Por:
Nelson Jacintho
Regional SÃO PAULO
Eu era piloto de avião de guerra! Eu tinha
o melhor avião da esquadra americana! Eu tinha todas as regalias porque
tinha o melhor avião e eu e meu copiloto éramos considerados os melhores. Avião
de dois motores, todo blindado contra qualquer tipo de agressão dos inimigos.
Voava no céu como um tubarão deslizava no mar, não respeitando nenhum inimigo.
Por falar em tubarão, ele tinha o apelido de "tubarão do ar" e em sua
fuselagem estava gravado em suas duas laterais o desenho de um grande tubarão
com a bocarra aberta! Eu era o comandante da tropa! Eu comandava toda a aviação
americana do país! Dava as ordens e interpretava as pequenas picuinhas que
havia entre os demais pilotos da Força Aérea! Na época eu tinha 55 anos de
idade e vendia saúde! Nunca havia me acidentado! Nunca tivera uma pequena dor
de cabeça que pudesse impedir-me de alçar voo! Nunca tive um pequeno acidente
que pudesse causar um pequeno arranhão a mim e ao meu grande avião! Era o
piloto mais comentado e mais temido do mundo! Quantos combates tive de
enfrentar e quantas aeronaves destruí em pleno voo, em batalhas que algumas
vezes eram tidas como de difícil vitória! Eu, entretanto, nunca tive medo de
enfrentar inimigos de qual raça fossem. Com a minha ascendência na aeronáutica
rapidamente cheguei ao cargo de brigadeiro e poderia ficar tranquilamente em um
gabinete com cafezinho quente a toda hora e lendo sossegadamente meus livros na
sala de ar condicionado! Eu, entretanto deixava o uniforme e minha medalha de
brigadeiro, vestia o uniforme de guerra e saia com meu copiloto no
"Tubarão do ar" para onde fosse necessário. Quase nunca era
necessário, mas eu estava sempre à frente da tropa! Eu era o espírito guerreiro
da tropa que nada temia! Era o exemplo! Outros aviões mais novos foram
chegando, mas eu nunca deixei o meu "tubarão do ar" na mão de um
subalterno! Certa ocasião tive de aterrissar em uma estrada alguns quilômetros
distante do centro da batalha, mas nada aconteceu conosco (pilotos e avião)!
Isto me fez mais destemido! Eu era invencível! Nada poderia acontecer-me!
Certo dia, entretanto, senti que o avião fora
atingido e estávamos prestes a cair no oceano! Eu e o copilado aprontávamos
para saltar no mar! Pela primeira vez em minha vida senti que meu corpo estava
congelado e não podia movimentá-lo! Num repente, num esforço descomunal, dei um
salto e consegui libertar-me!
Minha mulher, que dormia ao meu lado, levou um
tremendo susto ao acender a luz e ver-me de olhos esbugalhados após ter dado um
salto que nunca havia dado em minha vida! Que sonho! Que susto! Hoje,
quando entro calmamente em um avião de carreira, sinto um calafrio percorrer-me
a espinha! Teria sido eu um piloto de guerra em uma esquadra americana em outra
geração?
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