Ildeu Baptista de Oliveira
Ésquilo,
nascido em Elêusis, próxima a Atenas, em 525 a.C., é considerado o pai da
tragédia grega. Uma de suas peças mais grandiosas pelo tema que focaliza é o
“Prometeu Acorrentado”. Segundo a Mitologia, Júpiter, ao assumir o poder sobre
o universo, desejava manter a espécie humana na condição próxima à animalidade
ou mesmo destruí-la para substituí-la por outra de sua própria criação.
Prometeu, condoído da sorte da humanidade, apodera-se de uma faísca do fogo
celeste doando-a ao homem, que com isso adquire a razão e a faculdade de
cultivar a inteligência, a ciência e as artes.
Como
castigo por esse crime, Prometeu foi acorrentado a um rochedo onde se submetia
ao suplício de ter, a cada dia, parte de seu fígado devorada por um abutre.
Há trechos
de impressionante beleza nesse drama esquiliano, nos quais Prometeu demonstra
invejável altivez diante das ameaças do Júpiter vingativo que desejava obter do
herói os segredos do futuro por este conhecido. (Prometeu significa “aquele que
prevê”.).
O
desenvolvimento humano procura ampliar o predomínio da racionalidade, da
inteligência e do amor sobre os impulsos destrutivos e irracionais, tarefa
exercida pelos pais no quotidiano convívio com os filhos. Esse processo
civilizador prepara as crianças para a vida social, para que se tornem cidadãos
responsáveis capazes de exercer o papel ativo e criativo na construção e
transformação do mundo.
É tarefa
difícil, trabalhosa e permanente. Buscar exercer a autoridade sem
autoritarismo. Manter a firmeza sem perder ternura. Corrigir sem humilhar.
Proteger sem cair no exagero da superproteção. Dizer sim sem ser permissivo.
Saber impor limites em conformidade com as limitações. Acompanhar e respeitar o
ritmo de desenvolvimento de cada filho, sabendo que há diferenças marcantes
entre eles. Aprender a se relacionar de maneira especial na medida das
particularidades de cada um. Pois cada filho é único e especial. Buscar o
diálogo a cada momento e nas mais difíceis situações.
Manter um
pé na crueza da realidade e outro nas asas do sonho e do ideal. Mostrar a
beleza do mundo sem ocultar seus perigos. Ensinar que a felicidade é o bem
maior, que é uma conquista e uma elaboração paciente e fundamentada no
Trabalho, Amor, na Verdade e na Justiça. Que cada um é responsável na
construção de sua vida e de seu destino.
Ser pai é aprender
com os filhos. É ter a humildade suficiente para reconhecer seus próprios erros
e a grandeza para pedir perdão.
É
desenvolver nos filhos a capacidade de discernir para que não se deixem levar
pela propaganda enganosa, pelo canto da sereia dos prazeres artificiais e
imediatos e pelas falsas amizades. Que exerçam com inteligência a liberdade com
responsabilidade. Que aprendam a ser tolerantes com os demais, apesar de
crenças, etnias e credos diferentes. Que respeitem o direito dos outros e que
se coloquem ao lado dos mais fracos e oprimidos. Que cultivem a cortesia, a
gentileza e urbanidade e que adotem as regras de convívio social. Que ajudem a
preservar a natureza. Que não sejam subservientes nem arrogantes.
Ser pai é
saber que os filhos são criaturas de Deus e, portanto, senhores de intrínseca
dignidade. É demonstrar seu amor através de gestos de carinho e de afirmações
verbais com todas as letras “meu filho ou minha filha eu te amo”. Pois os
filhos necessitam saber o quanto são amados. É saber que elogiar os filhos não
irá “estraga-los”, pelo contrário, despertará neles o desejo de ser melhores.
Que a
bondade e generosidade dos pais simbolize para os filhos em pequena escala a
imagem do Pai Supremo, amoroso e misericordioso.
Que os
filhos saibam que a vida é incerta. Que terão dificuldades, frustrações e
desilusões. Mas que tenham a certeza de contar com o apoio paterno nos momentos
difíceis.
Sobretudo,
ser pai significa ser presença. Estar disponível para escutar e participar da
vida dos filhos. É ser criança e adulto ao mesmo tempo.
Equilibrar-se
no fio tênue entre a certeza e a dúvida, entre a justa medida e o exagero é a
essência do quotidiano paterno.
Somos
pais, mas somos humanos. Erramos, pois não somos perfeitos. Buscamos acertar
sempre, mas nem sempre conseguimos. Mas nunca perdemos a esperança que é o
nosso alimento.
Esperança
que nossos filhos sejam felizes. Que Deus
nos ajude, a nós pais, modernos Prometeus, presos aos nossos filhos pelos
indeléveis laços de ternura.
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