Jerônimo.

A seguir, a mesa posta para o lanche.
À sua cabeceira senta-se meu pai que,
naquele momento, queria contar-nos uma estória.

Estória que não passava de uma só.
A única que sabia contar.
A única que valia por mil.

Aquela ouvida na infância,
agora com emoção renovada,
como se fosse outra.

Nós outros na cadeira disputada
para ficar-lhe mais próximos.

O encanto remoçava o recontar.
E lá ia ele medindo palavras e pausas.
Afinado nas falas, trazia para o presente
as personagens da estória.
Tudo parecia verdadeiro.

Zir conseguia matar os leões
e retirar-lhes as cabeças
para a construção do castelo.

(Sim, sua moradia era feita de cabeça de leões).

Cavalgava o muro de pedras.
Esporava-o para fortalecer-se,
tanto os braços quanto as pernas.

Depois, o cavalo aprontado
no campear do deserto insólito.

Preparava-se para a luta contra os opressores.

Lá vinha ele, lança em riste,
golpes certeiros e força hercúlea.
Vingava parentes feridos ou mortos
na ignominiosa perseguição.

No encanto de ouvi-lo,
ia-se um par de horas.

A história, infelizmente, findava -
tão absorvidos estávamos!
E a noite estava apenas começando...
Muitos sonhos viriam
e nas décadas vindouras.

Sua História traria no âmago
a aspiração maior do Homem:

O anseio por liberdade.




22 novembro, 2017

ENSAIO FILOSÓFICO SOBRE A FELICIDADE

Por:
Antonio Soares da Fonseca Junior
Regional SÃO PAULO









A felicidade é um bem coletivo. A felicidade individual é egoísmo e, sobretudo, egocentrismo onde apenas um usufrui daquilo que pertence a todos.

Ela não existe e nem é alcançada porque, se assim o fosse, haveria um lugar determinado onde ela se encontraria e lá se iria comprá-la ou pegá-la.

Está presente quando se tenta construí-la através de ações que levam, invariavelmente, ao sucesso. Ela não está onde há o insucesso, a incompetência, a desorganização e a indisciplina. Seria incoerência se pensar que o prejuízo provoque um estado de felicidade.

É uma sensação plena de satisfação, de enlevo, de ascensão que dissolve a tristeza e o dissabor. É a sensação de que se atingiu o tudo, o píncaro, a meta programada ou além disto.

A felicidade feita através de dores, doenças ou perdas é um arrebatamento fanático de se sublimar as desgraças como motivo de crescimento espiritual ou religioso, deixando o lógico pela dogmatização do incerto.

Não se pode confundir sensação de bem estar com felicidade.  Um paciente, com muita dor, sente bem estar após aplicação de analgésicos; não significa que ele está feliz. Está melhor.

Poder-se-ia até afirmar que a felicidade é utópica, uma vez que ela não é perene. É momentânea ou passageira ou ocasional; dissipa-se com o primeiro dissabor, donde se conclui que quanto mais feliz maior a chance de melindres e mais fugaz se torna ela.

É um bem coletivo porque é uma obrigação governamental dar condições de vida com qualidade e com dignidade a todos os povos, independente de etnias, religião, crença e partidarismo.

Repito e enfatizo: felicidade individual é egoísmo, mas, sobretudo egocentrismo onde apenas um usufrui de algo que pertence a todos. 
Nenhum nível social ou cultural compra a felicidade, mas, ela pode ser construída a partir dos sonhos de cada um e do empenho em realizá-los. 

É um contágio benfazejo que deveria estar sempre em forma de epidemia.

Há pessoas que se sentem bem com a felicidade alheia e invejam, de forma sadia, este estado de plenitude; são os desprendidos que entendem que ela é plena e tê-la não significa dividi-la com outrem e ficar com uma menor porção.

Há outras pessoas que se sentem mal e invejam, conscientemente, querendo este estado de forma exclusiva para si, sem ter feito o menor esforço para construí-lo, achando-se únicas merecedoras e que os outros não têm este direito.

Querem exclusividade. São os usurpadores que esperam tomar aquilo que foi construído com seriedade.

Tê-la não é renunciar a um pedaço dela para dar a outrem, não é se despir do que é seu para cobrir um outro santo.Não se divide o indivisível.

Se ela fosse ou estivesse em forma de epidemia, todos os seres humanos seriam donos do mesmo cabedal, sem fracioná-lo, mas, aumentando a força de algo que se agiganta ao ser somado com os demais.

A felicidade pode ser construída a partir dos sonhos de cada um e do empenho em realiza-los.

O sonho é um embrião de um projeto.  Amadurece-se este sonho, tiram-se as arestas, medem-se os prováveis desacertos, divide-o, teoricamente, com outras pessoas, esperando-se críticas construtivas ou contrárias e, enfim, arma-se de coragem para realizá-lo envidando todos os esforços para o acontecimento desejado.

Quanto maior o empenho, maior a rapidez de ter a felicidade para usufruto; quanto mais preguiçosa e demorada for a realização mais longe fica o prazer de possuí-la. 

A elasticidade dela varia de acordo com a multiplicidade do projeto.

Sonho amplo, felicidade maior. Sonho pequeno, felicidade sem expressão. Portanto, cabe a cada um o tempo de tê-la para o próprio bem. Quanto mais ambicioso for o sonho, maior o projeto e maior a satisfação da construção.

Realizar um sonho é perder uma ilusão, contudo, ganhar uma certeza do bem realizado.


20 novembro, 2017

AD VITA CELEBRAMUS

Por:
Francisco de Assis Gondim
Regional CEARÁ












Numa epifania de vida,
Nunca por mim vivenciada;
Vejo a alegria dos seres a minha volta,
Num baile que celebra a volta das chuvas.

Os casais de sabiá procriam,
E alegram os humanos, banhando-se nas piscinas de cimento;
Um dia surge um imenso teju, de sua toca vizinha,
Revelando seu bordado negro, cintilante ao sol.

Ao longe vemos gargantas de arrecifes no oceano,
Que ganham vida durante as marés baixas;
Piscinas no meio do mar, cheias de vida e peixes,
Homenageando minha amada, senhora dessas ilhas imaginárias...

Bandos de galos-de-carnpina, currupiões, graúnas, periquitos,
 Até um pica-pau nos visita;
E como prenúncio do que se aproxima,
Também se multiplicam escorpiões, lacraias, aranhas e pequenos insetos.

Como no centro do paraíso, também existe a árvore da sapiência,
No cajueiro, surge a Boa constrictor, escondida entre os galhos;
Que de início assusta, mas logo revela sua natureza pacífica,
E comendo da fruta proibida, ouvimos um canto distante.

Do alto do castelo vermelho,
Ressoam murmúrios de um povo desaparecido;
Dunas gigantes avermelhadas,
E ate uma esfinge ganha forma na praia.

Dos sambaquis, ressurgem cachimbos e memórias,
São versos do Livro Vermelho, entoados no modo lócrio;
Ad mortem festinamus...
Vita brevis breviter in brevi finietur...




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