José Arlindo Gomes de Sá
Regional PERNAMBUCO
O atributo principal da vocação
literária é o fato de que quem a possui vivencia o exercício dessa vocação como
recompensa. O escritor sente que escrever é a melhor coisa que jamais lhe
aconteceu, pois escrever significa para ele uma maneira possível de viver, independentemente dos
resultados que possa alcançar. Se não estou errado em minha suposição, uma pessoa
desenvolve precocemente, na infância ou na adolescência, uma predisposição
para fantasiar situações, casos, mundos diversos do mundo em que vive, e essa
inclinação é o ponto de partida do que mais tarde poderá se chamar vocação
literária.
A vocação literária, além de ser
um passatempo, um esporte, um lazer refinado que se pratica nas horas vagas, é
também uma dedicação, uma prioridade à frente da qual nada pode passar. A
literatura passa a ser uma atividade permanente, algo que ocupa a existência,
pois a vocação literária se alimenta da vida do escritor. Como dizia Flaubert: “Escrever
é uma maneira de viver”.
A raiz de todas as histórias está
na experiência de quem as inventa. O que se viveu é a fonte que Irriga a
ficção. E, em toda ficção, mesmo na mais livremente concebida, é possível
rastrear um ponto de partida, uma semente íntima, ligado à soma de vivências de
quem a forjou.
O estilo é um ingrediente
essencial, mas não o único. Os textos são feitos de palavras, o que significa que
a maneira como o autor escolhe sua linguagem é fator decisivo para que sua
história tenha poder de persuasão. É necessário buscar e encontrar o estilo.
Para escrever um bom texto é imprescindível ler. E não seria exagero dizer: ler
muito! Ler muitíssimo, porque é impossível ter uma linguagem rica e desenvolta
sem ler um bocado de boa literatura. E tentar repetidamente, pois não é tão
fácil assim. Evitar imitar os estilos do escritor que admira e que ensinam a
amar a literatura. Imitá-los apenas na devoção, na disciplina e nos hábitos.
Flaubert tinha uma teoria sobre o
estilo. A palavra certa era aquela, única, capaz de expressar cabalmente uma
ideia. A obrigação de quem escreve é encontrá-la. Como, então, saber que a
encontrará? Seu ouvido lhe dizia: a palavra certa era quando soava bem. Aquele ajuste, entre
palavra e ideia, traduzido em harmonia musical. Por isso ele saía para ler em
voz alta o que havia escrito em uma pequena alameda. Nela, ele lia o mais alto possível
o que escrevera, e o ouvido lhe confirmava se encontrara o que queria ou se
teria que continuar experimentando palavras e frases até atingir o ponto ideal.
O poeta Manoel
de Barros entesourava frases assim: “Imagens são palavras que nos faltam”.
E Cecília Meireles esperava que
as palavras viessem:
“Uma palavra caída
das montanhas dos instantes
desmancha todos os mares
e une as terras mais distantes”.
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