24 fevereiro, 2017

MOLTO AGITATO

Por:
Helio Moreira
Regional GOIÁS
E-mail: drhmoreira@gmail.com













Infelizmente não tenho conhecimento musical suficiente para discutir o assunto ópera, porém, sempre que posso, procuro assistir uma ou outra apresentação; desta vez não foi diferente, aproveitamos (Marília e eu) nossa estada em Nova York e fomos tentar assistir “Anna Bolena”.

Disse-o bem, fomos tentar, porque na verdade não conseguimos ingressos, embora tenhamos usado todas as artimanhas possíveis para consegui-los; ao chegarmos às bilheterias do “Metropolitan Ópera” informaram-nos que os mesmos já estavam esgotados, porém, se tivéssemos paciência e, sobretudo um pouco de sorte, poderíamos tentar a fila da lista de espera, na expectativa de desistência de alguém.

Enquanto aguardávamos, felizmente sentados em confortáveis poltronas, encontrei um livro na livraria do teatro que me chamou a atenção; comprei-o e iniciei a sua leitura; tratava-se do relato da escritora Johanna Fiedler, cujo título, “Molto Agitato” e a leitura do seu prólogo, deixavam claro a intenção da autora: contar fatos pitorescos ligados ao mundo dos cantores, regentes de orquestras, produtores e dirigentes do “Metropolitan Ópera”, desde sua fundação em 1880.

Na volta, aqui no Brasil, continuei a ler o intrigante livro, cuja autora havia trabalhado por quinze anos junto à administração do teatro; portanto, tinha muito conhecimento dos bastidores como se pode observar nesta passagem em que ela fala a respeito da personalidade de Pavarotti:


“Pavarotti era temperamental e nervoso, algumas vezes agia como criança birrenta; chegava ao Metropolitan com a sua secretária, sua nutricionista e quase sempre com dois agentes de imprensa que o assessoravam, cumprimentava poucas pessoas e se dirigia para o camarim de onde saía apenas para cantar; algumas vezes cancelava apresentações na última hora; não era respeitoso com seus colegas, aconteceu mais de uma vez, no meio de um dueto de amor, ao sentir sede, caminhava para fora do palco para buscar água, deixando a soprano em pânico”.

Por ter muito interesse em assuntos sobre a 1ª. guerra mundial chamou-me a atenção, sobremaneira, o capítulo que ela dedica a este acontecimento e sua repercussão sobre o funcionamento do teatro; leiam comigo, resumidamente, o que ela diz: “Antes dos Estados Unidos entrarem na guerra em 1917, Giulio Gatti, o diretor geral do Metropolitan vinha recebendo pressão, que ele resistia, para cancelar as óperas alemãs que estavam programadas e dispensar os artistas oriundos daquele país, porém, após a declaração de guerra, ele não conseguiu, embora tentasse, que as apresentações da ópera “Parsifal” do compositor alemão Richard Wagner não fosse interrompida, tendo em vista a xenofobia contra os teutônicos que passou a imperar nos Estados Unidos”.

É de se salientar, no entanto, que a imprensa, neste e em outros episódios semelhantes, tenha se colocado do lado do diretor com o argumento que infelizmente não prevaleceu, de que Bach, Wagner, Beethoven e Brahms se colocam no mesmo patamar da cultura mundial que Shakespeare e Dante; sequencialmente, entre 1917-1918, cerca de quarenta e cinco óperas de autores alemães foram canceladas.

Por esta mesma ocasião o Metropolitan recebeu ordem do governo americano para deixar o teatro às escuras uma vez por semana (às segundas-feiras), no sentido de economizar combustível; como este dia da semana era considerado o de maior impacto social, houve enorme resistência do público; embora os americanos fossem patriotas e mesmo xenófilos, não aceitaram que a guerra tivesse interferência na sua vida social.

A primeira guerra mundial terminou no dia 11 de novembro de 1918, coincidentemente no dia em que, adrede programado, abria-se oficialmente a temporada de óperas do Metropolitan; Giulio Gatti, naquela época o diretor do teatro, programou para esta apresentação a ópera “Sansão e Dalila”, sob a regência do maestro francês Pierre Monteux; Enrico Caruso foi o tenor e Louise Homer a soprano; era a triunfal homenagem à França vitoriosa na guerra.

Antes de concluir este texto, acredito que alguns leitores podem estar se perguntando: eles conseguiram os ingressos? Infelizmente não, porém, fomos informados que naquela mesma noite, em plena “Times Square”, na Broadway, o espetáculo seria transmitido ao vivo, direto para três enormes telões montados ao ar livre; é de surpresar o cético emperdenido. Sentamos em confortáveis cadeiras adrede colocadas em plena praça, na companhia de mais de três mil pessoas e assistimos, estupefatos, sem nada gastar, a maravilhosa exibição.

Foram quase três horas que ficarão inolvidáveis nas nossas lembranças, pois vivemos, juntos com o público que estava ali, todas as emoções da “avant premiére” de Ana Bolena, com aplausos, vozes em grita (bravos! bravos!) nos intervalos, como se estivéssemos no interior do Metropolitan
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O ENREDO DA ÓPERA (2 atos) prende a atenção do público assistente até o último minuto:

O rei da Inglaterra, Henrique VIII (1536), não mais ama sua esposa Anna Bolena e procura o amor de outra mulher (Giovana) e para poder se desvencilhar de Anna, "inventa" que ela tem um amante e traz para dentro do Palácio um seu antigo namorado (Lord Percy), que havia mandado buscar no exílio; Henrique VIII pede que ela seja julgada pela Corte de Justiça. Anna é abandonada pelos seus seguidores e fica isolada no Palácio e se queixa ao rei sobre o tratamento a que está sendo submetida e este a acusa de traição amorosa.

Lord Percy, na tentativa de salvar Anna, inventa que os dois ja eram casados e, com isto, o casamento do rei com Anna torna-se nulo e os dois são levados para a prisão. O Conselho de Justiça condena Anna à morte.

O "Gran Finalle" um coral canta em louvor ao rei que está se casando, enquanto Anna caminha com passos firmes para o suplicio da execução.






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