14 junho, 2017

A LENDA DE PROMETEU

Por:
Ildeu Baptista de Oliveira
Regional MINAS GERAIS
E-mail Ildeu@globo.com







Ésquilo, nascido em Elêusis, próxima a Atenas, em 525 a.C., é considerado o pai da tragédia grega. Uma de suas peças mais grandiosas pelo tema que focaliza é o “Prometeu Acorrentado”. Segundo a Mitologia, Júpiter, ao assumir o poder sobre o universo, desejava manter a espécie humana na condição próxima à animalidade ou mesmo destruí-la para substituí-la por outra de sua própria criação. Prometeu, condoído da sorte da humanidade, apodera-se de uma faísca do fogo celeste doando-a ao homem, que com isso adquire a razão e a faculdade de cultivar a inteligência, a ciência e as artes.

Como castigo por esse crime, Prometeu foi acorrentado a um rochedo onde se submetia ao suplício de ter, a cada dia, parte de seu fígado devorada por um abutre.

Há trechos de impressionante beleza nesse drama esquiliano, nos quais Prometeu demonstra invejável altivez diante das ameaças do Júpiter vingativo que desejava obter do herói os segredos do futuro por este conhecido. (Prometeu significa “aquele que prevê”.).
O desenvolvimento humano procura ampliar o predomínio da racionalidade, da inteligência e do amor sobre os impulsos destrutivos e irracionais, tarefa exercida pelos pais no quotidiano convívio com os filhos. Esse processo civilizador prepara as crianças para a vida social, para que se tornem cidadãos responsáveis capazes de exercer o papel ativo e criativo na construção e transformação do mundo.

É tarefa difícil, trabalhosa e permanente. Buscar exercer a autoridade sem autoritarismo. Manter a firmeza sem perder ternura. Corrigir sem humilhar. Proteger sem cair no exagero da superproteção. Dizer sim sem ser permissivo. Saber impor limites em conformidade com as limitações. Acompanhar e respeitar o ritmo de desenvolvimento de cada filho, sabendo que há diferenças marcantes entre eles. Aprender a se relacionar de maneira especial na medida das particularidades de cada um. Pois cada filho é único e especial. Buscar o diálogo a cada momento e nas mais difíceis situações.

Manter um pé na crueza da realidade e outro nas asas do sonho e do ideal. Mostrar a beleza do mundo sem ocultar seus perigos. Ensinar que a felicidade é o bem maior, que é uma conquista e uma elaboração paciente e fundamentada no Trabalho, Amor, na Verdade e na Justiça. Que cada um é responsável na construção de sua vida e de seu destino.
Ser pai é aprender com os filhos. É ter a humildade suficiente para reconhecer seus próprios erros e a grandeza para pedir perdão.

É desenvolver nos filhos a capacidade de discernir para que não se deixem levar pela propaganda enganosa, pelo canto da sereia dos prazeres artificiais e imediatos e pelas falsas amizades. Que exerçam com inteligência a liberdade com responsabilidade. Que aprendam a ser tolerantes com os demais, apesar de crenças, etnias e credos diferentes. Que respeitem o direito dos outros e que se coloquem ao lado dos mais fracos e oprimidos. Que cultivem a cortesia, a gentileza e urbanidade e que adotem as regras de convívio social. Que ajudem a preservar a natureza. Que não sejam subservientes nem arrogantes.

Ser pai é saber que os filhos são criaturas de Deus e, portanto, senhores de intrínseca dignidade. É demonstrar seu amor através de gestos de carinho e de afirmações verbais com todas as letras “meu filho ou minha filha eu te amo”. Pois os filhos necessitam saber o quanto são amados. É saber que elogiar os filhos não irá “estraga-los”, pelo contrário, despertará neles o desejo de ser melhores.

Que a bondade e generosidade dos pais simbolize para os filhos em pequena escala a imagem do Pai Supremo, amoroso e misericordioso.

Que os filhos saibam que a vida é incerta. Que terão dificuldades, frustrações e desilusões. Mas que tenham a certeza de contar com o apoio paterno nos momentos difíceis.
Sobretudo, ser pai significa ser presença. Estar disponível para escutar e participar da vida dos filhos. É ser criança e adulto ao mesmo tempo.

Equilibrar-se no fio tênue entre a certeza e a dúvida, entre a justa medida e o exagero é a essência do quotidiano paterno.

Somos pais, mas somos humanos. Erramos, pois não somos perfeitos. Buscamos acertar sempre, mas nem sempre conseguimos. Mas nunca perdemos a esperança que é o nosso alimento.

Esperança que nossos filhos sejam felizes. Que Deus nos ajude, a nós pais, modernos Prometeus, presos aos nossos filhos pelos indeléveis laços de ternura.



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