Josyanne Rita de Arruda Franco
Regional SÃO PAULO
Presidente Nacional 2017/2018
Qual
será o desfecho do filme que iniciamos há cinquenta dias? Sabemos quem são os
protagonistas, os coadjuvantes e a época em que a trama se desenrola.
Exibiremos um musical, uma aventura, um drama, ficção, comédia ou cinema de
arte?
Caminhamos
nosso destino abrindo veredas de possibilidades, ora seguindo contentes, ora
ressabiados com os reveses. A andança é cheia de surpresas, mas também recheada
de eventos previsíveis ao alcance da mão e da escolha. O espetáculo descortina
um mundo de acontecimentos rápidos e de sequências dinâmicas, onde falta fôlego
e sobram cenas. São muitos cenários, muitas falas, muitos acontecimentos.
Quase
estávamos no ontem quando o amanhã chegou, trazendo o início do ano letivo e as
folias de Momo. O ritmo célere dos veículos nas ruas, o calor a encharcar as
roupas e o fim do horário de verão sinalizam que a vida começa a mudar seu
aspecto para outro momento, contrastando a sutileza de suas mudanças com a passividade
contrita de que quase tudo inevitavelmente permanecerá igual. As promessas das
festividades do final do ano anterior se vão exaurindo com as altas
temperaturas, deixando para depois tudo o que pretendia acontecer. Em comum? O
tempo que passa.
Mergulhados
na projeção da nossa história, em câmara lenta observamos o tempo desprender as
folhas da bela árvore da vida, e a trilha sonora de compasso lento nos remete às
questões íntimas que teimam em incomodar. Se a sequência seguinte for ágil e
cheia de felizes expectativas, pouco importa o que trará a próxima cena,
imersos que ficamos no êxtase da alegria, ensurdecidos aos apelos fora de nós.
Ansiosos
e vorazes, devoramos nossas pipocas metamorfoseadas em bebidas, relações
frágeis e consumismo desvairado, fazendo ecoar nosso barulho mastigatório de
incisivos e caninos selvagens no entorno de quem deseja o silêncio, ignorando
os papéis secundários do enredo comum.
O
ar refrigerado da sala de projeção vez por outra se traduz na lágrima que
alivia nosso olhar, na maior parte do tempo coberto pela névoa da indiferença. A
escuridão que convida à paz interior recebe os golpes das lanternas de
celulares, cujos apitos sonoros avisam que o tempo não é mais uma questão abstrata,
mas de curtição, comentário e compartilhamento. E a polarização dos discursos
nos diz que as cortinas da sala de espetáculo não podem ser vermelhas nem
azuis.
Na
sala de projeção desse tempo sobre a terra, a vida é quase cinema que enreda
sonhos e vida real. Que ao menos seja uma história interessante, plena de arte
e de momentos vividos com genuíno interesse, oferecendo oportunidade para cenas
de romance e alguns intervalos para o adeus.
Eis
o espetáculo do viver eloquente, bem ao gosto dos poetas: festejar o amor e a
vida antes do início... lamentar a finitude antes do grande final. No recheio,
memoráveis interpretações e cenas antológicas, um filme de intensidade. E o
Oscar vai para quem?
Que
o Blog da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores – SOBRAMES seja rara e preciosa
película, onde possamos contar nossa história e exibir nossos artistas, esses artífices
das palavras que difundem e valorizam a beleza nostálgica de todos os cenários
que adornam a vida, tornando-a uma experiência cinematográfica de foro íntimo, grande
subjetividade e compartilhamento mútuo.
Josyanne Rita de
Arruda Franco
Presidente
da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores - SOBRAMES
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