20 fevereiro, 2017

EU ERA PILOTO DE AVIÃO DE GUERRA

Por:
Nelson Jacintho
Regional SÃO PAULO
E-mail: dr.njacintho@gmail.com










Eu era piloto de avião de guerra! Eu tinha  o melhor avião da esquadra americana! Eu tinha todas as regalias porque tinha o melhor avião e eu e meu copiloto éramos considerados os melhores. Avião de dois motores, todo blindado contra qualquer tipo de agressão dos inimigos. Voava no céu como um tubarão deslizava no mar, não respeitando nenhum inimigo. Por falar em tubarão, ele tinha o apelido de "tubarão do ar" e em sua fuselagem estava gravado em suas duas laterais o desenho de um grande tubarão com a bocarra aberta! Eu era o comandante da tropa! Eu comandava toda a aviação americana do país! Dava as ordens e interpretava as pequenas picuinhas que havia entre os demais pilotos da Força Aérea! Na época eu tinha 55 anos de idade e vendia saúde! Nunca havia me acidentado! Nunca tivera uma pequena dor de cabeça que pudesse impedir-me de alçar voo! Nunca tive um pequeno acidente que pudesse causar um  pequeno arranhão a mim e ao meu grande avião! Era o piloto mais comentado e mais temido do mundo! Quantos combates tive de enfrentar e quantas aeronaves destruí em pleno voo, em batalhas que algumas vezes eram tidas como de difícil vitória! Eu, entretanto, nunca tive medo de enfrentar inimigos de qual raça fossem. Com a minha ascendência na aeronáutica rapidamente cheguei ao cargo de brigadeiro e poderia ficar tranquilamente em um gabinete com cafezinho quente a toda hora e lendo sossegadamente meus livros na sala de ar condicionado! Eu, entretanto deixava o uniforme e minha medalha de brigadeiro, vestia o uniforme de guerra e saia com meu copiloto no "Tubarão do ar" para onde fosse necessário. Quase nunca era necessário, mas eu estava sempre à frente da tropa! Eu era o espírito guerreiro da tropa que nada temia! Era o exemplo! Outros aviões mais novos foram chegando, mas eu nunca deixei o meu "tubarão do ar" na mão de um subalterno! Certa ocasião tive de aterrissar em uma estrada alguns quilômetros distante do centro da batalha, mas nada aconteceu conosco (pilotos e avião)! Isto me fez mais destemido! Eu era invencível! Nada poderia acontecer-me!

Certo dia, entretanto, senti que o avião fora atingido e estávamos prestes a cair no oceano! Eu e o copilado aprontávamos para saltar no mar! Pela primeira vez em minha vida senti que meu corpo estava congelado e não podia movimentá-lo! Num repente, num esforço descomunal, dei um salto e consegui libertar-me!


Minha mulher, que dormia ao meu lado, levou um tremendo susto ao acender a luz e ver-me de olhos esbugalhados após ter dado um salto que nunca havia dado em minha vida!  Que sonho! Que susto! Hoje, quando entro calmamente em um avião de carreira, sinto um calafrio percorrer-me a espinha! Teria sido eu um piloto de guerra em uma esquadra americana em outra geração? 


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