19 fevereiro, 2017

VOCAÇÃO LITERÁRIA

Por:
José Arlindo Gomes de Sá
Regional PERNAMBUCO
E-mail: zearlindogomes@gmail.com








O atributo principal da vocação literária é o fato de que quem a possui vivencia o exercício dessa vocação como recompensa. O escritor sente que escrever é a melhor coisa que jamais lhe aconteceu, pois escrever significa para ele uma maneira possível de viver, independentemente dos resultados que possa alcançar. Se não estou errado em minha suposição, uma pessoa desenvolve precocemente, na infância ou na adolescência, uma predisposição para fantasiar situações, casos, mundos diversos do mundo em que vive, e essa inclinação é o ponto de partida do que mais tarde poderá se chamar vocação literária.

A vocação literária, além de ser um passatempo, um esporte, um lazer refinado que se pratica nas horas vagas, é também uma dedicação, uma prioridade à frente da qual nada pode passar. A literatura passa a ser uma atividade permanente, algo que ocupa a existência, pois a vocação literária se alimenta da vida do escritor. Como dizia Flaubert: “Escrever é uma maneira de viver”.

A raiz de todas as histórias está na experiência de quem as inventa. O que se viveu é a fonte que Irriga a ficção. E, em toda ficção, mesmo na mais livremente concebida, é possível rastrear um ponto de partida, uma semente íntima, ligado à soma de vivências de quem a forjou.

O estilo é um ingrediente essencial, mas não o único. Os textos são feitos de palavras, o que significa que a maneira como o autor escolhe sua linguagem é fator decisivo para que sua história tenha poder de persuasão. É necessário buscar e encontrar o estilo. Para escrever um bom texto é imprescindível ler. E não seria exagero dizer: ler muito! Ler muitíssimo, porque é impossível ter uma linguagem rica e desenvolta sem ler um bocado de boa literatura. E tentar repetidamente, pois não é tão fácil assim. Evitar imitar os estilos do escritor que admira e que ensinam a amar a literatura. Imitá-los apenas na devoção, na disciplina e nos hábitos.

Flaubert tinha uma teoria sobre o estilo. A palavra certa era aquela, única, capaz de expressar cabalmente uma ideia. A obrigação de quem escreve é encontrá-la. Como, então, saber que a encontrará? Seu ouvido lhe dizia: a palavra certa era quando soava bem. Aquele ajuste, entre palavra e ideia, traduzido em harmonia musical. Por isso ele saía para ler em voz alta o que havia escrito em uma pequena alameda. Nela, ele lia o mais alto possível o que escrevera, e o ouvido lhe confirmava se encontrara o que queria ou se teria que continuar experimentando palavras e frases até atingir o ponto ideal.

O poeta Manoel de Barros entesourava frases assim: “Imagens são palavras que nos faltam”.

E Cecília Meireles esperava que as palavras viessem:
“Uma palavra caída
das montanhas dos instantes
desmancha todos os mares
e une as terras mais distantes”.




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