Por:
Por Meraldo Zisman
Regional PERNAMBUCO
E-mail: meraldozisman@uol.com.br
Palavra que voltou
à moda com relação à sabatina de candidato a magistrado da Suprema Corte
Plágio é a ação de
copiar obra alheia. O hábito da leitura é fundamental para quem escreve, além
de ser um dos entretenimentos preferidos dos escritores. Samuel Johnson
(1709-1784), o grande lexicógrafo dizia: “uma pessoa revira metade de
uma biblioteca para escrever um livro”.
Não poucas vezes
um escritor cita, sem perceber, algo que não é dele e que incorporou como seu.
O plágio tornou-se frequente depois da difusão do livro impresso. Leis para
proteger o trabalho intelectual foram criadas a partir do século XV na Itália:
o arquiteto Filippo Brunelleschi (1377 1446), construtor da cúpula da Catedral
de Florença, a mais alta construída no período, patenteou seu projeto.
Ao tornar a cúpula mais pontiaguda, conseguiu que ela ganhasse mais altura, além
de aumentar sua resistência às forças laterais dos ventos. A Lei dos Direitos
Autorais britânica, promulgada no ano de 1710, foi logo adotada por vários
outros países. Assim a Convenção de Berna (1886), a convenção Universal de
Direitos Autorais (Genebra, 1952), juntamente com a Convenção de Estocolmo,
estabeleceram protocolos de patentes que serviram de base para a criação da
Organização Mundial de Propriedade Intelectual (1967), sendo que a Diretriz de
Bases de Dados da União Europeia, aprovada em 1996, foi ultrapassada pelo
aparecimento da Internet.
Na Roma Antiga,
alguém que roubasse um escravo de outrem era denominado de “plagiarius” e
parece que foi o poeta Marcial quem primeiro aplicou o termo plágio ao
ato de copiar ou imitar obras alheias. Desde a mais remota Antiguidade os
processos ou acusações de plágio estiveram presentes nas praças e tribunais. Já
em Atenas, Eurípides e Platão foram acusados de roubar ideias de outros
filósofos.
As culturas de
Atenas e Roma eram intensamente competitivas, fato que não surpreende, e foram
numerosas as acusações de plágio desde a Época Clássica. Na Idade Média
essas acusações eram raras, porém dizem que São Tomás de Aquino (1225-1274),
italiano, teólogo e religioso cuja doutrina é considerada fundamental para o
pensamento católico, não ficou livre da acusação de ter plagiado as ideias de
Aristóteles (384-322 a.C.), discípulo do Platão.
No Renascimento,
os dramaturgos eram acusados de plágio, não fugindo desta pecha o próprio
William Shakespeare, pois na realidade o “Hamlet” e o enredo de “Romeu e
Julieta” foram baseados em lendas conhecidas.
O mundo da ciência
não está imune a essas acusações. Assim, no final do século XVII os seguidores
do matemático inglês Isaac Newton (1643-1727), afirmaram que Gottfried Wilhelm
Leibniz. (1646-1716), filosofo e matemático alemão plagiara os princípios do
cálculo diferencial enunciados por Newton. No universo das ciências humanas,
passou-se a usar notas de rodapé a partir do século 17, como prova de consulta
a outros pensadores. Muitos escritores não o faziam, fosse por esquecimento ou
má fé. Os impressores (numa tentativa de coibir o plágio) começaram a incluir o
retrato dos autores nos livros, como se conhecer a aparência de uma pessoa
facilitasse ou garantisse a originalidade do que ela havia escrito. O espanhol
Camilo José Cela, Nobel de Literatura de 1989, está sendo investigado
“post-mortem” por um tribunal de Barcelona, sob a acusação de plágio. Se sempre
foi difícil legislar a respeito de plágios, agora com a Internet o problema se
tornou ainda mais complexo.
***
O poeta Fernando
Pessoa ao declamar: Navegar é preciso/Viver não é preciso –seria um
plagiador? Nas bandeiras da
Liga Hanseática estava escrito o seguinte lema em latim:
(‘Navigare necesse est, vivere, non necesse’).
Devo recordar que
a LIGA HANSEÁTICA foi uma confederação mercantil das cidades do norte da
Alemanha. Originou-se de duas antigas confederações das cidades de Colônia e
Lübeck, existentes no século XII. No séc. XIV, os membros dessas ligas passaram
a compreender outras cidades alemãs situadas nas costas dos mares Báltico e do
Norte. A herança mais positiva deixada pela Liga Hanseática foi o sistema de
estatutos reguladores do comércio marítimo. A Liga dominou o comércio de peles
com a Rússia, o comércio de peixe com a Noruega e a Suécia, e o comércio de lã
com Flandres.
Hoje ela seria
classificada com empresa multinacional. Em 1370, o rei dinamarquês tentou
acabar com o poder da aliança, fechando o canal que leva ao Báltico. Uma
esquadra hanseática tomou Copenhague e impôs um rígido tratado de paz à
Dinamarca. No séc. XVI a Liga Hanseática entrou em decadência, acentuada pela
guerra dos Trinta Anos. O contexto empregado por Fernando Pessoa é muito
diverso do lema econômico-guerreiro de uma empresa mercantilista.
***
“A morte de
qualquer homem me amesquinha, porque faço parte da humanidade; por isso, nunca
mandes saber por quem os sinos dobram. Eles dobram por ti “ John Donne
(1573-1631). Foi esse o trecho que Ernest Hemingway utilizou para título do
seu: Por Quem os Sinos Dobram. Seria o prêmio Nobel de
literatura e um dos maiores escritores do século passado um mero plagiador?
A trágica história de Romeu
e Julieta é da autoria de certo Arthur Brooke, que a baseou numa
lenda folclórica sobre um melancólico príncipe da Dinamarca chamado Hamlet. Da
história de um autor italiano sobre um comandante mouro e a mulher, Otelo
o Mouro de Veneza e sua desventurada esposa Desdêmona, que ele
mata injustamente por ciúme, nasceu o Otelo de
Shakespeare. E da crônica de um historiador sobre reis escoceses, entre eles Macbeth,
Shakespeare escreveu o seu, homônimo, com o aproveitamento integral de grandes
partes do texto e até de outra peça.
A verdadeira
história do Rei Lear e suas três filhas é de autoria desconhecida, mas tenho
minhas dúvidas se permaneceriam como lição de vida se não fosse pelo teatrólogo
William Shakespeare. Além de frequentemente se inspirar em Ovídio e Plutarco,
Shakespeare aproveitava tramas e personagens e às vezes trechos inteiros de
outros autores.
Já o livro do
escritor Quentin Reynolds, autor de Guerra no Ar – Cia
Editorial Continental, S. A. México D. F adverte quanto ao perigo da acusação
de plágio.
“(…) alguns de
meus escritos. Fico preocupado com o pensamento de que o que escrevi seja ou
não de minha autoria, ou apenas uma bricolagem. Tomei o pensamento de várias
pessoas. Esta não é uma desculpa, é uma explicação. Agradeço a eles terem me
ensinado tanto”
Portanto, muito
cuidado devemos ter ao acusar alguém de “plagiarius”.
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(artigo veiculado originalmente em: CHUMBO GORDO.COM.BR )
Transcrito neste BLOG com permissão e por solicitação do autor.
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