José P. Di Cavalcanti Jr.
Deito-me
como se entre parênteses
porque
- ( malgrado o escuro tanto da noite,
malgrado a cegueira qualquer do dia ) -
tenho ainda outro significado:
melancolia,
sou uma desolada modinha
para uma vintena de cellos
de bachiana primeira.
Deito-me e,
embora creia sempre nada fazer,
ouço música que não mais toca,
sinto um frio que tanto não passa,
sem fervor, lanço-me às preces; ao mar, sem amor,
e cubro-me só de exclamações...
Como se entre parênteses,
deito-me apenas e é quando,
de olhos saudade,
fechados,
rememoro transportes e luares
ou, na transparência de lágrimas,
abertos,
de mares feridos,
assalta-me a impressão de perder
serenados arco-íris.
Não sei...
nunca posso...
tanto não me abandona
apenas este deitar-me
como se entre parênteses.
Não pode,
disse um poeta,
um coração viver assim dilacerado,
escravizado a uma ilusão
e, mais, tanto mais,
noutra modinha,
a derramar melancolia
como um luar desesperado.
Sim, disse ele, inutilmente.
Disse-o,
sem saber, sem saber-me,
sem sequer desconfiar que,
como se entre parênteses,
me deito
- ( quiçá à espera de ventos e de luz
que me lavem e me alegrem o sangue ) -
e ali coloco-me à disposição de uma sede
como não sabidos vasos são só colocados
para recolherem o sereno.
Lembro-me, assim,
deitado como se entre parênteses,
que gritos,
em resposta às feridas,
passam, inaudíveis, passam
por minha garganta.
Também, pranto e sorriso começam em meu rosto...
- ( Silente furchtbare Klage*,
não me cercam donzelas, porém,
e Kundry não me interpela,
nem me ajuda nem me engana,
Parsifal que não sou. ) -
Então, ainda que pálido,
à cata de beleza,
recito versos
à medida que espalho
caídas rosas vermelhas por sobre meu ventre.
Desolada modinha que sou,
para uma vintena de cellos
de bachiana primeira,
nem odeio nem murmuro,
a tecer neste entre parênteses o pensar que amo
ou que apenas poderia tão-somente amar
alguém que tivesse sede, muita sede,
e que,
como água sob a erva,
dormisse estrofes eternas.
como se entre parênteses
porque
- ( malgrado o escuro tanto da noite,
malgrado a cegueira qualquer do dia ) -
tenho ainda outro significado:
melancolia,
sou uma desolada modinha
para uma vintena de cellos
de bachiana primeira.
Deito-me e,
embora creia sempre nada fazer,
ouço música que não mais toca,
sinto um frio que tanto não passa,
sem fervor, lanço-me às preces; ao mar, sem amor,
e cubro-me só de exclamações...
Como se entre parênteses,
deito-me apenas e é quando,
de olhos saudade,
fechados,
rememoro transportes e luares
ou, na transparência de lágrimas,
abertos,
de mares feridos,
assalta-me a impressão de perder
serenados arco-íris.
Não sei...
nunca posso...
tanto não me abandona
apenas este deitar-me
como se entre parênteses.
Não pode,
disse um poeta,
um coração viver assim dilacerado,
escravizado a uma ilusão
e, mais, tanto mais,
noutra modinha,
a derramar melancolia
como um luar desesperado.
Sim, disse ele, inutilmente.
Disse-o,
sem saber, sem saber-me,
sem sequer desconfiar que,
como se entre parênteses,
me deito
- ( quiçá à espera de ventos e de luz
que me lavem e me alegrem o sangue ) -
e ali coloco-me à disposição de uma sede
como não sabidos vasos são só colocados
para recolherem o sereno.
Lembro-me, assim,
deitado como se entre parênteses,
que gritos,
em resposta às feridas,
passam, inaudíveis, passam
por minha garganta.
Também, pranto e sorriso começam em meu rosto...
- ( Silente furchtbare Klage*,
não me cercam donzelas, porém,
e Kundry não me interpela,
nem me ajuda nem me engana,
Parsifal que não sou. ) -
Então, ainda que pálido,
à cata de beleza,
recito versos
à medida que espalho
caídas rosas vermelhas por sobre meu ventre.
Desolada modinha que sou,
para uma vintena de cellos
de bachiana primeira,
nem odeio nem murmuro,
a tecer neste entre parênteses o pensar que amo
ou que apenas poderia tão-somente amar
alguém que tivesse sede, muita sede,
e que,
como água sob a erva,
dormisse estrofes eternas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigado por participar.