21 fevereiro, 2017

A VIDA É QUASE CINEMA

Por:
Josyanne Rita de Arruda Franco
Regional SÃO PAULO
Presidente Nacional 2017/2018
E-mail: josyannerita@gmail.com










Qual será o desfecho do filme que iniciamos há cinquenta dias? Sabemos quem são os protagonistas, os coadjuvantes e a época em que a trama se desenrola. Exibiremos um musical, uma aventura, um drama, ficção, comédia ou cinema de arte?

Caminhamos nosso destino abrindo veredas de possibilidades, ora seguindo contentes, ora ressabiados com os reveses. A andança é cheia de surpresas, mas também recheada de eventos previsíveis ao alcance da mão e da escolha. O espetáculo descortina um mundo de acontecimentos rápidos e de sequências dinâmicas, onde falta fôlego e sobram cenas. São muitos cenários, muitas falas, muitos acontecimentos.

Quase estávamos no ontem quando o amanhã chegou, trazendo o início do ano letivo e as folias de Momo. O ritmo célere dos veículos nas ruas, o calor a encharcar as roupas e o fim do horário de verão sinalizam que a vida começa a mudar seu aspecto para outro momento, contrastando a sutileza de suas mudanças com a passividade contrita de que quase tudo inevitavelmente permanecerá igual. As promessas das festividades do final do ano anterior se vão exaurindo com as altas temperaturas, deixando para depois tudo o que pretendia acontecer. Em comum? O tempo que passa.

Mergulhados na projeção da nossa história, em câmara lenta observamos o tempo desprender as folhas da bela árvore da vida, e a trilha sonora de compasso lento nos remete às questões íntimas que teimam em incomodar. Se a sequência seguinte for ágil e cheia de felizes expectativas, pouco importa o que trará a próxima cena, imersos que ficamos no êxtase da alegria, ensurdecidos aos apelos fora de nós.

Ansiosos e vorazes, devoramos nossas pipocas metamorfoseadas em bebidas, relações frágeis e consumismo desvairado, fazendo ecoar nosso barulho mastigatório de incisivos e caninos selvagens no entorno de quem deseja o silêncio, ignorando os papéis secundários do enredo comum.

O ar refrigerado da sala de projeção vez por outra se traduz na lágrima que alivia nosso olhar, na maior parte do tempo coberto pela névoa da indiferença. A escuridão que convida à paz interior recebe os golpes das lanternas de celulares, cujos apitos sonoros avisam que o tempo não é mais uma questão abstrata, mas de curtição, comentário e compartilhamento. E a polarização dos discursos nos diz que as cortinas da sala de espetáculo não podem ser vermelhas nem azuis.

Na sala de projeção desse tempo sobre a terra, a vida é quase cinema que enreda sonhos e vida real. Que ao menos seja uma história interessante, plena de arte e de momentos vividos com genuíno interesse, oferecendo oportunidade para cenas de romance e alguns intervalos para o adeus.

Eis o espetáculo do viver eloquente, bem ao gosto dos poetas: festejar o amor e a vida antes do início... lamentar a finitude antes do grande final. No recheio, memoráveis interpretações e cenas antológicas, um filme de intensidade. E o Oscar vai para quem?

Que o Blog da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores – SOBRAMES seja rara e preciosa película, onde possamos contar nossa história e exibir nossos artistas, esses artífices das palavras que difundem e valorizam a beleza nostálgica de todos os cenários que adornam a vida, tornando-a uma experiência cinematográfica de foro íntimo, grande subjetividade e compartilhamento mútuo.

Josyanne Rita de Arruda Franco
Presidente da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores - SOBRAMES


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